domingo, 17 de maio de 2009

Sacerdócio e vida por T. Austin-Sparks

O que é um sacerdote? Ele não é um oficial ou um membro de uma casta religiosa, mas um homem que resiste à morte e ministra vida. O objetivo único e mais abrangente de todos os tempos – o grande propósito de Deus de eternidade a eternidade – pode ser descrito na linguagem do Novo Testamento como vida eterna. Assim que o pecado entrou no mundo surgiu a morte e, então, os homens precisaram de um altar e do derramar de sangue a fim de que o pecado pudesse ser coberto pela justiça e a morte ser vencida pela vida divina. Com o altar surgiu ali a atividade pessoal de um homem chamado de sacerdote, e assim, com o passar do tempo, tal serviço cresceu e cresceu até se transformar em um elaborado ministério sacerdotal.
Como um poder ativo, a morte somente podia ser detida, anulada e removida ao ter devidamente confrontada sua base no pecado. Daí a necessidade do ministério sacerdotal de justiça, a justiça perfeita da vida incorruptível expressa pelo sangue da oferta. Israel devia ser uma nação de sacerdotes, um povo baseado e fundamentado na própria justiça de Deus e, por isso, capaz de encarar a morte e derrotá-la. A Igreja foi chamada para exercer este ministério. O próprio Senhor Jesus previu isto ao dizer: “Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” (Mt 21:43). Mais tarde Pedro explicou que os pecadores redimidos se tornaram partici-pantes da vocação espiritual, sendo a “nação escolhida”, o “sacerdócio real”, devendo assumir a grande vocação de serem, da parte de Deus, ministros da vida na terra.
Assim nós descobrimos que, como membros do Corpo de Cristo, nós temos um relacionamento com Ele, o grande Sumo Sacerdote, que é análogo àquele entre Arão e seus filhos, que participavam de seu trabalho sacerdotal. Na carta aos hebreus, a qual trata deste assunto, nós temos uma espécie de Levítico neotestamentário. Nesta epístola, os crentes são denominados tanto de filhos como de “santos irmãos”, como se Cristo nos considerasse Seus filhos – “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu” (Hb 2:13). Por meio de nós, portanto, como membros de Cristo, o grande trabalho sumo sacerdotal no céu deve encontrar expressão aqui na terra. Se nós perguntarmos qual é o significado do contínuo trabalho do Senhor como Sumo Sacerdote, a resposta é: trazer vida sobre a morte, anular a operação e reinado da morte espiritual. O maior conflito da Igreja é com a morte espiritual. Quanto mais espiritual um homem se torna, mais consciente ele está da horrível realidade desta batalha contra o maligno poder da morte.
Nenhum sacerdote ou levita do Antigo Testamento jamais tentou se tornar lírico sobre este assunto ou falar em lingua-gem poética como se a morte fosse algum tipo de amigo. Ah não, eles sabiam ser a morte a grande inimiga de Deus e de todos os Seus interesses. Quando as Escrituras falam da morte como o último inimigo, isto não somente significa que é a última na lista, mas que é o inimigo derradeiro, a expressão completa de toda inimizade.
O efeito do sacerdócio é ilustrado repetidas vezes na Palavra de Deus. Nós observamos a morte adentrando por causa do pecado e, então, Deus intervindo com Sua resposta de vida por meio do sacrifício de sangue. O sangue fala de uma justiça aceita e, por meio disto, o sacerdote estava habilitado a enfrentar a morte, vencê-la e ministrar vida. Finalmente ouvimos falar do Senhor Jesus, que encontrou a morte na concentração de toda sua inimizade, derrotou-a por meio do perfeito sacrifício de sangue da Sua própria vida e, então, deu início à Sua obra sacerdotal de ministrar vida aos crentes.
O sacerdote é um homem que tem autoridade, embora esta seja espiritual e não eclesiástica. Ele tem poder com Deus. O apóstolo João fala do caso de alguém que cometeu um pecado que não leva à morte, e ele diz: “pedirá, e Deus lhe dará vida...” (1Jo 5:16). Esta referência revela que um crente que permanece na base da justiça pela fé por meio do sangue de Jesus pode exercer o poder do sacerdócio em benefício de um irmão que errou e, assim, ministrar vida a ele. Certamente não há ministério mais necessário na terra hoje do que este ministério tão vitalizante. Se nós ministrarmos verdades que não emanam vida, estamos desperdiçando nosso tempo. Deus não nos comissionou para sermos meros transmissores de informação sobre coisas divinas ou professores de moralidade. Ele nos libertou de nossos pecados para que pudéssemos ministrar vida a outros em virtude da autoridade sacerdotal. Vivemos em um mundo onde a morte reina. Diariamente multidões são arrastadas por uma maré de morte espiritual. Por quê? Por causa da injustiça. Precisa-se da atividade daqueles que aceitarão suas responsabilidades sacerdotais, tanto pedindo vida para outros quanto oferecendo vida a eles por meio do evangelho. Nós devemos ministrar Cristo. Não meras doutrinas sobre Ele; não meras palavras ou manda-mentos, mas o impacto vital de Cristo em termos de vida. Assim, todo crente é chamado para se posicionar entre os mortos e os vivos dando a resposta de Cristo para as atividades de Satanás.
Não é de se admirar que o reino de Satanás esteve em guerra com Israel, pois a presença desta nação em um relacionamento correto com Deus proclamava efetivamente que o pecado e a morte não reinam universalmente no mundo de Deus, mas foram enfrentados e superados pelo poder de uma vida justa e incorruptível. No fim, Israel perdeu este testemunho e, por conseqüência, o ministério sacerdotal. A Igreja surgiu, então, para dar continuidade a este ministério, sendo não mais um povo localizado em uma terra, mas uma comunidade espiritual espalhada por toda a terra, um povo cuja vocação suprema é manter a vitória de Deus sobre a morte, conforme o testemunho de Jesus. E qual é o testemunho de Jesus? É o testemunho do triunfo da vida sobre a morte. Ele mesmo assim o descreveu a João: “[Eu sou] aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1:18).
Este testemunho foi depositado na Igreja e imediatamente os discípulos o apresentaram poderosamente entre as nações. Infelizmente, sob vários aspectos, a Igreja agora está falhando em sua vocação sacerdotal. Esse elemento vital da vida vitoriosa parece estar faltando. As cartas no início do livro de Apocalipse mostram que Cristo não estava satisfeito com as muitas boas atividades, trabalhos zelosos, ensinamentos corretos e persistência na ortodoxia das igrejas. Ele tentou chamá-las de volta à sua verdadeira tarefa de demonstrar o poder de Sua vida vitoriosa em face de qualquer desafio. Que ministério nós queremos? Correr de um lado para o outro assistindo conferências, dando palestras, apoiando o trabalho cristão? Tudo isso pode fazer parte, mas é de pequeno valor se não se encaixar no contexto da batalha sacerdotal contra a morte: trazer o impacto poderoso da vida vitoriosa de Cristo para enfrentar o desafio da morte.
O livro de Apocalipse deixa claro que tal testemunho provoca a animosidade de Satanás, mas tal inimizade deveria ser um elogio para nós, pois significa que nossa vida está realmente fazendo diferença para Deus. O dia em que você ou eu não mais estivermos envolvidos na batalha espiritual será um dia ruim, pois significará que perdemos nossa verdadeira vocação e não estamos mais provendo um desafio real para a morte espiritual, mas estamos fracassando no que tange ao ministério sacerdotal. Por outro lado, o antagonismo doloroso das forças do mal pode ser uma prova clara de que nós estamos verdadeiramente servindo como sacerdotes.
Teste todas as coisas pela vida, a vida que é vitoriosa sobre o pecado, a vida que liberta das cadeias, especialmente da cadeia do medo, a vida que se expressa por meio do amor por pecadores necessitados. João não apenas nos encoraja a orar por vida, mas nos assegura que Deus a dará em resposta a tal oração: “e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte”. Nós não devemos fracassar em nosso ministério sacerdotal!

Vencedores por T. Austin-Sparks - (Novembro de 1945)

Veja, o Remanescente e os Vencedores têm como sua função ser a vantagem de Deus num dia de declínio e fracasso espiritual abrangentes, ser postos avançados por meio dos quais Deus possa agir e falar. Este é meu pensamento concretamente expresso; aqui está aquilo que eu estou buscando! Esta é a função dos Vencedores para com Deus. “É isto aí” (Deus está dizendo), “vejam... olhem para Cristo e para os Seus como Eu desejo que eles sejam e vocês terão aquilo que Eu estou buscando, aquilo que está na minha mente!” O Remanescente existe para ser isto: a vantagem de Deus num dia de declínio para serem o exemplo para os outros.
O pensamento de Deus acerca de Sua Igreja é que ela seja reunida dentre as nações. Deve ser vagarosa mas firmemente formada como uma noiva digna de ser oferecida a Seu Filho como um presente, sem manchas nem defeitos ou coisas semelhantes. Deve ser dada a Cristo como Sua noiva para ser para Ele o instrumento – a agência – para ocupar e realizar o Reino vindouro através das eras. Este é o pensamento de Deus acerca da Igreja.
Podemos dizer que isto está sendo realizado de algum modo perceptível? Não, mas Deus se mantém firme a Seu pensamento. Ele busca um grupo íntimo – o qual estamos denominando o Remanescente ou o Grupo dos Vencedores – para permanecer por Ele neste serviço, para ser um elo em Seu povo entre Ele e Seu pensamento completo, e para ser o instrumento para a realização do Seu completo pensamento, para servi-lo, para ver Sua face. O que significa isto? É para ser para Seu Filho o meio de preenchimento do Reino e da realização do Reino nos dias que virão. Isto é um serviço tremendo! É para isto que os Vencedores são chamados.
Se você deseja estar na obra do Senhor, se você deseja ser um servo do Senhor, isto não é privilégio de uma classe especial chamada ministros e missionários. É para toda a congregação, para cada um que vence. “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono” (Apocalipse 3:21); “...dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida” (Apocalipse 2:7). Estas são figuras simbólicas daquele completo pensamento de Deus acerca de Sua Igreja, reunida e expressa primeiramente nos Vencedores.

O QUERER DE CRISTO

Mateus 8:1-4, Marcos 1:40-46, Lucas 5:12-16.
Nesta passagem se descreve a forma em que o Senhor curou um homem leproso. Este homem provavelmente se apresentou de improviso, já que os leprosos eram fortemente discriminados naquela época, porque a enfermidade era associada com o pecado. Com o avanço da medicina sabe-se que a lepra é causada por um agente etiológico específico que pode ser tratado na forma medicamentosa.
Este leproso se apresentou diante do Senhor fazendo uma afirmação: "Se quiseres, podes me limpar", o qual é claramente um indicador de fé. Ele não questionou o poder curador do Senhor, mas apelou para a vontade de Jesus. Em outras palavras, o leproso disse o seguinte: "Você tem o poder de me curar; só precisa querê-lo". Talvez tivesse sido diferente se a pergunta fosse: "Poderia me limpar?".
Outro aspecto importante é o que se refere à atitude do leproso diante do Senhor e sua humilhação. Os três evangelhos o citam. Lucas inclusive diz "prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe". Ao ver isto, e conhecendo a fé do leproso, o Senhor "tocou-o", conforme relatam Mateus, Marcos e Lucas. O que significa isto? Que o Senhor não sentiu asco da miséria, do mau cheiro, da inferioridade social e do aspecto físico do leproso. Em sua grande misericórdia, o Senhor Jesus não discriminou este homem.
Marcos diz: "E Jesus, tendo misericórdia dele". Então se conjugaram humilhação, fé e misericórdia. Só nesse momento veio a resposta do Senhor: "Quero, sê limpo". Marcos diz: "E assim que falou, imediatamente a lepra se foi dele, e ficou limpo" (v. 42)
Na atualidade a lepra não existe como na antigüidade, em que era uma epidemia culpada da morte de milhões ao redor do mundo. No entanto, existe de outra forma, como uma alegoria do pecado, que afeta toda a humanidade. Biblicamente, a lepra foi associada ao pecado, portanto é possível entender o pecado como a lepra do ser humano.
Tal como os leprosos eram segregados, o pecado fez separação entre o homem e o nosso Pai. Mas bendito seja o nosso Senhor que ao ver-nos doentes, pecadores e destituídos da glória de Deus, amou-nos e deu a sua vida para limpar os nossos pecados.
Devemos notar a expressão do leproso: "Se quiseres, podes me limpar". Ele não pediu cura, mas limpeza. O que ocorrerá então com os atuais leprosos? Sabemos que a resposta do Senhor foi: "Quero, sê limpo". Podemos deduzir que o Senhor quer limpar os leprosos de hoje.
Mas devemos ter em conta que a limpeza ou cura deste leproso e a limpeza dos nossos pecados tiveram preços muito diferentes. Para o Senhor curar o leproso só lhe bastou querer. No entanto, o custo de limpar os pecados de toda a humanidade foi a própria vida do nosso Senhor. Bendito seja nosso precioso Senhor Jesus Cristo!

Fonte: www.aguasvivas.ws
Mateus 8:1-4, Marcos 1:40-46, Lucas 5:12-16.
Nesta passagem se descreve a forma em que o Senhor curou um homem leproso. Este homem provavelmente se apresentou de improviso, já que os leprosos eram fortemente discriminados naquela época, porque a enfermidade era associada com o pecado. Com o avanço da medicina sabe-se que a lepra é causada por um agente etiológico específico que pode ser tratado na forma medicamentosa.
Este leproso se apresentou diante do Senhor fazendo uma afirmação: "Se quiseres, podes me limpar", o qual é claramente um indicador de fé. Ele não questionou o poder curador do Senhor, mas apelou para a vontade de Jesus. Em outras palavras, o leproso disse o seguinte: "Você tem o poder de me curar; só precisa querê-lo". Talvez tivesse sido diferente se a pergunta fosse: "Poderia me limpar?".
Outro aspecto importante é o que se refere à atitude do leproso diante do Senhor e sua humilhação. Os três evangelhos o citam. Lucas inclusive diz "prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe". Ao ver isto, e conhecendo a fé do leproso, o Senhor "tocou-o", conforme relatam Mateus, Marcos e Lucas. O que significa isto? Que o Senhor não sentiu asco da miséria, do mau cheiro, da inferioridade social e do aspecto físico do leproso. Em sua grande misericórdia, o Senhor Jesus não discriminou este homem.
Marcos diz: "E Jesus, tendo misericórdia dele". Então se conjugaram humilhação, fé e misericórdia. Só nesse momento veio a resposta do Senhor: "Quero, sê limpo". Marcos diz: "E assim que falou, imediatamente a lepra se foi dele, e ficou limpo" (v. 42)
Na atualidade a lepra não existe como na antigüidade, em que era uma epidemia culpada da morte de milhões ao redor do mundo. No entanto, existe de outra forma, como uma alegoria do pecado, que afeta toda a humanidade. Biblicamente, a lepra foi associada ao pecado, portanto é possível entender o pecado como a lepra do ser humano.
Tal como os leprosos eram segregados, o pecado fez separação entre o homem e o nosso Pai. Mas bendito seja o nosso Senhor que ao ver-nos doentes, pecadores e destituídos da glória de Deus, amou-nos e deu a sua vida para limpar os nossos pecados.
Devemos notar a expressão do leproso: "Se quiseres, podes me limpar". Ele não pediu cura, mas limpeza. O que ocorrerá então com os atuais leprosos? Sabemos que a resposta do Senhor foi: "Quero, sê limpo". Podemos deduzir que o Senhor quer limpar os leprosos de hoje.
Mas devemos ter em conta que a limpeza ou cura deste leproso e a limpeza dos nossos pecados tiveram preços muito diferentes. Para o Senhor curar o leproso só lhe bastou querer. No entanto, o custo de limpar os pecados de toda a humanidade foi a própria vida do nosso Senhor. Bendito seja nosso precioso Senhor Jesus Cristo!

Fonte: www.aguasvivas.ws

sábado, 16 de maio de 2009

Testemunha de Cristo em tempos de guerra

Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo protestante alemão, é uma das figuras mais brilhantes e sugestivas da recente historia da Igreja.
Como teólogo, as idéias de Bonhoeffer sobre um «cristianismo laico», e sua ética denominada «situacional», que foram reforçadas por seu próprio martírio, exerceram uma considerável influencia sobre o pensamento protestante do pós-guerra na Grã-Bretanha e América.
Muitas facções denominacionais e diversos grupos o reclamam como o seu porta-voz, mas é a sua vida notável e a sua autoria de difíceis obras devocionais e acadêmicas que lhe deram um lugar na história da igreja do século vinte.
De índole pacífica, formou parte da resistência contra o terror nacional-socialista alemão, primeiro comprometendo-se no seio da Igreja Confessional –que ajudou a fundar– e, mais tarde, colaborando com os conspiradores em torno do almirante Canaris contra Adolf Hitler.
Bonhoeffer foi detido em março de 1943, preso, e enforcado pouco antes do fim da guerra.

Família e juventude
Bonhoeffer nasceu em Breslau, Silesia (hoje parte da Polônia), em 4 de fevereiro de 1906, em uma época em que tudo parecia sorrir, porque ainda não se manifestavam os graves problemas sociais que estavam sendo gerados no oculto.
A família em que se formou o jovem Bonhoeffer, pertence à elite cultural do Império alemão. Dietrich é o sexto de oito irmãos. O seu pai, Karl Bonhoeffer, era um psiquiatra proeminente em Berlim. A sua mãe, Paula, descendia de uma família de nobres, os von Hase; era uma das poucas mulheres da época que ostentava título universitário. O seu avô materno era catedrático de teologia, além de exercer às vezes de pregador da corte do imperador Guillermo II. A família de sua avó se destacava por seus dotes musicais e artísticos. (De fato, a sua avó materna, talentosa pianista, tinha sido discípula de Franz Liszt).
Paula, professora de profissão, cuidou da educação primária de seus filhos, até que iniciaram os seus estudos de bacharelado. É uma família em que impera a tolerância – embora tenha procurado manter a estrutura patriarcal. Aos seus filhos lhes conscientizava o sentido de responsabilidade e de auto-disciplina, ao mesmo tempo um sentimento solidário e uma mente aberta.
Em 1912, a família Bonhoeffer se muda para Berlim. O pai se encarregou da cadeira mais importante da Psiquiatria e Neurologia da Alemanha e, também, da gestão da ‘Charité’, famosa clínica universitária de neurologia da Coroa prussiana. A partir de 1916, a família vive no elegante bairro de Grunewald, onde residem muitos catedráticos e intelectuais. Ali vivem, entre outros, o teólogo liberal Adolf von Harnack, e que mais tarde seria designado prêmio Nobel de Física, Max Planck.
Para os Bonhoeffer, a primeira guerra mundial deixa um rastro fatal. O filho mais velho, Walter, morre, depois de sofrer ferimentos graves, no último ano da guerra.
Dietrich começa seus estudos universitários em 1923, recém cumpridos os 17 anos, coincidindo com o ponto culminante da profunda crise econômica na Alemanha depois da guerra. A sua decisão de estudar teologia surpreende à família, sendo que eram indiferentes em matéria religiosa. Embora na família houvesse teólogos, a maioria dos Bonhoeffer se inclinava por carreiras dentro das Ciências Naturais e do Direito.
O seu irmão mais velho (próximo de ser um físico destacado) tentou dissuadi-lo de sua decisão, alegando que a igreja era fraca, tola, inaplicável e indigna do compromisso para o resto da vida de um homem jovem. «Se a igreja for realmente como você diz», respondeu o jovem sobriamente, «então terei que reformá-la».
Dietrich iniciou seus estudos de teologia na universidade de Tuebingen e terminou em Berlim. Os professores Adolf Schlatter e Adolf von Harnack são os que mais influencia exerceram no jovem estudante. Ao teólogo reformista Karl Barth não chegou a conhecê-lo, somente um pouco mais adiante.
Na Universidade de Berlim, recebeu o seu doutorado em teologia com honras na idade de 21 anos. A sua dissertação doutoral expôs o seu brilhantismo em uma ampla frente, e o introduziu entre os eruditos internacionalmente conhecidos. Já durante uma estadia anterior em Roma, Bonhoeffer tomou conhecimento do que iria ser o tema principal do seu pensamento teológico: a Igreja. Uma descoberta que pela primeira vez se manifestará literariamente em sua tese doutoral «Sanctorum Communio – uma investigação dogmática a respeito da sociologia da Igreja». «Cristo existe na comunidade» é o leitmotiv deste precoce trabalho.
É assombroso que um jovem estudante de 21 anos escreva uma reflexão dogmática sobre a sociologia da Igreja à partir de Cristo. Refletir à partir de Cristo sobre o que a Igreja deveria ser, parecia incongruente. Para Bonhoeffer, a Igreja, muito mais que uma instituição, é Cristo que existe sob a forma de Igreja. Cristo não está um pouco presente através da Igreja, não; existe hoje para nós sob a forma de Igreja. Ele é quem assume a nossa sorte, que tem tomado o nosso lugar.
Depois de terminar os seus estudos, Bonhoeffer, em 1929, vai por um ano a Barcelona. Ali, como vigário de uma paróquia de língua alemã no estrangeiro, conheceria mais de perto a vida de igreja.
Como em 1930 tinha menos de 25 anos, os regulamentos da igreja alemã o impediam de ser ordenado. Isto lhe deu oportunidade de passar um ano fazendo uma pós-graduação no Union Theological Seminary de Nova Iorque.
Da mesma forma que alguns anos antes em Roma, o encontro com um mundo e uma igreja diferentes o marcarão para o futuro. Dietrich ficou impressionado com Nova Iorque, devido à crise econômica que a afeta.
No Union Theological Seminary há alunos de distintas crenças, procedentes de diversos países. Ele ficou consternado com a frivolidade com a qual os estudantes americanos se aproximavam da teologia. Incapaz de permanecer em silêncio a respeito, ele informou aos futuros pastores: «Neste seminário liberal os estudantes riem com desprezo dos fundamentalistas na América, quando todos os fundamentalistas sabem muito mais da verdade e da graça, da misericórdia e do juízo de Deus».
Perto do Seminário estava Harlem. Dietrich Bonhoeffer se integrou da situação da população negra nos ghettos através dos seus amigos, especialmente através do seu companheiro negro Frank Fisher. Também conheceu as igrejas em tendas nos subúrbios da cidade.
Dietrich Bonhoeffer teve também uma grande amizade com outro de seus companheiros: O pastor francês Jean Lasserre, que era pacifista. Apóia esta sua atitude no Sermão do Monte, na bem-aventurança de todos aqueles que seguem a paz e na exigência do amor para o inimigo. À medida que chegou a impressionar estas idéias do seu amigo, pode-se ver no rumo que tomou a vida de Bonhoeffer. Uns anos depois, em uma carta que escreve ao seu irmão mais velho Karl Friedrich, reconhece que o encontro com este amigo é o que lhe revelou a verdadeira essência de ser cristão.

Bonhoeffer, o valente opositor
De volta para Berlim, Bonhoeffer se vê confrontado também na Alemanha com graves problemas sociais, de dimensões desconhecidas até então. Nessas circunstâncias, o partido dirigido por Adolf Hitler, a NSDAP, ganha muitos adeptos. Sob a direção de Joseph Goebbels, o nazismo consegue converter-se em um movimento de massas, que alcança todas as classes sociais.
Já antes de sua estadia em Nova Iorque, Bonhoeffer, com seu trabalho filosófico-religioso «Ação e Ser», tinha obtido a cadeira na especialidade de Teologia Sistemática na Universidade Friedrich-Wilhelm de Berlim. Era o docente não numerário mais jovem da Universidade. As suas classes e seminários destacavam por um enfoque pouco convencional nas questões de fé cristã. Uma série de reuniões e excursões organizadas fora do âmbito universitário contribuíram para a criação de um círculo de estudantes em torno de Bonhoeffer, a partir do qual se formaria um grupo de estreitos colaboradores nos enfrentamentos internos da Igreja depois de 1933.
Além disso, exerce o pastorado para os estudantes da Escola Técnica Superior de Charlottenburg. É então quando recebe o encargo da autoridade eclesiástica de preparar, em um bairro de trabalhadores, um grupo de adolescentes «indisciplinados» para a confirmação. A «nova paróquia» de Bonhoeffer na Igreja de Sião rompe com a barreira social da igreja burguesa. Bonhoeffer aluga uma casa em Alexanderplatz para poder viver perto dos seus tutelados. Depois de celebrar a confirmação, os leva para a residência de verão dos seus pais.
Ao mesmo tempo, desenvolve com seus amigos e estudantes o projeto de um centro juvenil para jovens desempregados por sugestão da Associação de Trabalho Social. O projeto não se concretizou por causa da ascensão ao poder dos nacional-socialistas: Uma de suas colaboradoras, Anneliese Schnurmann, era judia.
Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler é nomeado chanceler do Reich alemão. Dois dias depois, Hitler pronuncia o seu primeiro discurso radiofônico ao povo alemão. Coincide que esse mesmo dia também está programado uma conferência de Bonhoeffer na rádio. O seu tema era «O Führer e a individualidade na geração jovem». Bonhoeffer não pode terminar sua conferência radial; a emissão é interrompida pela direção. Pouco depois se desencadeia a repressão nazista.
No mês de julho, o Estado chega a um acordo com a Igreja Católica, e em seguida, com a ajuda dos «Cristãos alemães», um agrupamento vinculado a NSDAP, tenta assimilar a Igreja Protestante. Procura-se unificar as diferentes igrejas regionais, até então independentes, em uma Igreja centralizada do Reich. Logo o controle seria total.
A igreja na Alemanha lutava por sua vida. E surgem dilemas como o seguinte: A igreja vivia só para o evangelho, ou devia render-se ao estado para reforçar a ideologia do estado? Um velho professor de teologia que se conformou à ideologia nazista para não perder o seu trabalho comentou: «É uma grande lástima que a nossa melhor esperança na faculdade esteja se perdendo na luta da igreja». Enquanto a luta se intensificava, os sermões de Bonhoeffer chegaram a ser os mais consoladores, os mais seguros da vitória de Deus, e os mais desafiantes.

Surge a Igreja Confessional
Como conseqüência do intervencionismo estatal no seio da Igreja surge a oposição, em que Bonhoeffer também participa. A partir desta oposição se forma a Igreja Confessional. Os seus representantes mais significativos são, além de Bonhoeffer, Karl Barth e Martin Niemöller. Barth é o autor da Declaração de Barmen, que sustenta que a união da fé e da Igreja está sujeita somente a Jesus Cristo tal como nos dá a conhecer as Santas Escrituras.
Esta igreja é chamada «confessional» porque confessava que podia haver só um führer ou líder para os cristãos, e este não era Hitler, mas Cristo. Enquanto isso, os bispos luteranos permaneciam silenciosos na esperança de preservar a unidade institucional, e a maioria dos pastores temerosos opinavam que não era necessário jogar para serem heróis confessionais. Frente a tal covardia ministerial, Bonhoeffer advertiu os seus colegas que não deviam tentar converter Hitler, mas tinham que assegurar-se de eles mesmos serem convertidos. Nas reuniões gerais, a Alemanha seguiu sendo representada tanto pela Igreja Confessional como pela Igreja do Reich, e os luteranos, que se mantêm neutros.
Mais tarde, um bispo anglicano que conheceu na Inglaterra, escreveu de Bonhoeffer: «Ele era claro como o cristal em suas convicções; e como ele era jovem, e como ele era humilde de coração, ele viu a verdade e a declarou com total ausência de temor». O próprio Bonhoeffer escreveu a um amigo acerca deste tempo: «Cristo está olhando para baixo, para nós, e está perguntando se ainda há alguma pessoa que o confesse».
Bonhoeffer ajudou a Martin Niemöller a organizar «Pfarrernotbund», uma federação para o apoio dos pastores afetados pela repressão das autoridades eclesiásticas cristão-alemãs, inclusive pela ‘lei ariana’.
Em agosto de 1934 acontece na ilha dinamarquesa de Fanö uma Conferência de Jovens pela Unidade. Em um dos discursos ali, Bonhoeffer diz: «Como se faz a paz? Quem pode proclamar a paz de forma que todo mundo ouça, que todo mundo se sinta obrigado a ouvi-la? Só um, o grande Concílio mundial da Santa igreja de Cristo pode dizer tão alto que o mundo se sinta obrigado a ouvir a mensagem de paz, e que os povos se alegrem de que esta igreja de Cristo tire em nome de Cristo as armas das mãos dos seus filhos, e os proíba de guerrear e proclame a paz de Cristo neste mundo enfurecido».
Por causa da sua estadia em Nova Iorque, para Bonhoeffer a unidade se converte no principal objetivo do seu interesse eclesiástico e teológico. Os esforços das igrejas cristãs por unificar a fé e a prática, estão para ele muito relacionados desde o começo com os esforços por manter a paz, agora ameaçada. Como Secretário da «Liga Internacional de Cooperação Amistosa das Igrejas» colabora na organização de uma série de conferências relacionadas com os esforços pela paz por parte dos cristãos.
Entre 1933 e 1935, foi pastor de duas igrejas de língua alemã em Londres: St. Paul e Sydenham. Tinha aceitado este cargo no estrangeiro, porque estava decepcionado pela quase total passividade inicial da oposição interna da Igreja. Em Londres, ele se encontra freqüentemente com George Bell, o bispo de Chichester; se tornaram muito amigos.

Seminário de pregadores
A partir de abril de 1935, Dietrich Bonhoeffer dirige, por ordem da Igreja Confessional, o seminário de pregadores em Finkenwalde, perto de Stettin, Pomerania, em que prepara os jovens como pastores protestantes. Era uma espécie de monastério protestante, e foi responsável por muitas de suas considerações a respeito da vida cristã no que se refere à comunhão.
No final desse mesmo ano são declaradas ilegais todas as escolas e seminários de pregadores da Igreja Confessional. Por outro lado, nenhuma das faculdades universitárias de teologia tinha feito acordo com este Seminário. Bonhoeffer comentou concisamente: «Faz tempo que deixei de crer nas universidades».
Bonhoeffer oferece duas opções aos jovens estudantes – ficar ou partir. A maioria deles fica. É tempo de grandes decisões. Em sua obra Nachfolge comentará o sentimento de todos nesse momento: «Os vínculos são destruídos e simplesmente caminhamos para frente. Fomos escolhidos e devemos ‘abandonar’ a existência que tínhamos até agora... O velho fica para trás, entrega-se de tudo... O chamamento à sucessão então significa a vinculação unicamente à figura de Jesus Cristo e a transgressão de toda legalidade pela graça daquele que chama».
O círculo se segue fechando sobre a Igreja Confessional; a oposição se faz muito fustigante e alguns claudicam. Não obstante, Bonhoeffer e outros, continuam firmes. Ele é considerado «a cabeça pensante» desta minoria, que acaba convertendo-se em uma ‘contra-igreja’ ilegal. O governo atuará contra eles com todo tipo de represálias, no princípio ainda moderadamente, já que em 1936 os Jogos Olímpicos seriam em Berlim, e lhes convinha ter uma boa imagem por parte da opinião pública internacional.
Em Finkenwalde cuidava não somente em transmitir conhecimentos teológicos, mas também de experimentar um novo estilo de vida, pois nenhum deles poderia contar com um trabalho remunerado na igreja oficial. O seminário se converte em um lugar de autoconhecimento assim como em um experimento de intensa convivência: ofícios matutinos e vespertinos, momentos para meditação e o silêncio, debates teológicos, mas também atividades culturais e esportivas comuns. Os livros mais conhecidos de Bonhoeffer datam da época de Finkenwalde: «O custo do discipulado» (um comentário do Sermão do Monte) e «Vida em comunhão». Quanto ensino e bênção surgiram desta verdadeira escola de obreiros!
O título em alemão do custo do discipulado é Nachfolge, ‘seguir’. Esta palavra diz o conteúdo do livro. Nele se exige uma vida radical para o cristão que quer ser um autêntico discípulo de Cristo. Para Bonhoeffer, seguir quer dizer reconhecer que se Jesus for verdadeiramente o que disse de si mesmo, ele tem direito a tudo em nossa vida. Nenhuma relação humana pode prevalecer contra ele. Bonhoeffer cita as palavras de Cristo chamando a deixar os seus pais, a família, e todos os seus bens.
Uma das maiores preocupações de Bonhoeffer neste livro é «a graça barata». Esta é uma graça que foi tão diluída que já não se assemelha à graça do Novo Testamento, a graça custosa dos Evangelhos.
Com a expressão graça barata, ele se refere à graça que trouxe caos e destruição; é o assentimento intelectual a uma doutrina sem uma verdadeira transformação na vida do pecador. É a justificação do pecador sem as obras que devem acompanhar o novo nascimento. «É a pregação do perdão sem requerer arrependimento, o batismo sem a disciplina da igreja, a comunhão sem a confissão, a absolvição sem a confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado».
A verdadeira graça, segundo Bonhoeffer, é uma graça que custará a vida para um homem. É a graça que se torna custosa pela vida de Cristo, que foi sacrificada para comprar a redenção do homem. A graça barata surgiu do desejo do homem de ser salvo, mas sem converter-se em discípulo. O sistema doutrinário da igreja, com suas listas de códigos de comportamento, convertem-se em um substituto para o Cristo vivo, e isto barateia o significado do discipulado. O verdadeiro crente deve resistir à graça barata e ingressar na vida de discipulado ativo. A fé já não pode significar ficar quieto e esperar; o cristão deve levantar-se e seguir a Cristo.
É aqui onde Bonhoeffer faz uma de suas reclamações mais perduráveis sobre a vida do verdadeiro cristão. Escreve que «só o que crê é obediente, e só o que é obediente crê». Os homens se tornaram brandos e complacentes na graça barata e, portanto, estão isolados da graça mais custosa da abnegação e da humilhação pessoal. Bonhoeffer cria que o ensino da graça barata provocava a ruína de mais cristãos do que qualquer mandamento para realizar obras.

A causa judia
A Gestapo fecha Finkenwalde em agosto de 1937 e prende a 27 ex-alunos. No entanto, a formação clandestina de pregadores continua durante um tempo em diversos lugares alternativos. Bonhoeffer insistia não só na liberdade de pregar o Evangelho; também estava preparado para arriscar a sua vida como um cristão que resistia a Hitler e que ajudava os judeus a evitar a sua captura. Como conseqüência deste último, em 5 de agosto de 1936 lhe retiraram a autorização para ensinar na Universidade de Berlim.
Já desde o começo, os nazistas deixam muito claro que a luta contra os judeus e o judaísmo seria o ponto central do seu programa. Em 1 de abril de 1933 se inicia o boicote contra as lojas judias. Em setembro de 1935, as «leis raciais de Nuremberg» declaram os judeus cidadãos sem direitos. O rótulo «Abstenham-se judeus» se encontra em cinemas e piscinas, restaurantes e universidades. Estão proibidos os ‘matrimônios mistos’, e proscritas as relações amorosas entre ‘arianos’ e judeus.
Em 9 de novembro de 1938 são devastadas as sinagogas, as lojas e os domicílios dos judeus. O pogrom, que os nacional-socialistas denominam eufemisticamente «a noite dos cristais quebrados», significa o começo de uma avalanche de perseguições; milhões de judeus, conforme o decreto da solução final da ‘questão judia’, acabarão nos campos de extermínio.
No Terceiro Reich, poucos cristãos elevam a sua voz contra a discriminação e a perseguição contínuas dos judeus. Bonhoeffer é um deles. Retrospectivamente reconhece nisso o grande fracasso da Igreja, que só se comprometeu com ‘a questão judia’ na medida em que esta afetava os seus próprios assuntos. Bonhoeffer sustentava que «uma igreja é uma igreja, quando existe para os que não pertencem a ela», e proclamou a sua «obrigação incondicional para com as vítimas de todo sistema social, inclusive se não pertencerem à comunidade cristã».
Em abril de 1933, em uma conferência de pastores berlinenses, Bonhoeffer insistiu em que a resistência política era imprescindível, como reação à privação de direitos que sofriam os judeus. A discriminação dos ‘não-arianos’ também afeta à família Bonhoeffer: Gerhard Leibholz, catedrático de Direito Público em Gotinga e marido da irmã gêmea de Dietrich, Sabine, é um dos proscritos. Acaba emigrando com a sua família para Londres, da mesma forma que o pastor Franz Hildebrandt, amigo de confiança de Bonhoeffer desde seu período universitário. Já em 1933/34, durante a sua estadia como pastor em Londres, Bonhoeffer chegou a conhecer o destino de muitos destes emigrantes judeus alemães.

A tensão aumenta
Em 1 de setembro de 1939 Hitler ataca a Polônia. Esse mesmo ano, Bonhoeffer é chamado às filas. A situação cada vez mais crítica da Igreja Confessional agora enfrenta uma situação completamente diferente. Pensa em emigrar. Alguns dos seus amigos em Nova Iorque pedem para ele ministrar classes no Union Theological Seminary. Assim consegue uma prorrogação e viaja para os Estados Unidos.
Depois de uma dura luta interior, cinco semanas depois, Bonhoeffer, diante da ameaça de guerra, decide voltar para a Alemanha. Ele cria que era necessário sofrer com o seu povo se quisesse ser um ministro efetivo depois da guerra. Voltava, além disso, com o propósito de apoiar à resistência. Quer colaborar, obstruindo «a roda da maquinaria opressora e mortal».
Os contatos e atividades de Bonhoeffer o converteram em um dos principais suspeitos para a polícia secreta e os serviços de segurança do Reich. Logo depois de fechar o Seminário pela segunda vez em 1940, a Gestapo proibiu ele de falar, pregar ou publicar os seus escritos.
Então Bonhoeffer experimenta uma nova frente de ação. Da mesma forma que muitos dos seus familiares, ele estava convencido de que a resistência só podia ter êxito se conseguisse ganhar para a sua causa alguém do alto mando do exército. Por mediação de seu cunhado Hans von Dohnanyi, incorpora-se como colaborador civil à equipe do almirante Canaris no departamento de «Países Extrangeiros/Defesa» do Alto Mando da Wehrmacht (o exército do Terceiro Reich). Oficialmente se ocupa de encargos militares, mas na realidade conspira contra o regime.
Nesta condição, Bonhoeffer realiza várias viagens a Genebra, Suécia, Noruega e Roma, para sondar as possibilidades e condições de paz com os Aliados. Deste modo participa dos preparativos do «Projeto 7», que se ocupará de tirar do país os judeus em perigo. O seu escritório se encontrava em Munique, e durante as suas estadias ‘oficiais’ ali, tinha o costume de retirar-se ao monastério de Ettal, onde redige várias partes de sua «Ética», no inverno de 1940/41.
Durante a sua estadia na Suécia, em maio de 1942, Bonhoeffer contata com o Escritório Estrangeiro Britânico. Leva propostas concretas do círculo de resistência liderado pelo general Hans Oster e pelo general Ludwig Beck. A proposta é recusada.
Bonhoeffer mantém estreitos contatos com Carl F. Goerdeler e outros opositores alemães. Inicialmente tinham idealizado a detenção e ajuizamento de Hitler, planos que não se puderam levar a cabo. Os triunfos militares dos primeiros anos da guerra não tornaram possível um golpe de estado. Precisamente, devido à lealdade inquebrável de grande parte da população e do exército para com Hitler, surge o plano de lhe matar, com a intenção de desarticular assim o poderoso aparato estatal. No entanto, todos os atentados contra Hitler fracassam.
É neste ponto onde, para muitos, a ética de Bonhoeffer se tornou polêmica, e pelo qual ele chegou a ser um dos teólogos mais controversiais. Mas seja qual for o julgamento que tenhamos do assunto (da nossa cômoda posição à distância), o certo é que, no meio do fragor dos acontecimentos, Bonhoeffer tomou uma posição, e "entrou totalmente na tempestade da vida".

Na prisão militar de Tegel
Em abril de 1943, depois de dois atentados frustrados, nos que estava envolvido o grupo de Canaris, Bonhoeffer é detido na casa dos seus pais em Berlim, e encerrado na prisão militar de Tegel. Ao mesmo tempo, a Gestapo detém a sua irmã Christine e seu cunhado, Hans von Dohnanyi.
Nos primeiros dias, a impotência, a solidão e o medo da tortura lhe mortificam. Houve planos para ajudá-lo a escapar, mas ele voltou atrás a fim de que sua família não sofresse represálias. Junto a von Dohnanyi e ao Dr. Müller, outro dos colaboradores do Departamento de Defesa em Munich, Bonhoeffer é processado por alta traição.
No entanto, as investigações levadas a cabo pelo Tribunal de Guerra não encontraram nenhum fato que justificasse tal acusação. A família e os amigos de Bonhoeffer se esforçaram em tecer uma rede de camuflagem, que se manteria intacta até 20 de julho de 1944.
Bonhoeffer sabia que é no lugar onde estamos, pela providência de Deus, onde devemos exercitar o ministério que Deus nos deu. O seu ministério daí em diante na prisão foi uma articulação e uma encarnação do evangelho – consolo para os seus companheiros que aguardavam a morte. Payne Best, um capitão inglês, sobreviveu para render tributo ao pastor do campo de prisioneiros: «Bonhoeffer era diferente, muito tranqüilo e normal. A sua alma realmente brilhava no escuro desespero da nossa prisão. Ele era um dos escassos homens que encontrei alguma vez para quem Deus é real e sempre está perto». Bonhoeffer orava assim no cárcere: «Deus, reúne os meus pensamentos para ti. Junto a ti está a luz, tu não esqueces de mim. Junto a ti, o auxílio; junto a ti, a paciência. Não compreendo os seus caminhos, mas tu conheces o caminho para mim».
As cartas e notas escritas por ele naqueles anos se conservam em sua maioria. Em parte haviam sido retiradas escondidas da prisão, com ajuda de guardas de confiança. Eberhard Bethge, amigo e discípulo de Bonhoeffer nos dias de Finkenwalde, publicou mais tarde muitos destes escritos em um volume intitulado «Resistência e submissão».
Nas cartas dirigidas ao próprio Bethge há esboços de uma teologia totalmente nova. Bonhoeffer fala de ser cristão em um mundo ateu e indiferente, e de uma igreja que só será igreja quando solidarizar com todos os homens. A igreja é sempre Cristo sob a forma de comunidade, escondido entre os seres humanos, existindo «para outros».
Em um mundo onde percebe que Deus já não é reconhecido, ele levanta a seguinte pergunta: Como falar do cristianismo à margem de toda linguagem religiosa? Como falar de Deus sem religião? Como falaremos de Cristo hoje?
Em sua carta de 5 de maio de 1944 esboça uma resposta: tem que falar de Deus «na mundanidade» (weltlich: na realidade deste mundo), tal como o Antigo Testamento fala de Deus, ou seja, na finitude e nas paixões humanas, no limite e na realidade das coisas, como o que faz que o mundo seja mundo, enquanto que o ‘a priori’ metafísico impõe ao mundo falar de Deus como fosse além dos limites». E acrescenta: «Neste momento, a minha reflexão se centra em como poder renovar ‘laicamente’ –no sentido do Antigo Testamento e de João 1:14– a interpretação de conceitos como arrependimento, fé, justificação, novo nascimento, santificação».
Segundo Bonhoeffer, a dependência da religião organizada tinha minado a fé autêntica. Solicitava um novo cristianismo sem religião, livre do individualismo e o sobrenaturalismo metafísico. Deus, argumentava ele, deve ser conhecido neste mundo enquanto opera e interage com o homem na vida cotidiana. O Deus abstrato da especulação filosófica e teológica é inútil para o homem pro médio da rua, e este forma parte da maioria dos que precisam escutar o evangelho.
Durante a sua prisão, Bonhoeffer encontra pessoas que, sem invocar a Deus, permanecem profundamente humanas até o fim. É neste contexto que ele prolonga o seu questionamento teológico: «Como pode Cristo chegar a ser também Senhor dos não-religiosos?».
Bonhoeffer recorda que o cristianismo não é uma religião, e para demonstrá-lo menciona três argumentos: A religião, diz, aponta para um ‘mais além do mundo’ para fugir da realidade deste mundo, apoiando-se sobre o pressuposto da interioridade ou «alma», conduz ao individualismo e a auto-satisfação pelas próprias obras, e porque se reserva um âmbito separado do profano: o sagrado. Por isso, «o cristão não é um homo religiosus, mas simplesmente um homem, como Jesus era um homem por contraposição a João Batista». «Veio João Batista, que nem comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Está endemoniado. Veio o Filho do homem que come e bebe, e dizeis: Olhai que comilão e beberão, amigo de publicanos e pecadores» (Luc. 7:33-34), ou seja, dos «não-religiosos».
Para Bonhoeffer, Cristo não é um homem do sagrado, mas um homo humanus: um humano que vive o humano com cada ser humano, revelando assim a profundidade de graça no próprio interior do humano. Para ele, se Deus tiver assumido plenamente a nossa humanidade em seu Filho, é bom para o homem ser homem, chegar a sê-lo e seguir sendo-o, para ser, seguindo as pisadas de Cristo, um homem com e para outros.
O cristianismo não está reservado para uma elite piedosa que cresce ao lado do sagrado, senão o cristão segue a Cristo convertendo-se radicalmente em homem, e não com as práticas religiosas. Neste sentido, «Cristo pode chegar a ser também Senhor dos não-religiosos».
Na mesma carta escreve: «Sigo aprendendo que é vivendo plenamente a vida terrestre que alguém chega a crer. Quando se renuncia completamente para chegar a ser alguém –um santo, um pecador convertido ou um homem de Igreja– (...), a fim de viver na multidão de tarefas, de questões (...), de experiências e de perplexidades(...), então este se põe totalmente nas mãos de Deus, toma a sério, não seus próprios sofrimentos, mas os de Deus no mundo, onde vigia com Cristo no Getsemani (...); é assim que alguém chega a ser um ser humano, um cristão».
As esperanças que Bonhoeffer, sua família e seus amigos, tinham em um golpe de estado na Alemanha, se acabariam em 20 de julho de 1944. Schenk von Stauffenberg e doze conspiradores mais são fuzilados naquela mesma tarde, e o general von Beck se obriga a suicidar-se. Outros colaboradores são condenados pelo Tribunal do Povo de Roland Freisler, e executados em Plötzensee. Entre eles se encontra também o comandante da cidade de Berlim, Paul von Hase, tio de Bonhoeffer. Seu irmão Klaus Bonhoeffer e seu cunhado Rüdiger Schleicher são detidos e fuzilados pouco antes de terminar a guerra.

Últimos dias
Quem sou eu?
–perguntam-me freqüentemente–,
que saio da minha cela,
sereno, risonho e firme,
como um nobre em seu palácio.

Quem sou eu?
–perguntam-me freqüentemente–,
que falo com os carcereiros,
livre, amistosa e francamente,
como se eu mandasse.

Quem sou eu? –perguntam-me também–
que suporto os dias de infortúnio
com indiferença, sorriso e orgulho,
como alguém acostumado a vencer.
Sou realmente o que outros dizem de mim?
Ou só sou o que eu mesmo sei de mim?
Intranqüilo, ansioso, doente,
qual passarinho enjaulado,
lutando para poder respirar,
como se alguém me apertasse a garganta,
faminto de aromas, de flores,
de cantos de aves,
sedento de boas palavras
e da proximidade humana,
tremendo de cólera diante da arbitrariedade
e na menor ofensa,
agitado pela espera de grandes coisas,
impotente e temeroso pelos amigos
na infinita lonjura,
cansado e vazio para orar, pensar e criar,
esgotado e disposto a me despedir de tudo.

Quem sou eu ? Este ou aquele?
Serei hoje este, amanhã outro?
Serei os dois de uma vez?
Diante dos homens, um hipócrita,
e diante de mim mesmo, um desprezível
e queixoso magricela?
Ou, o que ainda fica em mim
assemelha-se ao exército batido
que se retira desordenado
diante da vitória que acreditava segura?

Quem sou eu?
As perguntas solitárias zombam de mim.
Seja quem for, tu me conheces,
sou teu, Oh, Deus!

A situação do próprio Bonhoeffer piora de repente. No transcurso das investigações subseqüentes, a Gestapo encontra expedientes que provam inequivocamente que o grupo em torno de Canaris tinha participado da conspiração. Este «achado de expedientes de Zossen» inclui graves provas contra todo o Departamento de Defesa, incluindo a Bonhoeffer.
Antes da sua detenção, Bonhoeffer tinha se comprometido com Maria von Wedemayer, filha de um latifundiário de Pomerania. A relação com esta garota, 18 anos mais jovem que ele, apesar das difíceis circunstâncias, é um grande apoio para Bonhoeffer. Graças a ela, consegue superar a sua primeira fase de depressão na prisão, recuperando a esperança e as vontades de lutar. Durante dois anos, a sua relação se reduz ao intercâmbio por cartas e a breves visitas na prisão. Maria é a única pessoa, além dos seus próprios pais, que tem permissão para lhe escrever e visitá-lo. A correspondência entre Dietrich e Maria, publicada sob o título de «Cartas de amor da Cela 92», documenta esta relação única.
Em 8 de outubro de 1944, Bonhoeffer é levado aos temidos calabouços do escritório principal de segurança da Gestapo, para submeter-lhe a novos interrogatórios. Até então ele dispunha de livros e da possibilidade de escrever. Agora cessam as cartas e são cortados os contatos com o mundo exterior. Ele sabe que vai morrer. Em 7 de fevereiro de 1945 é deslocado para o campo de concentração de Buchenwald.
Um oficial da prisão se expressa assim dele: «Bonhoeffer era todo humildade e serenidade. Sempre irradiava uma atmosfera de bondade, de gozo, a propósito dos menores acontecimentos da vida, assim como de profunda gratidão pelo simples fato de estar com vida (...). Foi um dos estranhos seres humanos que encontrei para o qual Deus era uma realidade, e sempre próxima».
Em 5 de abril de 1945, Hitler decide executar a todos os conspiradores em torno de Canaris, para que nenhum deles tenha a oportunidade de conhecer a derrota do Reich.
Hans von Dohnanyi é executado em 8 ou 9 de abril de 1945, em Sachsenhausen. Nessa mesma noite, Bonhoeffer é deslocado para Flossenbürg. Na madrugada de 9 de abril de 1945, ele, junto com o almirante Canaris, o coronel Oster e a outros membros da resistência, é enforcado, apenas três semanas antes da captura soviética de Berlim e um mês antes da rendição da Alemanha nazista.
Como outras mortes associadas com o complô de 20 de julho, a execução foi brutal. Bonhoeffer foi despojado de sua roupa, torturado e ridicularizado pelos guardas, e levado nu ao patíbulo. A falta de forcas suficientes para pendurar os conspiradores fez que Hitler e Goebbels ordenassem usar ganchos de ferro de matadouro para levantar a vítima devagar por um laço formado de cordas de piano. Pensa-se que a asfixia demorava uma meia hora.
O médico do campo a que Bonhoeffer foi conduzido para ser executado, relata assim a sua morte: «Vi o pastor Bonhoeffer de joelhos diante do seu Deus em intensa súplica. A maneira perfeitamente total e segura de ser escutado, com a que este homem extraordinariamente simpático orava, comoveu-me profundamente. No lugar da execução ainda orou, em seguida subiu ao cadafalso. A morte aconteceu em poucos segundos. Durante os cinqüenta anos que tenho de prática médica nunca vi um ser humano morrer tão totalmente abandonado nas mãos de Deus». Tinha 39 anos de idade.
Com a rendição da Alemanha, todas as comunicações ficaram interrompidas durante meses. Maria, a noiva de Bonhoeffer, recebeu a notícia em junho na Alemanha Ocidental. Os pais, em Berlim, receberam-na apenas no final de julho. O pai morreu em 1948, e a mãe, em 1951.
A árvore da qual penduraram a Bonhoeffer leva hoje uma placa com esta inscrição: «Dietrich Bonhoeffer, testemunha de Jesus Cristo entre seus irmãos».
«Não há outro caminho
para a liberdade
que o autocontrole,
e para atuar,
que tomar uma decisão
e entrar totalmente
na tempestade da vida.
Para o sofrimento,
entregar o que sabemos direto
para uma mão mais forte que a nossa.
A morte é depois de tudo
essa festa mais jubilosa que outras
no caminho para a liberdade».
(Dietrich Bonhoeffer).

Fonte: Revista Águas Vivas

quarta-feira, 13 de maio de 2009

MOSTRA-ME O TEU CAMINHO

Leitura: Êxodo 33:11-14.
Moisés está sobre o monte, aprendendo a interceder. O mais importante para nós nestes dias de avivamento é ter uma visão do Senhor. O ministério mais importante que podemos assumir nestes dias é interceder a favor dos interesses do Senhor.
Como sabemos, Moisés se encontrava nessa montanha nesse dia a favor do povo que tinha pecado com o bezerro de ouro. Moisés estava ali de pé, dizendo: «Senhor, nos perdoe, por amor do seu nome. O que dirão as nações se tu eliminares o teu povo? Eles vão dizer que o Senhor não foi capaz de introduzir o seu povo na terra de Canaã». E Moisés, então, entregou a sua vida. Moisés disse: «Senhor se tiver achado graça diante dos teus olhos, mostra-me os teus caminhos».
Nosso Deus falou com Moisés face a face no monte. Como necessitamos deste tipo de pessoa nestes dias. Porque os filhos de Israel tinham cometido um grande pecado contra Deus, e vocês sabem o que o Senhor disse. Ele disse: «Eu te prometi que te enviaria à terra prometida, mas eu te enviarei com o meu anjo, mas eu não posso ir com vocês».
Para as pessoas que se conformam com as obras de Deus, o anjo é suficiente. Mas Moisés disse: «Se a tua presença não for conosco, eu não quero ir. Eu não quero simplesmente as tuas bênçãos; eu quero a tua presença». Assim ele falava com o seu Deus no monte. E ele diz: «Mostra-me os teus caminhos».
Antes falávamos sobre esses três níveis diferentes de conhecimento do Senhor. Vemos como há um contraste muito grande entre os filhos de Israel e Moisés. Nos Salmos nos diz que os filhos de Israel viram as obras de Deus, os seus grandes milagres. Graças a Deus, ele opera milagres. Ele é um Deus que atua, um Deus vivo. E é dessa maneira que nós o vemos, através das suas obras. Especialmente a obra de Jesus morrendo na cruz por nós.
Mas quando nós vamos ao Senhor, depois de ver as suas obras, o Senhor está procurando algo em nossos corações, uma resposta que diga: «Mostra-me os teus caminhos». Não só: «Mostra-me as tuas obras». Vocês recordam como as pessoas na Galiléia estavam seguindo a Jesus simplesmente para ver os milagres ou pessoas sendo curadas? E Jesus lhes disse: «Vocês viram o milagre do pão, mas o que não viram é quem está por trás do pão, o próprio pão da vida».
Cada obra que Deus faz é um sinal que quer nos mostrar o seu Filho Jesus. O amor de Deus é grande e ele faz muitas obras, mas nenhuma das suas obras é em vão; todas elas apontam para Jesus. Então, quando somos curados, nós temos que ser como aquele único leproso que voltou para agradecer a Jesus.
Algumas pessoas se satisfazem com a cura. Bom, Deus faz curas, mas isso deve apontar para aquele que cura. Jesus é a nossa saúde. Então, quando nós oramos: «Senhor, mostra-me os teus caminhos», estamos pedindo algo maior que: «mostra-me as tuas obras». Queremos saber mais dele, queremos conhecer o coração de Deus.
Isso é o que Moisés orava: «Oh, Senhor, não quero nada mais, a não ser a ti. Eu vejo todo o problema que está ocorrendo no vale; mas vejo a tua glória. Quero te conhecer nos teus caminhos». Porque depois que conhecemos os seus caminhos, conhecemos o Senhor. É o que podemos ver aqui. Moisés falava com o Senhor face a face. Necessitamos nestes dias desse tipo de intercessores.
No estudo anterior descobríamos como o caminho do Senhor é o caminho da cruz. Antes de morrer na cruz, Jesus disse aos seus discípulos: «Eu sou o caminho, e a verdade e a vida». Mas será que eles entenderam o que ele queria dizer? O que significa: «Eu sou o caminho»? Ou ainda quando Jesus disse: «Eu sou o caminho que leva ao Pai», eles não podiam entender.
Como vocês recordam, no final da sua vida, ele disse aos discípulos que ele estava indo para a cruz. Mas quando ele compartilhava que ele estava indo a Jerusalém para morrer, eles não podiam entendê-lo. Mas depois que Jesus morreu na cruz e ressuscitou, então os discípulos entenderam: «Ah, este é o caminho de Deus», e eles começaram a caminhar nesse caminho. E os filhos de Deus, nesses dias, eram chamados ‘o povo do caminho’. Todos eles viram muitos milagres e obras de Deus, mas também sofreram muito, levando a cruz. E como resultado, eles caminharam um caminho novo e vivo.
Muitas pessoas ao redor do mundo estão sendo reunidas ao reino pelo evangelho; mas não são muitos os cristãos que caminham pelo caminho vivo. Podem ver a diferença? Não é maravilhoso ver um cristão que vive no caminho vivo? Eles têm a vida celestial dentro deles, e mesmo que passam por dificuldades, é como se voltassem, com mais vida ainda. Eles estão caminhando nos Seus caminhos.
Nesta ocasião, queria descrever estes caminhos, e utilizando outra ilustração do Antigo Testamento.
Todos nós conhecemos a história de Abraão, Isaque, Jacó e José. Todos eles tiveram vidas muito diferentes; mas tinham uma coisa em comum, além do seu único Deus: Deus os tinha enviado para uma peregrinação. No Antigo Testamento há uma palavra especial: peregrino. É diferente que um simples viajante. Muitas pessoas viajam de um lugar para outro, mas quando Deus põe alguém em uma peregrinação, é para lhe revelar os Seus caminhos, e um peregrino sempre vive de acordo com um propósito.
Muitos cristãos são nascidos de novo, mas devido à confusão na cristandade é como se eles estivessem errantes, sem nenhuma direção. Mas há aqueles que estão em uma peregrinação. Vamos olhar esta palavra em algumas passagens.
Primeiro queremos olhar qual foi o testemunho de Jacó no final da sua vida. No capítulo 47 de Gênesis, Jacó estava falando de sua vida, e ele estava falando com Faraó. E como ele descreve a Faraó a sua própria vida? Versículo 9: «Jacó respondeu a Faraó: os dias de minha peregrinação são cento e trinta anos, poucos e maus foram os dias dos anos de minha vida, e não cheguei aos dias dos anos da vida dos meus pais nos dias da sua peregrinação». Jacó aqui se refere ao fato de Abraão e Isaque também terem sido peregrinos antes dele.
Deus ama tanto os seus filhos; ele quer revelar-se aos seus filhos, e ele deseja levar os seus filhos à adoção, para que não sejamos simplesmente meninos pequenos, mas filhos maduros e responsáveis. E qual é a maneira de nos levar a adoção? Através da peregrinação. A peregrinação é uma ilustração do caminho da cruz.
Você pode ser um cristão por um momento, mas um dia será um peregrino, e Deus começará a operar em sua vida de acordo com o seu propósito. Deus se dá a conhecer a nós pela revelação. Mas este conhecimento do Senhor do qual Moisés nos fala é mais do que uma revelação que ele está tendo no monte. Este tipo de conhecimento do Senhor não vem simplesmente em você sentar para ler a Bíblia e pensar sobre o Senhor.
Como é que realmente nós conhecemos o Senhor? Nós temos que caminhar com ele na peregrinação. Então, quando eu escuto a um irmão ou irmã que ora: «Oh, Senhor, mostra-me os teus caminhos», eu sei que o Senhor vai levá-lo para uma peregrinação. Nós conhecemos a história, e por isso podemos dizer que Abraão, Isaque, Jacó e José, no término da sua peregrinação, conheceram ao Senhor. E assim o Senhor nos leva a cada um de nós em uma peregrinação.
Agora, eu gostaria de descrever sete características desta peregrinação.
O Senhor quer nos reunir em uma forma corporativa. Ele tem que fazer um trabalho em sua vida individual. O Senhor vai te levar para uma peregrinação. O que significa esta palavra? É mais que uma simples viagem. A primeira coisa que aprendemos sobre a peregrinação é a seguinte: Você está vivendo em um lugar que não é o seu lar.
No livro de Hebreus, diz que Abraão foi chamado por Deus e por fé ele saiu e peregrinou em tendas. Nós temos que viver sobre a terra, mas vivemos em tendas. Vivemos em uma propriedade que não é o nosso lar. Isto é a primeira coisa que aprendemos sobre a peregrinação – Vivemos no mundo, mas este não é o nosso lar.
Em sua primeira epístola, Pedro fala com os irmãos e irmãs. Sabemos que ele foi primeiro um apóstolo para os judeus. E quando ele lhes escreve em 1ª Pedro, ele chama eles de peregrinos. Eles entenderam que não viviam em seu lar. Estamos de passagem em um lugar que não é o nosso lar.
Permitam-me lhes mostrar alguns exemplos. Em Gênesis 17:8 podemos considerar a Abraão. Deus prometeu a Abraão: «E darei a ti, e a tua descendência depois de ti, a terra em que moras –na versão inglesa, «a terra das tuas peregrinações»–, toda a terra de Canaã em herança perpétua; e serei o Deus deles». O lar original de Abraão era Ur dos caldeus, mas quando ele encontrou a Deus, a Babilônia não podia ser mais o seu lar. E Deus lhe disse: «Agora quero que sejas peregrino em Canaã».
Então, no capítulo 26, podemos ver a peregrinação de Isaque. Versículos 2-3: «E lhe apareceu o Senhor, e lhe disse: Não desça ao Egito; habita na terra que eu te direi. Habita como forasteiro nesta terra –na versão em inglês, «habita como um peregrino nesta terra»– e estarei contigo, e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras, e confirmarei o juramento que fiz a Abraão teu pai».
No idioma original é utilizada uma palavra especial: «peregrino». Então, para Abraão, a sua peregrinação foi em Canaã; mas para Isaque, a sua peregrinação foi na Filistéia. Porque houve fome na terra e ele foi enviado à terra dos filisteus, e Deus lhe deu esta promessa. Não temos tempo para ver cada passagem, mas sabemos que Jacó peregrinou em Padã-Arã.
Jacó gostava de estar em casa, com a sua mãe. Ele aprendeu a cozinhar com a sua mãe, mas vocês sabem que ele teve que fugir do seu irmão, e isso deu início a sua peregrinação espiritual, que tinha um propósito. E descobrimos no caso de José que a sua peregrinação ocorreu na terra do Egito.
Eles foram chamados e enviados por diferentes razões. Abraão, através de uma revelação; com Isaque, a circunstância foi a fome; Jacó teve que fugir, e José foi traído por seus irmãos. Circunstâncias muito diferentes; mas o nosso Deus é um Deus soberano, e ele usa as circunstâncias da nossa vida.
Quando somos jovens, temos muitas opções, mas este caminho de peregrinação é como um funil, que se torna mais e mais estreito até o seu extremo. Então, soberanamente, Deus nos envia para esta peregrinação.
Há tempos na vida cristã em que há necessidade de sair do lar. É tão gratificante ficar em casa. Tudo é seguro, familiar, mas não podemos crescer. Então, é como se o Senhor nos empurrasse para fora. Não importa quais sejam as circunstâncias, mas é Deus quem está por trás das circunstâncias. Como aqueles pintinhos de águia que estão em seu ninho, e a águia os empurra para fora do ninho. Assim ocorre conosco, e não nos sentimos em nosso lar.
Muitos jovens se acostumam com os seus lares e crêem que isso é para sempre. Mas um dia vão à universidade e voltam, e algo muda. Sim, é o lar, mas não é exatamente o seu lar. ‘Onde estão todos os amigos’ As coisas mudaram, e começa a viver uma vida em que não está em seu lar.
Esta questão do lar não é algo geográfico. Algumas pessoas nunca saem do seu lar, mas Deus troca o seu lar. Subitamente, está vivendo em um lugar que não é o seu lar.
Todo aquele que vem a Cristo como um bebê, no princípio pensa: ‘Bom, este mundo é o meu lar’. Mas o nosso Deus soberano produz circunstâncias em nossa vida que nos mostram que este não é o nosso lar. O Senhor já te tirou desse lar? Talvez uma tragédia de uma pessoa que você amava, talvez a perda de um trabalho, ou circunstâncias de saúde, ou um problema. Às vezes, uma aventura; mas de repente sente que já não está mais em seu lar.
E até que uma pessoa não sinta isso, ela não apreende o Senhor. Jacó, em certo ponto, segurou ao Senhor, e o Senhor o agarrou quando ele estava fugindo. E a ti e a mim, o Senhor nos traz para alguns lugares em que estamos desesperados, para nos agarrarmos ao Senhor.
Sabe? Quando você vai a um lugar que é novo para ti, com o qual não está familiarizado, você ora muito. Têm sua devocional matinal todos os dias. Mas quando está em sua casa, não há tanta necessidade. ‘Hoje vou dormir um pouquinho mais’. Então, o Senhor tem que nos empurrar para fora. E o que é que ele está querendo fazer? Ele quer te mostrar a verdade mais importante que deve conhecer em sua vida: Que ele é o seu lar.
Quando Jesus disse que ele iria preparar-nos moradas na casa do Pai, ele não estava falando de um palácio. Ele estava falando do corpo de Cristo. Eu espero que você tenha encontrado o seu lar. Quando você chama a Deus de teu lar, foi isso o que Jacó viu quando estava nessa noite estrelada. ‘Isto é Bet-el, a casa de Deus. Eu estou sozinho no deserto, mas Deus é o meu lar’. Eu espero que você saiba que Deus é o teu lar. Este é o primeiro passo em nossa peregrinação.
Mas, por que Deus nos empurra e nos envia para um caminho que não conhecíamos? Claro, é o segundo ponto. Não importa como começa a tua peregrinação; e por sua misericórdia, Deus vai te encontrar na encruzilhada. Seja porque você esteja fugindo de algo, ou porque você esteja mudando para um lugar novo, ou simplesmente porque as coisas mudaram e já não é o mesmo, Deus está removendo a tua segurança, para que possas encontrar o Deus vivente. E essa é a maior bênção da nossa vida, mas ele aguarda até que você se encontre nesse caminho de peregrinação.
G. Campbell Morgan disse que a vida dos patriarcas era Deus revelando-se a eles enquanto eram peregrinos. Se leres a tua Bíblia, poderás ver que Deus se revelou a Abraão sete vezes, e a Isaque se revelou seis vezes. A Jacó se revelou cinco vezes. De José não temos registro de que Deus tenha se revelado a ele, exceto por sonhos. Mas nós sabemos que José vivia em comunhão com Deus.
Oh, que maravilhoso descobrimento: Deus quer te encontrar. Mas ele não se encontra contigo em teoria; ele te encontra quando estás no caminho. Então, Abraão saiu, e quando chegou a Siquem, Deus lhe revelou, e ali ele construiu um altar. E quando chegou a Bet-el edificou outro altar. E à medida que ia de um lugar para outro, ele encontrou a Jehová-Jireh e encontrou El-Shadday e El-Olam. À medida que caminhava, ele descobria a Deus.
É um descobrir a Deus à medida que está peregrinando; é assim como nós conhecemos a Deus. Quando Jacó estava fugindo, de acordo com o nosso irmão Christian Chen –como ele é um matemático, eu confio nele–, ele diz que Jacó não fugiu de casa antes dos setenta anos de idade. Ou você pensa que ele era um delinqüente juvenil fugindo? Oh, até as pessoas velhas estão fugindo. E por todos esses anos, ele já tinha escutado do Deus de Abraão e de Isaque; no entanto, Jacó nunca o encontrou, assim que ele começou a caminhar pelo caminho, aí Deus em sua misericórdia apareceu a Jacó naquela escada que subia até os céus. Então ele começou a descobrir como Deus era realmente.
Nós temos tantas canções que nos falam de como Deus é, mas cada uma dessas palavras tem que se tornar real em sua vida. E isso só ocorre através de uma peregrinação. Você já descobriu isso em sua vida, quando o Senhor te pôs nesta peregrinação?
Nós dizemos que a peregrinação é o caminho da cruz. Quero te explicar o que isso quer dizer. Não quer dizer que sempre estamos sentindo morte; quer dizer que começamos a caminhar por um caminho que nós não escolhemos. Quer dizer que o caminho pelo qual Deus nos guia é de acordo com o Seu propósito. E nesse caminho da cruz nós descobrimos muita vida.
O caminho de um peregrino é o caminho de alguém que se nega a si mesmo. E quando encontramos a Deus, ele nos chama a dar um passo a mais. Você, em sua peregrinação, já encontrou ao Deus vivo? Não só o Deus dos seus pais. Você mesmo já encontrou a Deus? É assim que você conhece a Deus.
Uma terceira coisa maravilhosa que aprendemos desta peregrinação da cruz: Na vida de cada um desses patriarcas, Deus pôs sua fé à prova. O que significa pôr a fé à prova? Bom, recorda como Deus disse a Abraão: «Abraão, oferece ao teu filho, o seu único filho, sobre o altar»? Acaso Deus não sabia que Abraão tinha ou não fé? Claro que Deus sabia. Mas Abraão não sabia. Jacó não sabia que ele tinha fé; ele era um fugitivo. Mas Deus lhe mostrou que ele tinha fé. Isaque não sabia que tinha fé. Tudo lhe tinha sido dado, mas aprendeu o que era a fé à medida que cavava os poços. Então, cada um desses homens desenvolveu uma fé tangível em suas vidas.
Nós dizemos: ‘Eu creio nisto, eu creio naquilo’. É muito fácil dizê-lo. Mas Deus vai provar a fé que temos em nossas vidas. Então na vida de Abraão vemos a obediência à fé. Na vida de Isaque vemos a fé que habita, que permanece. E na vida de Jacó vemos a fé que está em luta. Você já lutou com Deus? Ah, é como Jacó. Foi nesse momento de sua vida que Jacó descobriu a sua fé, lutando com Deus. À medida que lutava, ele descobriu quanto necessitava de Deus, e ele se agarrou a Deus. Ele aprendeu o que era a fé.
José aprendeu a fé que vence. Ele esperou por anos e anos na prisão. De algum jeito, ele sabia que os sonhos que Deus lhe tinha dado se realizariam. E assim aprendemos a caminhar por fé. Talvez no princípio caminharemos por vista, mas Deus começa a nos dar olhos para ver o Senhor à medida que caminhamos.
Outro aspecto deste caminho da peregrinação é que é o caminho da bênção. Mas há uma diferença: Se tudo o que recebemos são bênçãos, nos tornamos orgulhosos. Mas se estivermos no caminho de peregrino, aprendemos o que é a verdadeira bênção. À medida que Abraão vivia nesse caminho, ele foi adquirindo mais e mais ovelhas e vacas, a tal ponto que os reis ao seu redor estavam assustados com ele, porque Abraão estava caminhando nessa peregrinação com Deus. E embora Abraão tivesse milhões de ovelhas, no mesmo tempo da peregrinação, ele descobriu a verdadeira bênção.
Qual era a verdadeira bênção? Você diria: ‘Quando nasceu o seu filho’. Sim, essa foi uma grande bênção; mas ele descobriu uma bênção ainda maior: a presença do seu Deus. E quanto mais bênçãos recebia, mais fome ele tinha, e procurava a cidade de Deus. Ele amava muito a Deus, e queria encontrar a Sua cidade.
Deus quer pessoas que sejam capazes de dirigir as bênçãos. Abraão era um milionário, mas ele estava centrado em Deus. Então as suas bênçãos se tornaram bênçãos para outros. E mesmo que ele tenha lhe apresentado essa opção: ‘Eu vou oferecer o meu filho, ou vou preservar o meu filho e perder o meu Deus?’. E ele disse: ‘Eu amo a Deus acima de tudo, mais do que a este filho precioso’.
Isaque teve tantas bênçãos. Abraão deu tudo a Isaque. A Ismael deu alguns milhares de ovelhas; mas Isaque recebeu tudo, já começou como um jovem milionário. O que lhe ocorreu quando vivia na terra dos filisteus? Houve uma grande fome e ninguém tinha comida, exceto no lugar onde Isaque estava. Ele teve uma colheita de cem por um. E todos se perguntavam o que ocorria nesse lugar.
Isaque era tão abençoado. Mas ele não foi abençoado, porque ao mesmo tempo todos o perseguiam. Ele tinha milhões, mas tinha medo de que todas as coisas fossem roubadas. Então, sempre que ele estava cavando um poço novo, o inimigo chegava e dizia: ‘Este é meu poço’, e ele tinha que fugir. Ele tinha milhões de ovelhas e não podia levá-las para beber. E ele dizia: ‘Ai, minhas ovelhas vão morrer’. E se movia para outro lugar, cavava outro poço. E o inimigo chutava a terra para dentro do poço.
Jacó não podia desfrutar da sua peregrinação; era um milionário miserável. Até que movendo-se e movendo-se e movendo-se, um dia, ele retornou para Canaã, a Berseba. E cavou um poço, e saiu água doce. Deus lhe falou, e na presença de Deus ele pôde desfrutar das bênçãos. Do que te serve ter um milhão de dólares, se não estiver na presença de Deus?
Aos jovens, advirto-lhes: tomem cuidado com a vontade de Deus neste assunto de dedicar-se aos negócios. Eu conheço muitas pessoas que correm atrás do dinheiro, mas não têm nenhuma comunhão, e apesar de ter muitas bênçãos materiais, não as desfrutam, porque o inimigo os oprime dia e noite.
Jacó também aprendeu a lição da bênção. Você entende que o caminho da cruz é um caminho de bênção? Mas temos que aprender a dirigir as bênçãos. O que aconteceu com Jacó? O que significa o nome Jacó? É alguém que se agarra às coisas; ele se agarrava às suas bênçãos. Eu quero esta bênção, eu quero aquela bênção. Ele tomou quatro esposas! E teve doze filhos, e milhões de ovelhas, o que fosse. Mas ele não era alguém que se agarrava a algo e estava feliz.
Jacó teve que aprender o que era a verdadeira bênção, e você se recorda quando ele aprendeu o que é a bênção. É quando ele agarrou a Deus. Ele abandonou todas as suas bênçãos, mas se agarrou a Deus, e então descobriu a razão pela qual ele foi criado. Eu espero que você agarre a Deus. Porque o que Jacó descobriu é que ele tinha todas as bênçãos, e apesar disso Esaú não o matou.
E José. José teve tantas bênçãos. Ele chegou a ser o segundo depois de Faraó. Foi-lhe dada sabedoria e grande autoridade. Mas José viu; quando os seus irmãos vieram, os seus olhos se abriram. ‘Por que Deus me abençoou desta maneira? Por causa dos meus irmãos e irmãs’.
Por que Deus tem te abençoado como ele o tem feito? Sei que alguém vai discutir comigo e vai dizer que Deus não lhe abençoou; mas você tem muitas bênçãos. Mas Deus não nos abençoa simplesmente para nós mesmos. Se guardarmos as bênçãos só para nós, serão como o maná, que se apodrece; mas quando usamos as nossas bênçãos a favor dos outros, então aprendemos o segredo da peregrinação.
Mas, apesar de tudo isso, o quinto ponto é que o caminho da peregrinação é o caminho da cruz. Isso significa que chegamos ao final de nós mesmos. Ele disse a Abraão que ele teria um filho, e ele pensou que ele teria um filho, mas em seguida descobriu que só pôde ter um filho quando ele estava como morto. Deus, em sua vontade soberana, leva-nos a um ponto em que descobrimos que não podemos fazer nada sem ele.
A vida de Isaque começou sobre o altar. Qual foi a primeira revelação que Isaque teve de Deus? A primeira revelação que ele teve de Deus foi Jehová-Jireh. Quando o seu pai veio sobre ele com uma faca e Deus lhe falou, Isaque também escutou essa voz. E viu como Deus havia provido um carneiro. Então, a vida de Isaque começa na cruz, e o resto de sua vida ele não a viveu para si mesmo.
Alguns de vocês não são casados ainda, e talvez você queira escolher um marido ou uma esposa. Isaque não teve escolha. O seu pai enviou um servo que lhe trouxe uma esposa. ‘Não a minha vontade, mas a tua, Senhor’. Claro, ele acabou com a esposa perfeita. Se Deus escolher uma esposa para você, terá uma excelente esposa. Com tudo isso, nós aprendemos que temos que chegar ao final de nós mesmos.
Lembra-te do que lemos sobre Jacó em Gênesis 47? Faraó lhe faz essas perguntas sobre a sua vida, e Jacó é muito honesto. Ele diz: «A minha peregrinação foi que 130 anos, mas ela foi amarga». Por quê? Porque ele tinha uma vontade própria muito forte, porque ele sempre estava fazendo os seus planos, as suas coisas, e foi só quando ele tinha quase cem anos de idade que Deus pôde derrotá-lo. E Jacó chegou ao final de si mesmo.
Mas, mesmo que estejamos caminhando nesta peregrinação, nós chegaremos ao final de nós mesmos. Nós vemos que não somos nada. Às vezes, você vê um irmão parado aqui, falando. Eu posso te garantir que esse irmão é um servo de Deus, e ele aprendeu que ele não é nada. Quando você serve ao Senhor, muitas vezes é humilhado, porque comete muitos enganos. Você fere muitas ovelhas de Deus.
Se você caminhar nesta peregrinação, chegará ao ponto em que verá que não é nada. Muitos servos de Deus pregam mensagens muito fortes, mas eles se sentem totalmente vazios; então eles se agarram a Deus para que ele lhes dê tudo. Então, o caminho de peregrinação nos leva ao final de nós mesmos, e finalmente nos leva ao verdadeiro conhecimento de Deus.
Como é que nós conhecemos a Deus? Como El-Shadday, como Jehová-Jireh. Nós o conhecemos de várias formas, à medida que ele se revela a nós. Mas todos aqueles que caminham nesta peregrinação com propósito, encontram o mesmo Deus. E o que é isso? O Deus de misericórdia. E Deus mostrou a cada um dos patriarcas, depois que eles viram os seus próprios fracassos, depois que eles viram quantas vezes foram infiéis, Deus lhes mostrou como ele estava usando ainda os fracassos das suas vidas para cumprir a Sua vontade.
Isaque era um fracasso. Ele queria que Esaú recebesse a bênção, mas quando Jacó recebeu a bênção, Isaque viu o quão carnal ele era. Ele abençoou a seu filho Jacó, e então ele viu algo, descobriu como Deus usou a sua própria cegueira para enviar a seu filho Jacó. E Jacó foi, e então vieram os doze filhos de Israel.
E nenhum dos patriarcas se sentiu tão desqualificado como Jacó. Ele tinha enganado a todos, ele feriu a todos, e mesmo assim, Deus lhe tinha prometido o seu cuidado. Ele se sentia que não era nada. Mas o que Jacó descobriu no final da sua vida? Ele reconheceu que não era nada, que a sua peregrinação tinha sido uma viagem amarga. Mas Deus levantou a sua família, e o fez um príncipe de bênção.
Deus usa até os fracassos da nossa vida. Há bênçãos, há problemas, há provas, há tragédias. Mas todas estão programadas para nos levar para o Senhor. Irmãos e irmãs, nós vivemos em um universo que tem o seu centro em Cristo. Mas o Espírito Santo ainda tem que convencer a ti que Cristo é o centro da sua vida.
Então teremos muitas bênçãos, e também algumas tragédias. Teremos fracassos, teremos corações rasgados, teremos algumas vitórias; mas, através de tudo isso, quando nós olhamos para trás, vemos que Deus transborda os nossos fracassos e os torna em bênçãos. Quão grande é o nosso Deus! Só ele pode tomar os nossos problemas e transformá-los em bênção. Deus tomou a vida desses quatro homens e os ordenou de acordo com o Seu propósito.
E à medida que Deus reúne pessoas nestes últimos dias, ele também vai enviar para uma peregrinação. Talvez você não tenha começado a tua ainda. Oh, peça ao Senhor que te mostre os seus caminhos, para que lhe conheça. Então começará a conhecer o caminho da vida, e conhecerás o Deus vivo. E descobrirá uma fé real, com a qual poderá contar, porque não é a sua fé, é a fé de um Deus grande.
Chegamos ao final de nós mesmos, mas mesmo assim, descobrimos um Deus que transborda as coisas, que converte as tragédias em vitórias. Temos esse grande Deus? Esse é o Deus que conhecemos?
Então, durante a sua peregrinação, você agarre a esse Deus, você lute com Deus e descubra o caminho vivo, e descubra a ele em sua vida, até que Cristo seja feito o centro da sua vida.

Dona Cangdon
MOSTRA-ME O TEU CAMINHO

Leitura: Êxodo 33:11-14.
Moisés está sobre o monte, aprendendo a interceder. O mais importante para nós nestes dias de avivamento é ter uma visão do Senhor. O ministério mais importante que podemos assumir nestes dias é interceder a favor dos interesses do Senhor.
Como sabemos, Moisés se encontrava nessa montanha nesse dia a favor do povo que tinha pecado com o bezerro de ouro. Moisés estava ali de pé, dizendo: «Senhor, nos perdoe, por amor do seu nome. O que dirão as nações se tu eliminares o teu povo? Eles vão dizer que o Senhor não foi capaz de introduzir o seu povo na terra de Canaã». E Moisés, então, entregou a sua vida. Moisés disse: «Senhor se tiver achado graça diante dos teus olhos, mostra-me os teus caminhos».
Nosso Deus falou com Moisés face a face no monte. Como necessitamos deste tipo de pessoa nestes dias. Porque os filhos de Israel tinham cometido um grande pecado contra Deus, e vocês sabem o que o Senhor disse. Ele disse: «Eu te prometi que te enviaria à terra prometida, mas eu te enviarei com o meu anjo, mas eu não posso ir com vocês».
Para as pessoas que se conformam com as obras de Deus, o anjo é suficiente. Mas Moisés disse: «Se a tua presença não for conosco, eu não quero ir. Eu não quero simplesmente as tuas bênçãos; eu quero a tua presença». Assim ele falava com o seu Deus no monte. E ele diz: «Mostra-me os teus caminhos».
Antes falávamos sobre esses três níveis diferentes de conhecimento do Senhor. Vemos como há um contraste muito grande entre os filhos de Israel e Moisés. Nos Salmos nos diz que os filhos de Israel viram as obras de Deus, os seus grandes milagres. Graças a Deus, ele opera milagres. Ele é um Deus que atua, um Deus vivo. E é dessa maneira que nós o vemos, através das suas obras. Especialmente a obra de Jesus morrendo na cruz por nós.
Mas quando nós vamos ao Senhor, depois de ver as suas obras, o Senhor está procurando algo em nossos corações, uma resposta que diga: «Mostra-me os teus caminhos». Não só: «Mostra-me as tuas obras». Vocês recordam como as pessoas na Galiléia estavam seguindo a Jesus simplesmente para ver os milagres ou pessoas sendo curadas? E Jesus lhes disse: «Vocês viram o milagre do pão, mas o que não viram é quem está por trás do pão, o próprio pão da vida».
Cada obra que Deus faz é um sinal que quer nos mostrar o seu Filho Jesus. O amor de Deus é grande e ele faz muitas obras, mas nenhuma das suas obras é em vão; todas elas apontam para Jesus. Então, quando somos curados, nós temos que ser como aquele único leproso que voltou para agradecer a Jesus.
Algumas pessoas se satisfazem com a cura. Bom, Deus faz curas, mas isso deve apontar para aquele que cura. Jesus é a nossa saúde. Então, quando nós oramos: «Senhor, mostra-me os teus caminhos», estamos pedindo algo maior que: «mostra-me as tuas obras». Queremos saber mais dele, queremos conhecer o coração de Deus.
Isso é o que Moisés orava: «Oh, Senhor, não quero nada mais, a não ser a ti. Eu vejo todo o problema que está ocorrendo no vale; mas vejo a tua glória. Quero te conhecer nos teus caminhos». Porque depois que conhecemos os seus caminhos, conhecemos o Senhor. É o que podemos ver aqui. Moisés falava com o Senhor face a face. Necessitamos nestes dias desse tipo de intercessores.
No estudo anterior descobríamos como o caminho do Senhor é o caminho da cruz. Antes de morrer na cruz, Jesus disse aos seus discípulos: «Eu sou o caminho, e a verdade e a vida». Mas será que eles entenderam o que ele queria dizer? O que significa: «Eu sou o caminho»? Ou ainda quando Jesus disse: «Eu sou o caminho que leva ao Pai», eles não podiam entender.
Como vocês recordam, no final da sua vida, ele disse aos discípulos que ele estava indo para a cruz. Mas quando ele compartilhava que ele estava indo a Jerusalém para morrer, eles não podiam entendê-lo. Mas depois que Jesus morreu na cruz e ressuscitou, então os discípulos entenderam: «Ah, este é o caminho de Deus», e eles começaram a caminhar nesse caminho. E os filhos de Deus, nesses dias, eram chamados ‘o povo do caminho’. Todos eles viram muitos milagres e obras de Deus, mas também sofreram muito, levando a cruz. E como resultado, eles caminharam um caminho novo e vivo.
Muitas pessoas ao redor do mundo estão sendo reunidas ao reino pelo evangelho; mas não são muitos os cristãos que caminham pelo caminho vivo. Podem ver a diferença? Não é maravilhoso ver um cristão que vive no caminho vivo? Eles têm a vida celestial dentro deles, e mesmo que passam por dificuldades, é como se voltassem, com mais vida ainda. Eles estão caminhando nos Seus caminhos.
Nesta ocasião, queria descrever estes caminhos, e utilizando outra ilustração do Antigo Testamento.
Todos nós conhecemos a história de Abraão, Isaque, Jacó e José. Todos eles tiveram vidas muito diferentes; mas tinham uma coisa em comum, além do seu único Deus: Deus os tinha enviado para uma peregrinação. No Antigo Testamento há uma palavra especial: peregrino. É diferente que um simples viajante. Muitas pessoas viajam de um lugar para outro, mas quando Deus põe alguém em uma peregrinação, é para lhe revelar os Seus caminhos, e um peregrino sempre vive de acordo com um propósito.
Muitos cristãos são nascidos de novo, mas devido à confusão na cristandade é como se eles estivessem errantes, sem nenhuma direção. Mas há aqueles que estão em uma peregrinação. Vamos olhar esta palavra em algumas passagens.
Primeiro queremos olhar qual foi o testemunho de Jacó no final da sua vida. No capítulo 47 de Gênesis, Jacó estava falando de sua vida, e ele estava falando com Faraó. E como ele descreve a Faraó a sua própria vida? Versículo 9: «Jacó respondeu a Faraó: os dias de minha peregrinação são cento e trinta anos, poucos e maus foram os dias dos anos de minha vida, e não cheguei aos dias dos anos da vida dos meus pais nos dias da sua peregrinação». Jacó aqui se refere ao fato de Abraão e Isaque também terem sido peregrinos antes dele.
Deus ama tanto os seus filhos; ele quer revelar-se aos seus filhos, e ele deseja levar os seus filhos à adoção, para que não sejamos simplesmente meninos pequenos, mas filhos maduros e responsáveis. E qual é a maneira de nos levar a adoção? Através da peregrinação. A peregrinação é uma ilustração do caminho da cruz.
Você pode ser um cristão por um momento, mas um dia será um peregrino, e Deus começará a operar em sua vida de acordo com o seu propósito. Deus se dá a conhecer a nós pela revelação. Mas este conhecimento do Senhor do qual Moisés nos fala é mais do que uma revelação que ele está tendo no monte. Este tipo de conhecimento do Senhor não vem simplesmente em você sentar para ler a Bíblia e pensar sobre o Senhor.
Como é que realmente nós conhecemos o Senhor? Nós temos que caminhar com ele na peregrinação. Então, quando eu escuto a um irmão ou irmã que ora: «Oh, Senhor, mostra-me os teus caminhos», eu sei que o Senhor vai levá-lo para uma peregrinação. Nós conhecemos a história, e por isso podemos dizer que Abraão, Isaque, Jacó e José, no término da sua peregrinação, conheceram ao Senhor. E assim o Senhor nos leva a cada um de nós em uma peregrinação.
Agora, eu gostaria de descrever sete características desta peregrinação.
O Senhor quer nos reunir em uma forma corporativa. Ele tem que fazer um trabalho em sua vida individual. O Senhor vai te levar para uma peregrinação. O que significa esta palavra? É mais que uma simples viagem. A primeira coisa que aprendemos sobre a peregrinação é a seguinte: Você está vivendo em um lugar que não é o seu lar.
No livro de Hebreus, diz que Abraão foi chamado por Deus e por fé ele saiu e peregrinou em tendas. Nós temos que viver sobre a terra, mas vivemos em tendas. Vivemos em uma propriedade que não é o nosso lar. Isto é a primeira coisa que aprendemos sobre a peregrinação – Vivemos no mundo, mas este não é o nosso lar.
Em sua primeira epístola, Pedro fala com os irmãos e irmãs. Sabemos que ele foi primeiro um apóstolo para os judeus. E quando ele lhes escreve em 1ª Pedro, ele chama eles de peregrinos. Eles entenderam que não viviam em seu lar. Estamos de passagem em um lugar que não é o nosso lar.
Permitam-me lhes mostrar alguns exemplos. Em Gênesis 17:8 podemos considerar a Abraão. Deus prometeu a Abraão: «E darei a ti, e a tua descendência depois de ti, a terra em que moras –na versão inglesa, «a terra das tuas peregrinações»–, toda a terra de Canaã em herança perpétua; e serei o Deus deles». O lar original de Abraão era Ur dos caldeus, mas quando ele encontrou a Deus, a Babilônia não podia ser mais o seu lar. E Deus lhe disse: «Agora quero que sejas peregrino em Canaã».
Então, no capítulo 26, podemos ver a peregrinação de Isaque. Versículos 2-3: «E lhe apareceu o Senhor, e lhe disse: Não desça ao Egito; habita na terra que eu te direi. Habita como forasteiro nesta terra –na versão em inglês, «habita como um peregrino nesta terra»– e estarei contigo, e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras, e confirmarei o juramento que fiz a Abraão teu pai».
No idioma original é utilizada uma palavra especial: «peregrino». Então, para Abraão, a sua peregrinação foi em Canaã; mas para Isaque, a sua peregrinação foi na Filistéia. Porque houve fome na terra e ele foi enviado à terra dos filisteus, e Deus lhe deu esta promessa. Não temos tempo para ver cada passagem, mas sabemos que Jacó peregrinou em Padã-Arã.
Jacó gostava de estar em casa, com a sua mãe. Ele aprendeu a cozinhar com a sua mãe, mas vocês sabem que ele teve que fugir do seu irmão, e isso deu início a sua peregrinação espiritual, que tinha um propósito. E descobrimos no caso de José que a sua peregrinação ocorreu na terra do Egito.
Eles foram chamados e enviados por diferentes razões. Abraão, através de uma revelação; com Isaque, a circunstância foi a fome; Jacó teve que fugir, e José foi traído por seus irmãos. Circunstâncias muito diferentes; mas o nosso Deus é um Deus soberano, e ele usa as circunstâncias da nossa vida.
Quando somos jovens, temos muitas opções, mas este caminho de peregrinação é como um funil, que se torna mais e mais estreito até o seu extremo. Então, soberanamente, Deus nos envia para esta peregrinação.
Há tempos na vida cristã em que há necessidade de sair do lar. É tão gratificante ficar em casa. Tudo é seguro, familiar, mas não podemos crescer. Então, é como se o Senhor nos empurrasse para fora. Não importa quais sejam as circunstâncias, mas é Deus quem está por trás das circunstâncias. Como aqueles pintinhos de águia que estão em seu ninho, e a águia os empurra para fora do ninho. Assim ocorre conosco, e não nos sentimos em nosso lar.
Muitos jovens se acostumam com os seus lares e crêem que isso é para sempre. Mas um dia vão à universidade e voltam, e algo muda. Sim, é o lar, mas não é exatamente o seu lar. ‘Onde estão todos os amigos’ As coisas mudaram, e começa a viver uma vida em que não está em seu lar.
Esta questão do lar não é algo geográfico. Algumas pessoas nunca saem do seu lar, mas Deus troca o seu lar. Subitamente, está vivendo em um lugar que não é o seu lar.
Todo aquele que vem a Cristo como um bebê, no princípio pensa: ‘Bom, este mundo é o meu lar’. Mas o nosso Deus soberano produz circunstâncias em nossa vida que nos mostram que este não é o nosso lar. O Senhor já te tirou desse lar? Talvez uma tragédia de uma pessoa que você amava, talvez a perda de um trabalho, ou circunstâncias de saúde, ou um problema. Às vezes, uma aventura; mas de repente sente que já não está mais em seu lar.
E até que uma pessoa não sinta isso, ela não apreende o Senhor. Jacó, em certo ponto, segurou ao Senhor, e o Senhor o agarrou quando ele estava fugindo. E a ti e a mim, o Senhor nos traz para alguns lugares em que estamos desesperados, para nos agarrarmos ao Senhor.
Sabe? Quando você vai a um lugar que é novo para ti, com o qual não está familiarizado, você ora muito. Têm sua devocional matinal todos os dias. Mas quando está em sua casa, não há tanta necessidade. ‘Hoje vou dormir um pouquinho mais’. Então, o Senhor tem que nos empurrar para fora. E o que é que ele está querendo fazer? Ele quer te mostrar a verdade mais importante que deve conhecer em sua vida: Que ele é o seu lar.
Quando Jesus disse que ele iria preparar-nos moradas na casa do Pai, ele não estava falando de um palácio. Ele estava falando do corpo de Cristo. Eu espero que você tenha encontrado o seu lar. Quando você chama a Deus de teu lar, foi isso o que Jacó viu quando estava nessa noite estrelada. ‘Isto é Bet-el, a casa de Deus. Eu estou sozinho no deserto, mas Deus é o meu lar’. Eu espero que você saiba que Deus é o teu lar. Este é o primeiro passo em nossa peregrinação.
Mas, por que Deus nos empurra e nos envia para um caminho que não conhecíamos? Claro, é o segundo ponto. Não importa como começa a tua peregrinação; e por sua misericórdia, Deus vai te encontrar na encruzilhada. Seja porque você esteja fugindo de algo, ou porque você esteja mudando para um lugar novo, ou simplesmente porque as coisas mudaram e já não é o mesmo, Deus está removendo a tua segurança, para que possas encontrar o Deus vivente. E essa é a maior bênção da nossa vida, mas ele aguarda até que você se encontre nesse caminho de peregrinação.
G. Campbell Morgan disse que a vida dos patriarcas era Deus revelando-se a eles enquanto eram peregrinos. Se leres a tua Bíblia, poderás ver que Deus se revelou a Abraão sete vezes, e a Isaque se revelou seis vezes. A Jacó se revelou cinco vezes. De José não temos registro de que Deus tenha se revelado a ele, exceto por sonhos. Mas nós sabemos que José vivia em comunhão com Deus.
Oh, que maravilhoso descobrimento: Deus quer te encontrar. Mas ele não se encontra contigo em teoria; ele te encontra quando estás no caminho. Então, Abraão saiu, e quando chegou a Siquem, Deus lhe revelou, e ali ele construiu um altar. E quando chegou a Bet-el edificou outro altar. E à medida que ia de um lugar para outro, ele encontrou a Jehová-Jireh e encontrou El-Shadday e El-Olam. À medida que caminhava, ele descobria a Deus.
É um descobrir a Deus à medida que está peregrinando; é assim como nós conhecemos a Deus. Quando Jacó estava fugindo, de acordo com o nosso irmão Christian Chen –como ele é um matemático, eu confio nele–, ele diz que Jacó não fugiu de casa antes dos setenta anos de idade. Ou você pensa que ele era um delinqüente juvenil fugindo? Oh, até as pessoas velhas estão fugindo. E por todos esses anos, ele já tinha escutado do Deus de Abraão e de Isaque; no entanto, Jacó nunca o encontrou, assim que ele começou a caminhar pelo caminho, aí Deus em sua misericórdia apareceu a Jacó naquela escada que subia até os céus. Então ele começou a descobrir como Deus era realmente.
Nós temos tantas canções que nos falam de como Deus é, mas cada uma dessas palavras tem que se tornar real em sua vida. E isso só ocorre através de uma peregrinação. Você já descobriu isso em sua vida, quando o Senhor te pôs nesta peregrinação?
Nós dizemos que a peregrinação é o caminho da cruz. Quero te explicar o que isso quer dizer. Não quer dizer que sempre estamos sentindo morte; quer dizer que começamos a caminhar por um caminho que nós não escolhemos. Quer dizer que o caminho pelo qual Deus nos guia é de acordo com o Seu propósito. E nesse caminho da cruz nós descobrimos muita vida.
O caminho de um peregrino é o caminho de alguém que se nega a si mesmo. E quando encontramos a Deus, ele nos chama a dar um passo a mais. Você, em sua peregrinação, já encontrou ao Deus vivo? Não só o Deus dos seus pais. Você mesmo já encontrou a Deus? É assim que você conhece a Deus.
Uma terceira coisa maravilhosa que aprendemos desta peregrinação da cruz: Na vida de cada um desses patriarcas, Deus pôs sua fé à prova. O que significa pôr a fé à prova? Bom, recorda como Deus disse a Abraão: «Abraão, oferece ao teu filho, o seu único filho, sobre o altar»? Acaso Deus não sabia que Abraão tinha ou não fé? Claro que Deus sabia. Mas Abraão não sabia. Jacó não sabia que ele tinha fé; ele era um fugitivo. Mas Deus lhe mostrou que ele tinha fé. Isaque não sabia que tinha fé. Tudo lhe tinha sido dado, mas aprendeu o que era a fé à medida que cavava os poços. Então, cada um desses homens desenvolveu uma fé tangível em suas vidas.
Nós dizemos: ‘Eu creio nisto, eu creio naquilo’. É muito fácil dizê-lo. Mas Deus vai provar a fé que temos em nossas vidas. Então na vida de Abraão vemos a obediência à fé. Na vida de Isaque vemos a fé que habita, que permanece. E na vida de Jacó vemos a fé que está em luta. Você já lutou com Deus? Ah, é como Jacó. Foi nesse momento de sua vida que Jacó descobriu a sua fé, lutando com Deus. À medida que lutava, ele descobriu quanto necessitava de Deus, e ele se agarrou a Deus. Ele aprendeu o que era a fé.
José aprendeu a fé que vence. Ele esperou por anos e anos na prisão. De algum jeito, ele sabia que os sonhos que Deus lhe tinha dado se realizariam. E assim aprendemos a caminhar por fé. Talvez no princípio caminharemos por vista, mas Deus começa a nos dar olhos para ver o Senhor à medida que caminhamos.
Outro aspecto deste caminho da peregrinação é que é o caminho da bênção. Mas há uma diferença: Se tudo o que recebemos são bênçãos, nos tornamos orgulhosos. Mas se estivermos no caminho de peregrino, aprendemos o que é a verdadeira bênção. À medida que Abraão vivia nesse caminho, ele foi adquirindo mais e mais ovelhas e vacas, a tal ponto que os reis ao seu redor estavam assustados com ele, porque Abraão estava caminhando nessa peregrinação com Deus. E embora Abraão tivesse milhões de ovelhas, no mesmo tempo da peregrinação, ele descobriu a verdadeira bênção.
Qual era a verdadeira bênção? Você diria: ‘Quando nasceu o seu filho’. Sim, essa foi uma grande bênção; mas ele descobriu uma bênção ainda maior: a presença do seu Deus. E quanto mais bênçãos recebia, mais fome ele tinha, e procurava a cidade de Deus. Ele amava muito a Deus, e queria encontrar a Sua cidade.
Deus quer pessoas que sejam capazes de dirigir as bênçãos. Abraão era um milionário, mas ele estava centrado em Deus. Então as suas bênçãos se tornaram bênçãos para outros. E mesmo que ele tenha lhe apresentado essa opção: ‘Eu vou oferecer o meu filho, ou vou preservar o meu filho e perder o meu Deus?’. E ele disse: ‘Eu amo a Deus acima de tudo, mais do que a este filho precioso’.
Isaque teve tantas bênçãos. Abraão deu tudo a Isaque. A Ismael deu alguns milhares de ovelhas; mas Isaque recebeu tudo, já começou como um jovem milionário. O que lhe ocorreu quando vivia na terra dos filisteus? Houve uma grande fome e ninguém tinha comida, exceto no lugar onde Isaque estava. Ele teve uma colheita de cem por um. E todos se perguntavam o que ocorria nesse lugar.
Isaque era tão abençoado. Mas ele não foi abençoado, porque ao mesmo tempo todos o perseguiam. Ele tinha milhões, mas tinha medo de que todas as coisas fossem roubadas. Então, sempre que ele estava cavando um poço novo, o inimigo chegava e dizia: ‘Este é meu poço’, e ele tinha que fugir. Ele tinha milhões de ovelhas e não podia levá-las para beber. E ele dizia: ‘Ai, minhas ovelhas vão morrer’. E se movia para outro lugar, cavava outro poço. E o inimigo chutava a terra para dentro do poço.
Jacó não podia desfrutar da sua peregrinação; era um milionário miserável. Até que movendo-se e movendo-se e movendo-se, um dia, ele retornou para Canaã, a Berseba. E cavou um poço, e saiu água doce. Deus lhe falou, e na presença de Deus ele pôde desfrutar das bênçãos. Do que te serve ter um milhão de dólares, se não estiver na presença de Deus?
Aos jovens, advirto-lhes: tomem cuidado com a vontade de Deus neste assunto de dedicar-se aos negócios. Eu conheço muitas pessoas que correm atrás do dinheiro, mas não têm nenhuma comunhão, e apesar de ter muitas bênçãos materiais, não as desfrutam, porque o inimigo os oprime dia e noite.
Jacó também aprendeu a lição da bênção. Você entende que o caminho da cruz é um caminho de bênção? Mas temos que aprender a dirigir as bênçãos. O que aconteceu com Jacó? O que significa o nome Jacó? É alguém que se agarra às coisas; ele se agarrava às suas bênçãos. Eu quero esta bênção, eu quero aquela bênção. Ele tomou quatro esposas! E teve doze filhos, e milhões de ovelhas, o que fosse. Mas ele não era alguém que se agarrava a algo e estava feliz.
Jacó teve que aprender o que era a verdadeira bênção, e você se recorda quando ele aprendeu o que é a bênção. É quando ele agarrou a Deus. Ele abandonou todas as suas bênçãos, mas se agarrou a Deus, e então descobriu a razão pela qual ele foi criado. Eu espero que você agarre a Deus. Porque o que Jacó descobriu é que ele tinha todas as bênçãos, e apesar disso Esaú não o matou.
E José. José teve tantas bênçãos. Ele chegou a ser o segundo depois de Faraó. Foi-lhe dada sabedoria e grande autoridade. Mas José viu; quando os seus irmãos vieram, os seus olhos se abriram. ‘Por que Deus me abençoou desta maneira? Por causa dos meus irmãos e irmãs’.
Por que Deus tem te abençoado como ele o tem feito? Sei que alguém vai discutir comigo e vai dizer que Deus não lhe abençoou; mas você tem muitas bênçãos. Mas Deus não nos abençoa simplesmente para nós mesmos. Se guardarmos as bênçãos só para nós, serão como o maná, que se apodrece; mas quando usamos as nossas bênçãos a favor dos outros, então aprendemos o segredo da peregrinação.
Mas, apesar de tudo isso, o quinto ponto é que o caminho da peregrinação é o caminho da cruz. Isso significa que chegamos ao final de nós mesmos. Ele disse a Abraão que ele teria um filho, e ele pensou que ele teria um filho, mas em seguida descobriu que só pôde ter um filho quando ele estava como morto. Deus, em sua vontade soberana, leva-nos a um ponto em que descobrimos que não podemos fazer nada sem ele.
A vida de Isaque começou sobre o altar. Qual foi a primeira revelação que Isaque teve de Deus? A primeira revelação que ele teve de Deus foi Jehová-Jireh. Quando o seu pai veio sobre ele com uma faca e Deus lhe falou, Isaque também escutou essa voz. E viu como Deus havia provido um carneiro. Então, a vida de Isaque começa na cruz, e o resto de sua vida ele não a viveu para si mesmo.
Alguns de vocês não são casados ainda, e talvez você queira escolher um marido ou uma esposa. Isaque não teve escolha. O seu pai enviou um servo que lhe trouxe uma esposa. ‘Não a minha vontade, mas a tua, Senhor’. Claro, ele acabou com a esposa perfeita. Se Deus escolher uma esposa para você, terá uma excelente esposa. Com tudo isso, nós aprendemos que temos que chegar ao final de nós mesmos.
Lembra-te do que lemos sobre Jacó em Gênesis 47? Faraó lhe faz essas perguntas sobre a sua vida, e Jacó é muito honesto. Ele diz: «A minha peregrinação foi que 130 anos, mas ela foi amarga». Por quê? Porque ele tinha uma vontade própria muito forte, porque ele sempre estava fazendo os seus planos, as suas coisas, e foi só quando ele tinha quase cem anos de idade que Deus pôde derrotá-lo. E Jacó chegou ao final de si mesmo.
Mas, mesmo que estejamos caminhando nesta peregrinação, nós chegaremos ao final de nós mesmos. Nós vemos que não somos nada. Às vezes, você vê um irmão parado aqui, falando. Eu posso te garantir que esse irmão é um servo de Deus, e ele aprendeu que ele não é nada. Quando você serve ao Senhor, muitas vezes é humilhado, porque comete muitos enganos. Você fere muitas ovelhas de Deus.
Se você caminhar nesta peregrinação, chegará ao ponto em que verá que não é nada. Muitos servos de Deus pregam mensagens muito fortes, mas eles se sentem totalmente vazios; então eles se agarram a Deus para que ele lhes dê tudo. Então, o caminho de peregrinação nos leva ao final de nós mesmos, e finalmente nos leva ao verdadeiro conhecimento de Deus.
Como é que nós conhecemos a Deus? Como El-Shadday, como Jehová-Jireh. Nós o conhecemos de várias formas, à medida que ele se revela a nós. Mas todos aqueles que caminham nesta peregrinação com propósito, encontram o mesmo Deus. E o que é isso? O Deus de misericórdia. E Deus mostrou a cada um dos patriarcas, depois que eles viram os seus próprios fracassos, depois que eles viram quantas vezes foram infiéis, Deus lhes mostrou como ele estava usando ainda os fracassos das suas vidas para cumprir a Sua vontade.
Isaque era um fracasso. Ele queria que Esaú recebesse a bênção, mas quando Jacó recebeu a bênção, Isaque viu o quão carnal ele era. Ele abençoou a seu filho Jacó, e então ele viu algo, descobriu como Deus usou a sua própria cegueira para enviar a seu filho Jacó. E Jacó foi, e então vieram os doze filhos de Israel.
E nenhum dos patriarcas se sentiu tão desqualificado como Jacó. Ele tinha enganado a todos, ele feriu a todos, e mesmo assim, Deus lhe tinha prometido o seu cuidado. Ele se sentia que não era nada. Mas o que Jacó descobriu no final da sua vida? Ele reconheceu que não era nada, que a sua peregrinação tinha sido uma viagem amarga. Mas Deus levantou a sua família, e o fez um príncipe de bênção.
Deus usa até os fracassos da nossa vida. Há bênçãos, há problemas, há provas, há tragédias. Mas todas estão programadas para nos levar para o Senhor. Irmãos e irmãs, nós vivemos em um universo que tem o seu centro em Cristo. Mas o Espírito Santo ainda tem que convencer a ti que Cristo é o centro da sua vida.
Então teremos muitas bênçãos, e também algumas tragédias. Teremos fracassos, teremos corações rasgados, teremos algumas vitórias; mas, através de tudo isso, quando nós olhamos para trás, vemos que Deus transborda os nossos fracassos e os torna em bênçãos. Quão grande é o nosso Deus! Só ele pode tomar os nossos problemas e transformá-los em bênção. Deus tomou a vida desses quatro homens e os ordenou de acordo com o Seu propósito.
E à medida que Deus reúne pessoas nestes últimos dias, ele também vai enviar para uma peregrinação. Talvez você não tenha começado a tua ainda. Oh, peça ao Senhor que te mostre os seus caminhos, para que lhe conheça. Então começará a conhecer o caminho da vida, e conhecerás o Deus vivo. E descobrirá uma fé real, com a qual poderá contar, porque não é a sua fé, é a fé de um Deus grande.
Chegamos ao final de nós mesmos, mas mesmo assim, descobrimos um Deus que transborda as coisas, que converte as tragédias em vitórias. Temos esse grande Deus? Esse é o Deus que conhecemos?
Então, durante a sua peregrinação, você agarre a esse Deus, você lute com Deus e descubra o caminho vivo, e descubra a ele em sua vida, até que Cristo seja feito o centro da sua vida.

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