segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Uma Casa para Deus

Estudo sobre o TABERNÁCULO


A obra do tabernáculo no deserto como alegoria da edificação da Igreja.
Gino Iafrancesco
As tábuas
E "farás para o tabernáculo tábuas de madeira de acácia, que estejam retas" (Ex. 26:15). Isto é bem complicado, pois as acácias são bem tortas - como nós. Mas o Senhor toma torto, e o endireita. Graças a Deus que ele não esperou que fôssemos retos - nos tomou tortos como somos, mas ele nos endireita.
"O comprimento de cada tábua será de dez côvados, e de um côvado e meio a largura". Aqui torna a aparecer o número 10, que fala da universalidade. Cada tábua tem dez côvados de comprimento, e um côvado e meio de largura. Todas as tábuas são iguais. Deus não faz acepção de pessoas. Não importa a raça, a classe social, a nacionalidade, a cultura. Isso não conta para ele. O que o Senhor valoriza é que pertençam a ele. Deus quis ter toda classe de seres humanos. Para ele, cada homem tem o mesmo valor.
Mas agora aparece um problema. Diz: "...e de um côvado e meio a largura". Vemos que a largura não é uma medida completa. O número 'um e meio' é um número imperfeito. O número de Deus é 3, um número completo, perfeito. Mas 'um e meio' quer dizer que não está completo, que essa tábua tem que estar com outra tábua. Juntos, temos três.
Essas tábuas nos falam dos crentes. Os crentes são membros de um corpo; não podemos ser completos em nós mesmos; necessitamos dos nossos irmãos. Por isso, o Senhor Jesus disse: "...onde estão dois ou três congregados em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mat. 18:20).
Há promessas que foram dadas à igreja. Por exemplo, o Senhor Jesus disse: "...as portas do Hades não prevalecerão contra ela" (Mat. 16:18), contra a igreja. Se eu, como indivíduo, segundo o meu pensamento e parecer, pretendo me abrigar debaixo dessa promessa, ela não é para mim. As promessas dadas às pessoas, são para as pessoas; mas as promessas apresentadas à igreja, somente como igreja podemos obtê-las.
Então, a promessa de que as portas do Hades não prevalecerão, é uma promessa feita à igreja, como igreja. Temos que ter consciência de igreja, quer dizer, que não é você sozinho, nem eu sozinho, nem a soma de dois sozinhos, mas sim Cristo entre os dois. "...se dois de vós concordarem na terra a respeito de qualquer coisa que pedirem, ser-lhes-á feito" (Mat. 18:19). Temos que nos pôr de acordo, e esse acordo é o próprio Senhor Jesus, porque ele é a nossa paz. Por isso as tábuas não têm a largura suficiente em si mesma; têm uma meia medida, nos mostrando que temos que estar em comunhão com o outro, para fazer a medida completa.
Deus quer que estejamos em comunhão. Por isso, Eclesiastes 4 nos fala que "o cordão de três dobras não se rompe logo" (V. 12) e que "Melhor são dois do que um; porque têm melhor paga do seu trabalho" (V. 9).
O irmão Watchman Nee nos recordava este principio naquela passagem onde diz que um perseguirá mil, e dois perseguirão a dez mil. Se eu, por meu lado, persigo mil, e ele, por seu lado, persegue mil, nos escapam oito mil. Mas se juntos perseguimos o inimigo, vencemos a dez mil! Não é um mais um. Não, aqui não é uma questão de somar.
O irmão Nee também dava um exemplo: Se você tiver um copo, e esse copo se quebra em pedaços, e em cada pedacinho você coloca a máxima quantidade de água possível, ao juntar todos os pedacinhos, essa quantidade de água será pouca. Mas se todos eles formam um só copo, o copo pode conter mais água. Por isso, um perseguirá mil, mas dois não só a dois mil, mas sim a dez mil. "Porque onde estão dois ou três congregados em meu nome, ali estou eu...", diz o Senhor. Esse é o princípio da igreja.
Verso 17: "Duas espigas terá cada tábua, para as unir uma com a outra; assim farás todas as tábuas do tabernáculo". Deus quer que as tábuas estejam unidas uma com a outra. Esses encaixes nos falam de como são unidas uma tábua com a outra. Cada tábua está sobre bases de prata, e se une mediante uma espiga, um entalhe, com a tábua que está a sua direita e com outra espiga que está a sua esquerda. As tábuas estão unidas uma com a outra. Somos uma mesma coisa - somos o seu Corpo.
Continuemos lendo. Diz o verso 18: "Farás, pois, as tábuas do tabernáculo...". Teria que prepará-las; eram acácias. João Batista disse: "O machado já está posto sobre a raiz das árvores; portanto, toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo" (Luc. 3:9). Ou seja, que essas árvores representam os seres humanos, bem tortos, como as acácias. Mas diz: "Farás, pois, as tábuas para o tabernáculo...". Ou seja, evangelizarás às pessoas, as discipularás e, dessas acácias tortas, farás tábuas para o tabernáculo.
E agora, diz o seguinte: "...vinte tábuas para o lado meridional, ao sul. E farás quarenta bases de prata debaixo das vinte tábuas; duas bases debaixo de uma tábua para as suas duas espigas, e duas bases debaixo de outra tábua para as suas duas espigas. E do outro lado do tabernáculo, do lado do norte, vinte tábuas, e as suas quarenta bases de prata; duas bases debaixo de uma tábua, e duas bases debaixo da outra tábua". Já são quarenta tábuas e oitenta bases.
A prata, na Bíblia, representa a redenção. O siclo do resgate, a moeda do templo, era de prata. Cada um devia pagar um siclo de prata por seu resgate. Quer dizer que a redenção é o preço que o Senhor pagou para nos recuperar, e está representada pela prata. Portanto, uma tábua sobre bases de prata quer dizer que são pessoas redimidas. E quando são duas bases, é confirmação, é segurança, é verdade: essas pessoas são salvas, e pertencem à casa de Deus.
Em cada base, há uma espiga a sua direita, e uma espiga à esquerda. Isto quer dizer que temos que nos unir não só com os da direita, mas também com os da esquerda; com estes irmãos... e com aqueles irmãos. Naturalmente, nós, às vezes, temos preferências; mas na comunhão nunca devem prevalecer as preferências humanas.
O ser humano, em si mesmo, tem simpatias e tem antipatias; mas, na casa de Deus, nem as simpatias, nem as antipatias devem ter lugar. Na casa de Deus, a inclusividade de Cristo: todos os que ele recebera são nossos irmãos. Nós não podemos escolher os irmãos; temos que aceitar os irmãos que o nosso Pai gerou. Não somos nós que dizemos quais irmãos nós gostamos; é Deus que diz quem são os nossos irmãos.
Deus quer que tenhamos irmãos com narizes largos, que às vezes se metem onde as pessoas não querem, e também irmãos com narizes chatos... Deus gerou toda classe de filhos, e são nossos irmãos. Por isso, cada tábua deve estar disposta a ser unida com as demais tábuas, por um lado, e por outro lado.
Eu sei que exercer a prática de estar unido com pessoas que nos são simpáticas, é fácil. Mas, em Cristo, devemos nos exercitar em ter comunhão com os irmãos que para a carne são antipáticos. É fácil abraçar os que nos agradam, mas devemos abraçar a todos, porque isto agrada a Deus; devemos ter como irmãos aos que Deus tem como filhos. A quem o Senhor recebeu, nós devemos recebê-los.
A nossa receptividade com os filhos de Deus deve ser a mesma de Deus. A igreja não pode ser menor do que é. Tampouco pode ser maior. As tábuas têm que estar em bases de prata - têm que ser pessoas redimidas. Mas, todos os redimidos, todos os que o Seu sangue limpou, e os que o Seu Espírito regenerou, são nossos irmãos. Nosso coração deve alargar-se para que possa caber todos os que cabem no coração do Senhor.
Deus ordenou vinte tábuas para o norte, vinte tábuas para o sul, seis para o ocidente e duas tábuas nas esquinas. Verso 22: "E para o lado posterior do tabernáculo...". Posterior, porque o Senhor começou no oriente, porque o sol sai no oriente. O lado posterior é no ocidente, porque o sol circula para o ocidente. "...farás seis tábuas. Farás também duas tábuas para as esquinas do tabernáculo nos dois cantos posteriores...".
No oriente, Deus não colocou nenhuma tábua. No ocidente colocou seis, e na esquina entre o ocidente e o norte, e na outra esquina entre o ocidente e o sul, colocou uma tábua e outra tábua. As tábuas do norte e do sul têm esta direção, e as do ocidente esta outra direção; mas as tábuas das esquinas não têm nem uma nem a outra, mas sim são oblíquas, mas unem às duas. 20 + 20 + 6 + 1 + 1 = 48 tábuas.
Deus escolheu que em sua casa houvesse quarenta e oito tábuas - o corpo de Cristo representado em quarenta e oito tábuas. 48 é o resultado da multiplicação de 6x8. O número 6 é o número do homem, criado no sexto dia. Mas o 8 é, depois do 7, um novo começo; representa a ressurreição. O homem foi feito no sexto dia. Depois da queda, converteu-se em um velho homem. Mas, ao ser redimido, ressuscitado juntamente com Cristo, é um novo homem. Portanto, as 48 tábuas representam o novo homem, que é o corpo de Cristo. (Ver Efésios 2:11-16).
Vejamos por que no oriente não há nenhuma tábua: porque o Senhor é zeloso. Por um lado, ele disse: "Não terás deuses alheios diante de mim" (Ex. 20:3). E também o Senhor Jesus disse: "Nem sejais chamados mestres..." (Mat. 23:10). A palavra ali não é didaskalos como aparece em Efésios 4, que se traduz como mestres ou tutores. Em Mateus 23, onde a tradução Reina-Valera diz mestres, a palavra é cateketes, de onde deriva 'catequista', que significa modelo. Podemos ter irmãos que nos ensinem, mas não podemos tê-los como modelos.
Muitos irmãos nos podem ensinar. Deus quer que na igreja ensinemo-nos uns aos outros, exortemo-nos uns aos outros, e que aquele que tem esse dom de ensinar, ensine. Pode ser um didaskalos, mas não um cateketes; não um mestre no sentido de modelo. A ninguém chameis mestre no sentido de modelo, ao qual se deva amoldar, porque só um é o seu cateketes, só um é o seu catequista, só um é o seu modelo, o Cristo.
Por isso, no oriente não pode haver nenhuma tábua, porque não há outro mediador entre Deus e os homens. Todas as tábuas estão ao redor, todos juntos fazemos recepção ao Senhor, todos olhamos para o oriente. Orientamo-nos pelo oriente, e o Sol da justiça é o Filho de Deus. Sai pelo oriente, tem entrada direta, sem mediadores, no corpo de Cristo. Na porta do oriente, só podia entrar Deus. O príncipe entrava por um flanco. Hoje em dia, a porta do oriente está fechada. Ninguém pode entrar por ela, só o Messias.
No lado da porta do oriente, há uma porta estreita por onde o príncipe - por representar autoridade - tem que passar com cuidado; porque pela porta do oriente só pode entrar o Senhor. Por isso diz: "Porque há ... um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1ª Tim. 2:5). "...ninguém vem ao Pai, senão por mim" (Jo. 14:6).
Todas as tábuas têm a mesma medida, e estão aos pés do Senhor, rodeando-O; mas ninguém pode ficar nesse lugar. O que se põe como cabeça, fica sem cabeça. "E também àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, tragam para cá, e decapitai-os diante de mim", diz o Senhor (Luc. 19:27). Todos os que se puserem por cabeça, ficarão sem cabeça.
As tábuas de esquinas
Vejamos outros detalhes destas tábuas que rodeiam ao Senhor. Verso 22: "E para o lado posterior do tabernáculo, ao ocidente, fará seis tábuas". Então, aqui são vinte; por este outro lado, vinte, e por lá, seis. Mas o número 20 é um número incompleto. Se fosse 21, ou seja, 3x7, então seria algo bonito. E se fosse 7... Deus completa a sua obra em sete, mas não em seis. Mas ele completa este seis, e completa estes vinte, colocando tábuas de esquinas.
Note que, no povo de Deus, às vezes, uns filhos de Deus caminham numa direção. Por exemplo, os calvinistas têm uma direção, e os arminianos têm outra; às vezes os pentecostais têm uma direção e os não pentecostais tem outra. E, se continuarem assim, se chocam. Então, o Senhor tem que ter alguns filhos que são como catalisadores.
Vocês sabem o que, na química, é um catalisador? Por exemplo, um elemento que, por si só, não se pode mesclar com outro elemento. Não se suportam, resistem-se; pode haver uma explosão. Mas, então, há um terceiro elemento que pode ter comunhão com este elemento e pode ter comunhão com aquele outro elemento, e assim permite que os outros dois elementos, que não podem se ver nem pintados, estejam juntos.
Na casa de Deus é necessário essa classe de irmãos pacificadores, que procuram que os irmãos não caiam nos extremos, mas sim completem os vinte para que sejam vinte e um, e completem os seis para que sejam sete. As tábuas de esquinas! "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mat. 5:9). Na casa de Deus é necessário irmãos conciliadores, irmãos que procurem evitar os extremos, que procurem ver o lado bom de cada um e possam assim estar juntos.
O 6 se completa por um lado: 7; pelo outro lado: 8. Números de Deus. E o 20 se completa com o 21. Às vezes, nós somos um pouco quadrados, às vezes não aceitamos outro tipo de pensamento que seja um pouco diferente do nosso e, se seguirmos nessa direção, vamos nos chocar constantemente com os nossos irmãos.
Estamos analisando as coisas; não chegamos ao fim. Cada um tem o direito de procurar entender da melhor maneira possível, e pode contar aos outros o que parece estar vendo; mas nada disso é definitivo, nada disso é dogmático. Temos que seguir entendendo juntos, porque a palavra do Senhor diz "compreendendo com todos os santos" as riquezas de Cristo. O que me falta, você o tem; o que você não tem, outro o tem, e, entre todos, temos tudo.
O corpo tem que ser como um grande pijama. Um irmão gordo tem que ter um pijama grande, porque se for pôr o pijama de um menino, não vai caber o pé. Necessita um que seja para ele. Assim também, o Senhor Jesus é muito grande, e a sua plenitude necessita um grande pijama, que é o corpo de Cristo. Nossa estreiteza denominacional ou de escola não permite que caiba a perna do Senhor. Ele tem que caber na plenitude dos irmãos.
A inclusividade do corpo de Cristo significa, no mínimo, três coisas. Primeiro, o corpo deve receber tudo o que é de Cristo, todas as riquezas de Cristo. Pode ser que alguém não goste dessas línguas tão estranhas, que alguns interpretem; mas o Senhor deu o dom de línguas também. Então, todos os dons, todos os ministérios, toda a Palavra, todos os aspectos da Palavra; claro, cada coisa com a sua importância.
Os instrumentos do ministério têm cada um, a sua importância. Há colheres pequenas, há garfos, há grelhas para assar carne... Não vamos pôr a colher no lugar da arca. Não, ela tem o seu lugar. É necessário pôr cada coisa em seu lugar, dar a cada coisa a sua medida: o que é primário, em primeiro; o que é secundário, em segundo, e o que é terciário, em terceiro. A palavra de Deus diz: Primeiro, segundo, terceiro. O Senhor diz o que é maior e o que é menor.
Às vezes, irmãos, no povo de Deus, têm desordenado a hierarquia de valores. Então, os irmãos que tomam esta linha se chocam com aqueles que tomam aquela outra linha, e Deus tem que pôr amortecedores, nas esquinas e dizer: "Espere irmão. Sim, sim, é evidente que o irmão é pós-tribulacionista, ou pré, mas é irmão! É evidente que aquele duvida das línguas, e diz que isso era para o tempo dos apóstolos, mas é irmão!
Há coisas que são primárias, que são maiores, que são mais importantes, que são camelos! E há coisas que são mosquitos. Quando temos a consciência distorcida, coamos o mosquito, e engolimos o camelo. Então, irmãos, necessitamos do corpo de Cristo - irmãos que nos ajudem a colocar a cada coisa no seu lugar.
Às vezes, nós, que estamos entendendo a igreja, pomos o candeeiro no Lugar Santíssimo. E vem por aí alguém apresentando a outro Jesus. Mas, como diz que ele também entende a igreja, então, metemos na panela sapos e cobras. Vocês estão se dando conta, irmãos? Primeiro é a arca. Se não apresenta o mesmo Jesus dos apóstolos, Deus e Homem verdadeiro, o Filho de Deus... Isso é o que está em primeiro, a arca.
A primeira coisa fundamental é o próprio Senhor. Deus trino. O Filho, Deus com o Pai, e Homem verdadeiro, tentado em tudo, semelhante a nós; no propiciatório, morto por nossos pecados, para que sejamos justificados pela fé. A essência do evangelho, o que primeiro Paulo pregou: que Cristo - a arca - morreu pelos nossos pecados. "...primeiramente lhes ensinei o que também recebi: Que Cristo morreu por nossos pecados, conforme às Escrituras; e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, conforme às Escrituras" (1ª Cor. 15:3-4).
Esse é o fundamento, é o principal. A isso se refere a arca, a isso se refere o propiciatório: à pessoa e obra do Senhor Jesus, a essência do evangelho, que é sobre o Filho, que morreu por nossos pecados. "Palavra fiel e digna de ser recebida por todos: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro" (1ª Tim. 1:15). O primeiro é primeiro. Quando começamos a pôr ordem em nossa escala de valores, começamos a ver o precioso dos irmãos, e podemos passar por cima dos mosquitos.
Necessitamos de tábuas de esquinas, irmãos que ajudem à pacificação, à reconciliação, a acalmar os ânimos; catalisadores, pacificadores.
Os gonzos
Êxodo 26:24: "...as quais - as tábuas - se unirão desde baixo...". Quer dizer, edifica-se de baixo para cima. "...e deste modo se juntarão por seu alto com um gonzo". O gonzo (argolas) está em cima, ou seja, que Deus exerce certa pressão para que mantenhamos o nosso lugar em conformidade com as demais tábuas. Não podemos ir para lá ou para cá; necessitamos uma pressão divina. É como se fosse outra espécie desses colchetes de ouro que sustentavam os tecidos do interior, e os colchetes de bronze que sustentavam a cobertura de pêlo de cabra.
O amor de Cristo nos constrange, mas a disciplina está representada no bronze. Então, vemos também a mão corretora de Deus. E agora vemos também outra espécie de colchete, mas que é um gonzo. Que já não é para as cortinas, mas sim para as tábuas, para retê-las em seu posto, para que não se adiantem, nem se atrasem, nem se entortem para um lado nem para o outro.
Por exemplo, uma vez, Paulo estava em uma cidade; foi-lhe aberta uma porta ali, mas não teve descanso em seu espírito, por não ter achado o seu irmão Tito. Há coisas que têm que ser feita com outros, e se não estiver o outro, a coisa fica torcida. Precisamos ter sensibilidade no espírito, para saber que devemos estar com um irmão. Às vezes, Pedro fala, e os Onze o respaldam; às vezes, João fala; às vezes, Paulo. Qualquer um que fale, os Onze estão detrás. Levantou-se Pedro com os Onze, ou seja, eles tinham consciência do corpo, consciência de colegiado.
I remos ver essa conscientização em Atos 1, do 15 em diante. Aqui estão os apóstolos no cenáculo, orando para que viesse o Espírito Santo. Eles são a igreja, eles são como o tabernáculo. E o dia de Pentecostes, a nuvem de glória vai descer sobre o tabernáculo e vai enchê-lo. Mas então, o tabernáculo tem que estar preparado. Mas por lá há algo que falta.
Então diz: "Naqueles dias Pedro se levantou no meio dos irmãos (e os reunidos eram como cento e vinte em número) - como os cento e vinte sacerdotes que tocavam trombetas quando Salomão inaugurou o templo, quando foi colocada a arca no Santíssimo - e disse: Varões irmãos, era necessário que se cumprisse a Escritura em que o Espírito Santo falou antes por boca de Davi a respeito de Judas, que foi guia dos que prenderam a Jesus...". E olhem o verso 17, como fala Pedro: "...e era contado conosco, e tinha parte neste ministério...".
Olhe a consciência de Pedro: eles contavam um com o outro. Não era André sozinho, não era Tiago sozinho, não era Pedro sozinho. Pedro contava com eles, e eles contavam um com o outro. Quando uma pessoa via a Pedro, lembrava-se que João estava associado a ele, e o completava, o protegia, o ajudava. E também se cuidavam mutuamente. Era consciência de colegiado, consciência de equipe.
Em outro capítulo, diz que há diversidade de ministérios; cada qual tem o seu próprio serviço. Isso, por um lado. Mas, por outro lado, todos juntos têm o ministério da Palavra do Novo Pacto, do Espírito, da justificação, da reconciliação.
Eles eram muitos, mas o Novo Pacto é um só, a Palavra é uma só, o Espírito é o mesmo, a justificação que todos anunciam é a mesma, a reconciliação que todos promovem é a mesma. Ou seja, que o ministério do Novo Testamento é um bolo completo. Mas Pedro tinha um pedaço, João outro, Tiago outro, André outro, Bartolomeu outro.
Aí temos a plenitude de Cristo no corpo: tudo o que é de Cristo, em todos os irmãos, e cada irmão funcionando na plenitude da sua função. Mas as vezes, bem, como Saul, dizemos: "Ai! Este Davi! As pessoas estão dizendo que Davi matou dez mil e que Saul só mil. Vou cravar-lhe uma lança! Davi me incomoda".
Mas, quando viu o corpo, você sabe que tudo o que tem de Cristo é só uma parte, e que necessita tudo o que todos têm de Cristo, para que, como igreja, tenhamos o pijama grande, para que o Senhor caiba. Porque se o Senhor vai pôr o seu pé neste meu pijama, não lhe basta. Ele é muito grande e muito rico; cabe a samaritana por aqui, Nicodemos também, e o zelote, e o publicano; todos cabem.
"Judas", diz Pedro, "tinha parte neste ministério". Quando ele diz: "...este ministério", e em seguida diz no verso 23 da mesma maneira: "E assinalaram a dois: a José, chamado Barsabás, que tinha por apelido Justo, e a Matias. E orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra qual destes dois escolheste, para que tome parte neste ministério e apostolado...". O ministério, o apostolado, é o bolo completo. E Judas tinha uma parte, da que caiu, e então a ocupou Matias.
Mas, note a consciência colegiada que tinha Pedro: "...e era contado conosco, e tinha parte neste ministério". Olhe como também Paulo falava, em 2ª Coríntios 4:1. No capítulo 3, tinha falado já do ministério da justificação, e no capítulo 5, vai falar sobre o ministério da reconciliação. Esse, o ministério da justificação, o da reconciliação, o do Espírito, o da Palavra, o do Novo Pacto, é o bolo completo.
"Pelo qual, tendo nós este ministério, segundo a misericórdia que recebemos, não desmaiamos". "Tendo nós este...". Não você, o teu e eu o meu, que, por um lado, também é certo, mas não o podemos levar ao extremo do individualismo. O seu pedaço e o meu pedaço, e o pedaço de todos, é este ministério que nós temos. Por isso, as tábuas têm que estar uma com a outra, unidas por encaixes, mas também por gonzos e por barras. E todas as barras têm a mesma direção, e todas mantêm ajustado e aperfeiçoado o mesmo tabernáculo.
As barras
Êxodo 26:26. "Farás também cinco barras de madeira de acácia, para as tábuas de um lado do tabernáculo". Ou seja que por aqui, pelo sul, operam os cinco ministérios. Também são de madeira de acácia; são seres humanos. Mas Deus as desenhou para que, em comunhão com as outras barras, mantenham estas tábuas em ordem. Ou seja, que há três maneiras de manter as tábuas em ordem: por baixo, através dos encaixes; por cima, através dos gonzos, e pelo meio, através das cinco barras.
"E ele mesmo constituiu a uns, apóstolos...", que é a barra do meio, que vai de um extremo ao outro. Esses são os apóstolos. E há também profetas, evangelistas, pastores e mestres. Cinco barras, também de madeira; também terá que cobri-las de ouro, como as tábuas. Então, diz assim: "Farás também cinco barras de madeira de acácia, para as tábuas". As barras são para as tábuas: o ministério é para a edificação do corpo de Cristo, para aperfeiçoar os santos para a obra do ministério.
"...e cinco barras para as tábuas do outro lado do tabernáculo, e cinco barras para as tábuas do lado posterior do tabernáculo, ao ocidente". Pelo sul, estão os cinco ministérios, pelo norte também, pelo ocidente também. No oriente, está só o Senhor, porque o que orienta a todos é a Cabeça.
Mas o Senhor quis que a sua Casa fosse aperfeiçoada, edificada, pelos ministros que ele deu à igreja. Então, diz no verso 28: "E a barra do meio passará pelo meio das tábuas, de um extremo ao outro". Das cinco barras, ressaltou esta, porque diz a Palavra: "...primeiramente apóstolos, em seguida profetas, em terceiro mestres, em seguida os que fazem milagres, depois os que curam, os que ajudam, os que administram..." (1ª Cor. 12:28).
Verso 29: "E cobrirás de ouro as tábuas...". Terá que cobrir as tábuas com ouro e também as barras. Não temos que ver a tábua, só o ouro que a cobre. Revestidos de Cristo, escondidos nele. A barra não se vê, a tábua não se vê; se vê o ouro. Deus nos esconde, para que nós não apareçamos, mas sim apareça somente o ouro.
"E cobrirá de ouro as tábuas, e farás suas argolas de ouro para colocar por eles as barras; também cobrirá de ouro as barras". Observem que diz que as tábuas têm suas argolas. A cada tábua correspondem cinco argolas de ouro. Claro que da madeira não brotam argolas; é do ouro que saem as argolas. E, para que são as argolas? Para colocar as barras por elas, quer dizer, para assentar, apoiar e sustentar o ministério.
Cada tábua, junto com a que está ao lado e a do outro lado, todas as vinte daqui, recebem as cinco barras. Cada barra recebe a plenitude do ministério. Não há tábua que tenha uma só argola, ou só duas argolas; todas têm cinco argolas, porque o Senhor quer que recebamos todo o bolo.

CASA ESPIRITUAL E SACERDÓCIO SANTO

A descrição que se faz em Êxodo do capítulo 25 em diante a respeito das coisas em que os filhos de Israel deviam ocupar-se, pode dividir-se em duas partes, ambas intimamente relacionadas.
Uma é a Casa de Deus, e a outra é o Sacerdócio. Isto pode considerar-se o resumo dos capítulos finais de Êxodo. Embora ambos os temas excedam os limites deste livro, temos aqui uma importante primeira aproximação ao assunto.
O apóstolo Pedro, em sua Primeira Epístola, toca também nestes dois pontos no capítulo 2, referidos precisamente à Casa de Deus. "Achegando-se a ele, pedra viva, desprezada na verdade pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio do Jesus Cristo" (v. 4-5).
O conteúdo e ordem das coisas ditas no Antigo Testamento temos que buscá-lo também no Novo, porque estão intimamente relacionados. O Antigo apontava para o Novo, e o Novo procura no Antigo as bases de sua autenticação. A Casa de Deus está no Antigo, e também está no Novo. No Antigo, como figura e sombra das coisas celestiais; no Novo, como as coisas celestiais mesmas.
As coisas que antes foram escritas, para nosso ensino foram escritas (Rom. 15:4). As coisas do Novo encontram maior beleza e sentido quando as buscamos no Antigo Testamento. É curioso, mas aqui as sombras lançam luz sobre as coisas novas, até as fazer resplandecer. Por isso, o escriba sábio no reino dos céus tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas (Mat. 13:52).
O primeiro, então, é a Casa; em seguida, o sacerdócio. As cortinas e tábuas, os colchetes e os espevitadores pouco sentido teriam para nós - exceto talvez histórico - se não fora porque o Espírito Santo as escreveu e dispôs para nós também, para nosso proveito e ensino. O mesmo podemos dizer em relação ao sacerdócio.
Por que Deus dispôs as coisas com tanto rigor? Por que proibiu a Moisés pôr a mão no desenho das coisas? Por que tudo devia ser conforme o que Moisés tinha visto no monte? Simplesmente, porque tudo aquilo tinha um valor metafórico e figurativo, que teria que conhecer-se depois na perfeição.
A Casa é a Igreja; e o sacerdócio o conformam a todos os crentes no Senhor Jesus Cristo. A metáfora tem uma significação maravilhosa, e nós podemos vê-la agora com todo seu esplendor, o qual não puderam ver os judeus. "Moisés na verdade foi fiel em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho do que se havia de anunciar" (Heb. 3:5). Havia algo que ia ser dito depois, e Moisés pôs as bases simbólicas para aquilo. Se Moisés falhasse, se não fizesse as coisas conforme o modelo, como poderia haver concordância com "o que se havia de anunciar"?
Assim, Pedro interpreta a Moisés, e o livro de Êxodo nos abre generosamente
O tabernáculo
O Evangelho do João usa –no grego– uma palavra muito interessante referente ao Senhor Jesus que não foi devidamente traduzida no espanhol.
Esta palavra está no capítulo 1, versículo 14: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós (e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai), cheio de graça e de verdade". "Habitou" significa aqui "fixou tabernáculo", ou, para usar uma só palavra, "tabernaculizou".
Por que João utiliza esta palavra tão estranha, difícil de traduzir? –De fato nenhum tradutor a utilizou–. A razão é muito simples: João nos está chamando a atenção para o tabernáculo no deserto, pois o Senhor Jesus é o verdadeiro tabernáculo de Deus com os homens. Ele deu cumprimento à figura do tabernáculo levantado por Moisés, de maneira que ao revisar os diferentes aspectos daquele, temos que ter sempre em conta a quem aponta, e de quem nos fala.
Deus disse o Moisés: "Farão um santuário para mim" (Ex. 25:8). Da mesma maneira, Deus demandou a Maria que oferecesse seu ventre para que, dali, pudesse levantar um tabernáculo para Si em Jesus Cristo. Por isso quando o Senhor disse: "Destruam este templo, e em três dias o levantarei" (Jo. 2:19) estava se referindo a esta "construção" feita pelo Espírito Santo no ventre da Maria, quer dizer, o "templo de seu corpo" (V. 21).
A dupla natureza do Senhor Jesus Cristo – divina e humana– está muito bem representada no tabernáculo. Tanto na cor das cortinas: as cortinas azuis, sua divindade; as vermelhas, sua humanidade; as púrpuras, a síntese de sua dupla natureza divina e humana. Do mesmo modo, grande parte do mobiliário tem a dupla natureza implícita na madeira e no ouro. A madeira, a humanidade; o ouro, a divindade. Todo o tabernáculo é um anúncio, não só de sua natureza, mas também de sua obra.
Da mesma maneira como o tabernáculo tinha três ambientes, o Átrio, o Lugar Santo, e o Lugar Santíssimo, assim também a natureza do Senhor – e a de todo cristão– é tripartida: corpo, alma e espírito. No Senhor estava personificado o tabernáculo, com todo seu simbolismo realizado na perfeição.
Deus pediu a Moisés que lhe levantasse um tabernáculo, pois ele quis habitar no meio de seu povo. Desceu de sua excelsa glória, para estar próximo dos homens. Assim também em Cristo, Deus estava salvando a maior distancia –não só física, mas também moral– para vir habitar entre os homens: "Emanuel, Deus conosco". Deus se aproximou do homem, e proveu um meio para que o homem pudesse aproximar-se de Deus (Daí o nome de "tabernáculo de reunião").
Havia ali uma ampla porta para todo aquele que precisasse aproximar-se de Deus.
Quando o tabernáculo esteve em pé, Deus falou ali a Moisés. Antes tinha falado no monte; agora falava no tabernáculo (Lev. 1:1). Que próximo e acessível! Em Cristo, Deus desceu e podemos lhe tocar; Deus veio e podemos lhe ouvir.
Mais adiante acharemos que o tabernáculo também representa à Igreja, mas o ponto primário e principal do que nos fala é de nosso Senhor Jesus Cristo.
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A arca
A primeira coisa do tabernáculo a ser mencionada por Deus é a arca (Ex. 25:10-22). Deus tinha expresso seu desejo de que lhe construíssem uma casa onde habitar; havia dito que deviam reunir os materiais, e sobre tudo, que tudo devia ser feito conforme o modelo que seria mostrado a Moisés no monte.
As instruções agora começam, e a primeira coisa a ser mencionada é a arca. Tem importância a ordem em que os móveis do tabernáculo são mencionados e descritos? Sem dúvida nenhuma, porque o arca tipifica a Cristo. O tabernáculo em seu conjunto representa à igreja (composta por ex-judeus e ex-gentis), e dentro dela o mais importante é o Senhor Jesus Cristo. O centro da atenção de Deus é Jesus Cristo.
Sabemos que a arca devia localizar-se no Lugar Santíssimo, e este , por sua vez, era o lugar mais importante de todo o tabernáculo. Com efeito: O tabernáculo era o ponto central do acampamento no deserto. Dentro do tabernáculo, o lugar principal era o Lugar Santíssimo, e dentro deste Lugar, o centro de toda a atenção era a arca do testemunho. Tudo parte da arca; se a arca estava em seu lugar, todo o resto estava bem.
O fundamento em toda edificação de Deus é Jesus Cristo. O Senhor disse a Pedro: "Sobre esta pedra (a revelação de Cristo) edificarei a minha igreja" (Mt. 16:18). Paulo disse: "Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" (1ª Cor. 3:11). Pedro disse, citando o profeta: "A pedra que os edificadores rejeitaram, veio a ser cabeça de esquina" (1ª Pd. 2:7), e essa pedra é Jesus Cristo.
O arca era de madeira de acácia, recoberta inteiramente de ouro, por dentro e por fora; o qual representa a perfeita humanidade (madeira) do Senhor Jesus Cristo, e também sua perfeita divindade (o ouro). A arca tinha quatro anéis, pelos quais passavam duas varas, para transportá-la. Isto significa que a arca se movia. É a presença de Deus que ia no meio de seu povo, em seu caminhar cotidiano. Assim também, Cristo é transportado por seus sacerdotes, sobre seus ombros, como naquele episódio do passagem do rio Jordão. Cristo não aceita ser levado sobre um veículo, como aquela carreta que usou David, e que Deus reprovou, senão sobre os ombros e o coração dos que lhe amam.
Quando se transportava a arca, ficava sobre ela o véu da tenda e a cobertura de peles de texugos, mas sobre tudo isto ia um pano azul (Núm. 4:5-6). Era o único móvel do tabernáculo que aparecia o azul por fora, tipificando com isto o caráter ressuscitado do Senhor Jesus Cristo, diferente de todo o resto, que levava o pano azul por dentro, porque a vida divina ainda está oculta nos crentes.
Dentro do arca iam três coisas, a maneira de testemunho: as tábuas da lei, uma arca com o maná, e a vara do Arão que reverdeceu. Elas nos mostram três aspectos preciosos de Cristo: Cristo, como expressão do caráter de Deus; como pão da vida; e como a ressurreição. Os que têm a Cristo têm a Deus na plenitude.
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O propiciatório
O propiciatório era coberto de ouro e cobria a arca. Diferente dos outros móveis, o propiciatório não era de madeira recoberta com ouro, mas sim de ouro puro. Isto nos indica de que não há nada de humanidade naquilo que o propiciatório representa. Aqui está o testemunho da obra de Deus em Cristo, feita a favor do homem para reconciliá-lo com Deus. Na obra de redenção, não há participação do homem, exceto para recebê-la, como destinatário e beneficiário dela.
Se a arca não tivesse propiciatório, teria sido perfeita para Deus, mas terrível para nós. O propiciatório é a provisão de Deus, sua graça e sua misericórdia para o homem. A palavra "propiciatório" tem a ver com "propiciar", que é estar a favor de algo ou alguém; o propiciatório está inteiramente a favor do homem. O propiciatório cobria totalmente o arca, o qual significa que seu conteúdo é suficiente para Deus e para nós.
O arca é também o trono de Deus no meio do seu povo, pois através dela Deus governa. E o governo de Deus muitas vezes implica juízo. Entretanto, este trono de governo (e de juízo) tem sua cobertura permanentemente ungida com sangue. É o sangue da expiação, pela qual a justiça de Deus é satisfeita, e os homens são absolvidos e declarados justos.
Isto era o que declarava cada vítima sacrificada, cujo sangue era posto ali uma vez por ano pelo sumo sacerdote. Mas sobretudo, ela anunciava o sangue mais precioso, sem mancha, que o Cordeiro de Deus teria que derramar na cruz do Calvário, não só para cobrir nossos pecados, mas sim para tirá-los de uma vez e para sempre. Porque certamente, aquela sangue tipológico só cobriu temporalmente a multidão de pecados, mas o sangue de Cristo, tirou todos, aqueles do Antigo Pacto, e os atuais, sob o Novo (Heb. 9:15).
A expressão do Paulo em Romanos nos sugere claramente a preciosa obra do sangue de Cristo no propiciatório, não do tabernáculo terrestre, mas sim no celestial: "Sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus pôs como propiciaciação por meio da fé em seu sangue..." (Rom. 3:24-25). Também o diz Hebreus: "Porque se o sangue dos touros e de bodes e as cinzas de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santificam quanto a purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas para servirdes ao Deus vivo?" (9:13-14).
João, no final da era apostólica, recorda-nos isto mesmo ao dizer: "Meus filhinhos, estas coisas lhes escrevo para que não pequem; e se alguém tiver pecado, temos um advogado para com o Pai, a Jesus Cristo o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" (1ª João 2:1-2).
Cristo não é só a verdadeira arca, mas também o verdadeiro propiciatório, provisão constante e preciosa para todo crente.
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A mesa dos pães
O segundo móvel do tabernáculo descrito em Êxodo 25 é a mesa dos pães da preposição. Como dissemos, a seqüência é importante quando se descrevem os móveis do tabernáculo. Primeiro está a arca no Lugar Santíssimo, porque representa a Cristo; em seguida, avançando para fora, no Lugar Santo, há dois, primeiro do lado norte –a mesa– e o outro Ao sul –o castiçal.
A mesa, pois, está em segundo lugar. Ela era feita de madeira de acácia, recoberta de ouro. Tinha uma guarnição de ouro, uma moldura de ouro, quatro anéis, um em cada esquina, e varas para transportá-la. Sobre a mesa deviam ficar semanalmente doze pães, um por cada tribo.
Esses pães da proposição representam ao povo de Deus, e a mesa nos fala de comunhão (Ap. 3:20). Ela é a expressão da comunhão do povo de Deus. Os pães passam por um processo antes de chegar a ser tais. Há trigo moído, amassado e cozido. Da mesma maneira, o povo de Deus não é o conjunto de grãos, quer dizer, não são indivíduos, mas sim homens e mulheres cujo ego foi moído até o pó, para chegar a ser um.
O fogo do forno é parte importante do processo. Submetido a altas temperaturas, o pão chega a estar em condições de ser comido. Como poderia o Filho de Deus comer um pão cru, ou uma "bolo não virado" (Os. 7:8), quer dizer, cozida por um lado mas cru pelo outro? Na mesa do Senhor, na comunhão com Cristo, há pães devidamente amassados e cozidos.
Há quatro coisas que caracterizavam a vida da igreja em Jerusalém, nos tempos dos apóstolos: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão uns com outros, no partir do pão e nas orações" (Atos. 2:42). Estas quatro coisas guardam estreita relação com os principais móveis do tabernáculo, sendo o primeiro deles a arca, "a doutrina dos apóstolos", quer dizer, Cristo. A segunda dessas coisas, quer dizer, "a comunhão uns com os outros" é a mesa dos pães da proposição.
Devemos ter o que oferecer ao Senhor quando vier ter comunhão conosco. Assim como nós comemos do Pão vivo que desceu do céu (pois ele se deu a nós), ele também come de nós, e então temos que estar convenientemente amassados, quer dizer, tendo perdido nossa individualidade, e assados, quer dizer, julgados e despojados de nossa condição natural. Nada do velho deve ficar em nós. Devemos chegar a ser agradáveis ao Senhor, em quem ele possa achar contentamento, porque ele é o Filho sobre sua casa (Heb. 3:6). Podemos oferecer ao Senhor uma comunhão íntima em uma mesa limpa, bem provida de pães assados, da melhor farinha?
A mesa também tem a ver com a comunhão uns com outros. Se tivermos comunhão com Cristo, então é possível a comunhão verdadeira com outros filhos de Deus. "Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com outros" (1ª Jo 1:7).
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O candelabro
O terceiro elemento que se descreve do tabernáculo é o candelabro. Os detalhes de sua construção, e sua simbologia, são muito ricos, e excedem a possibilidade de explicá-los aqui. Entretanto, eis aqui os mais relevantes.
O primeiro é que é de ouro maciço, de uma só peça, lavrado a martelo. Seu peso é de um talento, quer dizer, 34 quilogramas. Há nele uma unidade indivisível, que é a unidade da igreja local. Na visão inicial de Apocalipse, o Senhor Jesus está no meio dos sete candelabros de ouro, os quais são as sete Igrejas (Ap. 1.20). Diferente do tabernáculo, que representa a igreja universal, o castiçal tipifica a igreja local.
É de ouro, porque Deus está nela - mais até, ela participa da natureza divina. É de uma peça, porque a igreja é uma em cada localidade – pelo menos assim a vê Deus, independentemente de como a vemos nós em sua distorção. Está localizada fora do véu que separa o Lugar Santíssimo, pois embora a igreja é para Deus, seu testemunho é para os homens.
O candelabro tem seis braços e uma haste central, e neles há sete lamparinas que iluminam o Lugar Santo. A igreja tem luz, uma luz que não é própria, mas sim a luz de Cristo pelo Espírito - que é o azeite. Ela irradia essa luz para iluminar o ambiente circundante (Mat. 5:14-16).
Nos braços há também flores de amendoeira, com suas taças (corolas), que representam a vida da ressurreição (Núm.17:8). Só aquilo que provém da ressurreição tem lugar na igreja - a ressurreição que é precedida pela cruz de Cristo. A igreja não é uma instituição, nem é tampouco um agrupamento de "gente boa"; é a expressão do divino na terra, é Cristo em outra forma. Tanto a morte como a ressurreição de Cristo constituem a experiência normal de todos os membros dela.
O candelabro tem também maçãs em seus braços. A macieira na Escritura representa a Cristo (Cantar 2:3-5), e as nove maçãs do castiçal (uma em cada braço e três na haste central) são as nove expressões do fruto do Espírito no Gálatas 5:22-23: amor, gozo, paz, paciência, benignidade, bondade, fé, mansidão e moderação. Essas maçãs são as que mantêm unidos os braços do candelabro, assim como o doce caráter de Cristo é o que aglutina a igreja.
Um acessório importante do candelabro eram seus espevitadores e seus pires, também de ouro. Com ela operavam os sacerdotes para manter podadas as lamparinas e viva a luz do castiçal. Assim faz Deus conosco, cortando o que não serve –o pavio que lança fumaça–, e acrescentando azeite para que a luz não se apague. Tirando e adicionando, o Senhor mantém acesa nossa luz. E o que não serve, fica no pires, não se joga, pois Deus tem inclusive cuidado daquilo que excede, para não descobrir nossa nudez.
Finalmente, diremos que no templo de Salomão não havia um só candelabro, mas sim dez, pois é a vontade de Deus que uma igreja do princípio se multiplique por toda a terra: dez é o número da generalidade, da universalidade.
Que Deus tenha efetivamente seu testemunho em cada localidade da terra!
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O tabernáculo (as coberturas)
No capítulo 26 de Êxodo se descreve detalhadamente as particularidades do tabernáculo. O tabernáculo nos fala de Cristo (não esqueçamos que quando ele se fez carne, habitou –ou "tabernaculizou"– entre nós, Jo. 1:14), e também da igreja, que é chamada "tabernáculo de Deus com os homens" (Ap. 21:3). Quer dizer, fala-nos do mistério de Cristo e a Igreja. E há aqui neste capítulo, assinaladas três coisas: as coberturas (vv.1-14), os materiais para sua construção propriamente tal (15-30), e os véus (31-33).
O perímetro do tabernáculo, que incluía o átrio, estava demarcado por dez cortinas. À luz de Cantares 1:5, essas cortinas são os crentes –a sulamita–, "as cortinas de Salomão". O dez representa toda a humanidade; Deus escolheu um povo de toda linhagem, língua, povo e nação (Ap. 5:9). Na cruz de Cristo morreram todas as diferenças (Col. 3:10-11), para criar um só e novo homem – um homem universal, celestial (Ef. 2:15; 1ª Cor. 15:47).
As cortinas conformavam dois grupos de cinco cortinas; unidas com cinqüenta laçadas (número do Pentecostes) com colchetes de ouro, para dar a forma ao único tabernáculo. Assim também, no princípio da igreja, havia duas grandes equipes apostólicas, uma para fazer a obra entre os judeus, e outra entre os gentios. Mas finalmente, eles eram um só, pelo Espírito, para edificar a única igreja de Cristo sobre a terra. Os colchetes de ouro nos falam da vida divina, que faz possível a união dos filhos de Deus.
Hoje Deus segue realizando este trabalho nos que amam a Deus: derrubando as múltiplas barreiras que se levantaram para separar os filhos de Deus, porque a igreja é universal, única, inclusiva.
Em seguida haviam três coberturas que ficavam sobre o tabernáculo. Uma era de pêlo de cabra, também composta por dois grupos de cortinas, uma de cinco e outra de seis. A cortina número 11 ficava ao oriente e se dobrava para cima, no lugar da porta. Essas cortinas estavam unidas por colchetes de bronze, o que representa ao homem exterior que é tratado pela disciplina de Deus, para o quebrantamento da alma e o governo do espírito.
Havia uma segunda cobertura, de peles de carneiros, tingidas de vermelho. O carneiro nos fala de Cristo; o vermelho, do sangue. Isto significa que Deus nos cobre pelo sangue de Cristo ainda em nossos tratamentos, para não sermos condenados com o mundo. Além da disciplina, o sangue nos reclama para Deus, põe-nos o selo de sua proteção, fazendo separação entre nós e o mundo.
Finalmente estava a cobertura de peles de texugos - que eram animais do deserto parecidos com um camundongo. Assim, o aspecto exterior do tabernáculo não era formoso, como tampouco foi o "homem de dores", que não teve "aparência nem formosura". As grandes obras de Deus não são para o mundo, que é incapaz de apreciar as coisas do espírito. O Senhor Jesus Cristo foi, para seus contemporâneos, só um carpinteiro galileu; deste modo a verdadeira igreja, foi historicamente só um punhado insignificante de homens e mulheres.
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O tabernáculo (os materiais)
A partir do versículo 15, até o 30, do capítulo 26 de Êxodo nos fala dos materiais que estava construído o tabernáculo, quer dizer, as tábuas, suas bases, encaixes e barras.
As tábuas eram de madeira de acácia, e deviam ser muito retas. A madeira representa a humanidade, e cada tábua simboliza os cristãos em particular. A acácia não é uma árvore direita, por isso devia ser submetida a algum processo para obter tábuas adequadas. Assim o cristão, precisa de um tratamento do Espírito para ser "endireitado" e edificado na casa espiritual de Deus.
As tábuas tinham uma medida muito especial: eram de um côvado e meio de largura e dez de comprimento. O dez representa a humanidade, e o côvado e médio -um número incompleto- nos mostra a insuficiência de cada tábua na Casa. Cada uma necessita da outra para alcançar a medida de três côvados - e o três é o número de Deus. Um cristão não é a igreja, mas onde há dois ou três reunidos no nome do Senhor, ali ele está no meio. Na casa de Deus, nenhum cristão é auto-suficiente; precisa ao menos de outro para completar a medida.
As tábuas eram de madeira, mas recobertas de ouro, o qual representa a divindade. Assim, o aspecto vil do homem é recoberto pela natureza divina. As pranchas se apoiavam sobre bases de prata, e a prata é, na Escritura, o metal da redenção. As tábuas já não têm raízes na terra -como quando eram árvores-, mas sim se apóiam na obra da cruz.
De ambos os lados das bases saíam encaixes, para unir uma base com a outra, e assim formar uma parede. Os encaixes nos falam do fruto de Cristo - o grão de trigo que caiu em terra. Portanto, é o fruto do Espírito, em suas nove expressões (Gál. 5:22-23), que mantém unidos os filhos na Casa de Deus. A natureza carnal é egocêntrica e divisória; só a vida divina é cristocêntrica e aglutinadora.
Para lhe dar direção e retidão ao conjunto das tábuas, ficavam cinco barras atravessadas, as quais também eram de madeira, recobertas de ouro. A do meio passava pelo meio das tábuas de um extremo ao outro. Essas barras representam os cinco ministérios de Efésios 4:11, que foram providos por Deus para lhe dar forma e direção à Igreja. Dos cinco, o mais importante é o apostolado, que é a barra do meio. As barras são sustentadas por anéis inteiramente de ouro, os quais representam a graça de Deus que os sustenta, para unir a Casa.
A Casa de Deus não pode tomar a forma devida sem esses ministérios providos por Deus. Durante muito tempo a Igreja ignorou isto, pelo qual a edificação se tornou deficiente. A responsabilidade recai normalmente sobre um só homem, que cumpre apenas um dos cinco ministérios.
Esta seção se fecha com as seguintes palavras: "Então levantarás o tabernáculo conforme o modelo que te foi mostrado no monte" (V. 30). Assim também, a edificação da Casa hoje tem que ter em conta o modelo de Deus para sua Igreja. Qual modelo? O modelo que é prefigurado aqui.
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O tabernáculo (os véus)
O tabernáculo tinha três ambientes, separados por dois véus, mais a cortina exterior, à entrada. Em total, três.
O que mais se destaca nesta descrição de Êxodo 26 é o véu interior, que separava o Lugar Santíssimo do Lugar Santo. Este véu representa claramente ao Senhor Jesus Cristo. Era de azul (sua divindade), púrpura (sua realeza), carmesim (sua humanidade) e linho torcido (sua justiça). Era feito de obra primorosa, com querubins. Os querubins eram os guardiões de Deus, representantes da criação angelical.
O Senhor Jesus Cristo em sua dupla natureza divina e humana é mostrado de novo aqui, mais sua condição de Rei Justo.
Este véu se pendurava do alto de quatro colunas de madeira de acácia cobertas de ouro. Entre as quatro colunas ficavam três espaços, correspondentes a três portas. Cada uma delas representava a uma pessoa da Trindade. Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, este véu foi rasgado de cima abaixo. Naturalmente o véu foi rasgado no meio, na seção que representava o Filho de Deus, pois foi ele, e não o Pai ou o Espírito Santo, quem morreu como homem na cruz.
A ruptura do véu é imensamente significativa, pois o Lugar Santíssimo era zelosamente guardado, e ninguém tinha acesso a ele exceto o sumo sacerdote, e isto, só uma vez ao ano. Agora bem, se nem sequer os outros sacerdotes podiam entrar, muito menos poderia fazê-lo o povo. Quanto menos um gentio! Mas a ruptura do véu interior, quer dizer, a morte do Senhor Jesus, foi o fato glorioso que mudou inteiramente as coisas.
Hebreus o diz belamente: "Assim, irmãos, tendo liberdade para entrar no Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus Cristo, pelo caminho vivo e novo que ele nos abriu através do véu, isto é, de sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, nos aproximemos..." (10:19-22 a). Não só estava aberto o caminho a Deus para os judeus, mas também para os gentis.
O que sucedeu depois, também o relata Hebreus. Porque à cena da cruz, seguiu-lhe mais tarde outra cena nos céus. Jesus, como o verdadeiro Sumo Sacerdote entrou no verdadeiro Lugar Santíssimo, por meio do verdadeiro sangue, do verdadeiro sacrifício. "Mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio do maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, e não por sangue de bodes e novilhas, mas sim por seu próprio sangue, entrou uma vez para sempre no Lugar Santíssimo, tendo obtido eterna redenção" (9:11-12).
O melhor e mais formoso véu foi rasgado; assim, o mais formoso dos filhos dos homens foi sacrificado, para que nós alcançássemos salvação. Bendito é Ele!
Também se descreve aqui neste capítulo a cortina exterior, colocada na entrada do átrio. Está pendurada sobre cinco colunas. Não era de feitura tão primorosa como o véu, mas era mais ampla. Para assinalar que haveria uma ampla acolhida para todo aquele que viesse a Cristo, porque ele é a Porta.
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O altar de bronze
Seguindo a ordem do livro de Êxodo (cap. 27), achamos o altar de bronze. É o primeiro que o adorador se encontrava à entrada do tabernáculo. Se conhecia também como o altar dos sacrifícios ou do holocausto. Ali eram recebidas e imoladas as vítimas.
O altar à entrada do tabernáculo fala da cruz de Cristo, pela qual temos acesso a Deus. Nenhuma outra dependência do tabernáculo estava disponível para o adorador se não tivesse ficado solucionado o problema dos pecados, à entrada, no altar. Para nós, a vida cristã está cheia de benções e experiências maravilhosas, mas nenhuma delas seria possível se não tivéssemos passado pela cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, para receber o perdão, a limpeza de todos nossos pecados.
Não só no tabernáculo o altar é o começo; também foi na vida de Abel, de Noé, de Abraão, e de cada servo de Deus, seja no Novo como no Antigo Testamento. O altar nos recorda nossa condição de pecadores, e do que para nos aproximarmos de Deus, os pecados têm que ser tirados do meio. O julgamento de Deus sobre o pecado deve ser executado; só que - na graça de Deus - a vítima não é o pecador, mas sim um substituto, um animal inocente.
Este altar, de madeira de acácia e recoberto de bronze, também nos fala do Senhor Jesus. A madeira nos mostra sua humanidade, e o bronze sua condição de Cordeiro de Deus posto sob o julgamento de Deus, sob a ira de Deus, por causa de nós. Quando João lhe vê em Apocalipse 1 diz que seus pés eram "semelhantes ao bronze polido" (1:15), o qual indica que tinha passado pelo juízo de Deus.
O altar era perfeitamente quadrado; tinha cinco côvados de comprimento e cinco de largura; é a perfeição da salvação de Deus. O 5 é o número da graça, da redenção. Sua altura era de 3 côvados, que é o número de Deus; quer dizer, o altar devia satisfazer a justiça de Deus. O altar tinha também chifres em suas quatro cantos. Quando um pecador estava em grande aflição, e necessitava misericórdia, agarrava-se aos chifres do altar para reclamar perdão. Assim, o altar satisfazia a justiça de Deus e também a necessidade de misericórdia por parte do homem.
O altar tinha vários utensílios, todos de bronze, necessários para que os levitas e os sacerdotes cumprissem seu trabalho. Eram de bronze porque todos participavam do trabalho de juízo sobre o pecado. Com os caldeirões se recolhia a cinza - a cinza, que é o estado último da matéria, indica-nos que todo o associado com o pecado deve desaparecer. Os tigelas eram usadas para receber o sangue, parte da qual se derramava debaixo do altar, e parte se introduzia no Lugar Santíssimo. Os ganchos de ferro se usavam para acomodar o animal sobre o altar, e os braseiros para manter o fogo debaixo do altar.
Tudo isto fala de juízo sobre o pecado, e misericórdia para o pecador. O altar tem, para nós, forma de cruz, e ela tem todos os recursos espirituais necessários para que todo homem, não importa quão pecaminosa seja sua condição, fique perfeitamente em paz com Deus.
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O átrio
A descrição do tabernáculo conclui, nesta porção de Êxodo, com o átrio. Este é o ambiente exterior, e como tal, simboliza o aspecto da igreja que está em contato com o mundo. É a parte que, ao menos parcialmente, é visível de fora. A igreja tem um testemunho diante do mundo.
O perímetro do átrio é retangular, de cem côvados de comprimento por cinqüenta de largura. No comprimento há vinte colunas de bronze, no entanto que na largura, há dez. A soma de todas as colunas é 60, quer dizer, 6 vezes 10. Aqui temos dois números que representam a totalidade da raça humana. O Senhor quer ter em sua casa a homens de todo lugar.
O fato de que as colunas sejam de bronze indica que o mundo é julgado, por isso há uma separação do mundo. Mas as colunas tinham colchetes e faixas de prata, o qual significa que essa separação é produto da redenção. Não nos separamos do mundo porque somos melhores do que eles, mas sim porque fomos comprados por alto preço. É o sangue que nos separa para Deus.
As cortinas que fechavam o perímetro do átrio deviam ser de linho torcido. O linho representa "as ações justas dos Santos" (Ap. 19:8). A Escritura assinala que a igreja é como uma cidade edificada sobre um monte, ou como uma luz posta em um candelabro, muito visível aos olhos dos homens. Quando os homens vêem as boas obras dela, glorificam ao Pai que está nos céus. O mundo não vê mais à frente, no interior do tabernáculo –nem sequer as colunas que sustentam as cortinas–; só vê as cortinas que são as boas obras dos filhos de Deus. Em um aspecto, a igreja está separada do mundo –porque é para Deus–, mas tem uma atitude de misericórdia para o mundo, porque Deus o amou tanto que deu a seu Filho por seu resgate.
A porta do átrio está para o oriente, pois por ali nasce o sol (Cristo é o Sol de Justiça, Mal. 4:2). A luz que ilumina o tabernáculo procede do sol do oriente. Assim também a vida do cristão, e da igreja, é iluminada pelo Senhor Jesus Cristo. A porta tinha quatro colunas e três espaços entre elas. Cada um desses espaços –"portas"– representa a cada uma das pessoas da Trindade. Não obstante, a porta propriamente se localizava no espaço central, porque o Senhor Jesus, o Filho de Deus, é a Porta. (Jo. 10:7).
O átrio com seus três ambientes representam também ao cristão individual, com seu corpo (átrio), alma (Lugar Santo), e espírito (Lugar Santíssimo). O átrio é o corpo, que está em contato com o mundo físico, exterior. A alma é o lugar onde reside a personalidade, com o pensar, o sentir e o querer. E o espírito é esse lugar secreto onde veio fazer morada o Espírito Santo.
A consagração do cristão começa pelo corpo (o átrio), conforme nos assinala o apóstolo Paulo, e depois segue para dentro: "Assim, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rom. 12:1). Seja em forma pessoal, em forma corporativa como igreja, o átrio deve estar separado para Deus.
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As vestimentas sacerdotais
O capítulo 28 de Êxodo está absolutamente dedicado a escrever as vestimentas dos sacerdotes. Para entendê-lo espiritualmente devemos ver que Deus assinala aqui aspectos importantes, referidos, não só ao sacerdócio levítico, mas também, fundamentalmente, ao sacerdócio de Cristo –que é o Sumo Sacerdote "para sempre segundo a ordem do Melquisedeque"– e a de todos os crentes.
Em geral, todas essas vestimentas eram de "obra primorosa" ("para honra e formosura"), e nos falam de Cristo, porque ele é precioso, e dele estamos revestidos (Gál. 3:27). Os ofícios sacerdotais eram de alta significação, e deviam ter uma correspondência em seus trajes. Por isso, igual que em outros materiais do tabernáculo, eram feitos de ouro, azul, púrpura, carmesim e linho torcido. Tudo isto, aludindo ao caráter divino, real e humano do Senhor Jesus Cristo.
Primeiro estava o éfode, com suas ombreiras, com seu cinto (tal como em Apocalipse 1:13), e as duas pedras de ônix que levam gravadas os nomes dos doze filhos do Israel, distribuídos em seis. Estes mesmos nomes também foram gravados em doze pedras diferentes sobre o peitoral. Assim, o Senhor Jesus Cristo (nosso Sumo Sacerdote) leva nossos nomes gravados sobre seus ombros (éfode), e em seu coração (peitoral). (Ver Cantares 8:6), e com eles se apresenta permanentemente diante do Pai para interceder pelos crentes (Heb. 7:22-25).
O fato de levar sobre os ombros os nomes das doze tribos –e seu correspondente no sacerdócio do Novo Testamento– significa a responsabilidade que os pais em Cristo (1ª Cor. 4:15) têm pelas vidas dos mais pequenos diante de Deus. É tão grande, que fazia a Paulo exclamar: "Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me indigne?" (2ª Cor. 11:29). O fato de levá-los sobre o coração, por sua parte, significa o amor que se dá até a morte por outros; é a vida derramada em libação (Fil. 2:17).
Mas o peitoral é chamado também "peitoral do juízo", o qual significa que a graça e a misericórdia de Deus estão equilibrados pelo juízo, pelo qual o Senhor trata com o pecado. O Senhor Jesus se ofereceu a si mesmo na cruz para pagar por nossos pecados (Ver 2ª Cor. 12:20-21). No peitoral ia o Urim e Tumim, que servia para discernir o que era de Deus e o que não era, entre o santo e o profano. No Novo Testamento está o Espírito de Deus no coração de cada crente, para lhe conduzir e para lhe dar testemunho das coisas, mediante a paz (1ª João: 2:27; Col. 3:15).
Todas as vestimentas foram cobertas por um manto de azul (o celestial), adornado com romãs (fecundidade) e campainhas (atividade sacerdotal) em suas bordas. O sacerdote levava também uma mitra em sua cabeça, e nela a frase Santidade a Jeová, o qual significa que os pensamentos do sacerdote deviam ser puros.
Finalmente, as ceroulas deviam cobrir a nudez, e deviam ser de linho para que produzissem suor, que representa o que procede da carne no serviço a Deus. Como vemos, tudo isto tem aplicação aos sacerdotes de todo tempo.
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Consagração dos sacerdotes
A consagração dos sacerdotes era um ritual muito solene, que significava apartar uns homens para o serviço exclusivo de Deus. Cada um dos passos deste ritual de consagração tem, igual a todo o Antigo Testamento, uma significação espiritual para os cristãos do Novo.
Primeiro se lavava e vestia os sacerdotes com seus trajes sacerdotais, à porta do tabernáculo; lhes ungia com o azeite da unção, e em seguida se começava com os sacrifícios. Cada um deles tinha um significado muito importante.
O primeiro era o de um bezerro, que era uma oferta pelo pecado (Êx. 29:14b). Ninguém pode aproximar-se para servir a Deus sem ter este problema resolvido. Não se trata aqui dos pecados, como feitos pecaminosos, mas sim do pecado, como a raiz do problema. Quando Cristo morreu, nós fomos favorecidos com o perdão dos pecados, mas também com a eliminação do "eu" pecador. (Rom. 6). Cristo morreu e atraiu a todos para si mesmo para uma morte inclusiva (Jo. 12:32), que solucionaria o problema tanto dos pecados, como do pecado. Esta é a herança de todo sacerdote de Cristo.
Em seguida, oferecia-se um carneiro como "holocausto de aroma suave", uma "oferta queimada a Jeová" (V. 18). Este sacrifício era inteiramente para Deus, para a satisfação de Deus. Isto significa que primeiro somos libertados do problema do pecado, e em seguida somos entregues como holocaustos para inteira satisfação de Deus, para o serviço de Deus.
Em terceiro lugar se oferecia um segundo carneiro, o da consagração propriamente tal. Do sangue deste carneiro se espargiam as vestimentas, e ficava sobre o lóbulo da orelha direita, sobre o polegar da mão direita e do pé direito de cada sacerdote.
Em seguida se tomava parte do animal, e se balançava diante de Deus, junto com dois bolos e um folhado de casca dos pães sem levedura. Tudo isto posteriormente se queimava no altar. Esta era a "oferta queimada" para Deus (V. 25b).
As demais peças do animal eram para os sacerdotes, que comiam delas. Não só o sangue de Cristo (a preciosa Vítima) opera em nosso favor para solucionar o problema do pecado, mas sim sua carne, quer dizer, sua vida mesma, é o alimento de cada crente (Jo. 6:53-56). Igualmente como o sangue do Cordeiro pascal era posto sobre o umbral da porta, mas a carne devia ser comida dentro da casa. (Ex. 12). Assim, todo Cristo, seu sangue e sua carne, são a perfeita provisão de Deus para o crente.
Tudo isto nos fala do valor que cada cristão tem para Deus, pois tem provido de todos os recursos necessários para que ele seja seu sacerdote. O objetivo final não é só salvá-lo, mas sim aproximá-lo de si, para o seu serviço santo.
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O altar do incenso
No capítulo 30 de Êxodo se descreve o altar do incenso. Este altar é distinto do altar de bronze, que estava localizado no átrio. Este é de ouro, e mais pequeno, e está localizado no Lugar Santo.
Sua localização no Lugar Santo não é casual –como nada o é no tabernáculo–. Para ter acesso a ele é preciso ter passado primeiro pelo altar de bronze, quer dizer, pela cruz de Cristo para o perdão dos pecados. O altar do incenso representa o ministério intercessor de Cristo, e, por extensão, de todo sacerdote.
O altar de bronze é para expiação; o de ouro é para intercessão. Estes são dois dos ofícios do Senhor Jesus Cristo, primeiro como Cordeiro e em seguida como Advogado à mão direita de Deus.
O altar do incenso é o altar da oração. Em Apocalipse 8:1-5, podemos ver o valor das orações dos Santos –que se ajuntam às do Senhor Jesus como Sumo Sacerdote–, pois desencadeiam os juízos de Deus sobre a terra. O céu se move no mesmo instante das orações dos Santos sobre a terra.
Todos os crentes estão permanentemente associados com estes dois altares. Com o de bronze, pois devem ir ao sangue da cruz pelo perdão de seus pecados; e o de ouro para desenvolver seu ministério intercessor a favor dos homens e a adoração. (Estes são os dois altares de que fala o salmista em Salmos 84:3). Agora bem, os ofícios realizados neste segundo altar se apóiam no ocorrido no primeiro. Sem sangue não podemos estar diante de Deus para exercer nosso sacerdócio. Nenhuma oração intercessora seria escutada; não é por nossa justiça, mas sim pela justiça de Cristo.
As medidas deste altar, como outras do tabernáculo, corresponde a números médios; o qual significa que Deus espera o homem para que colabore com ele. Deus e o homem fazem a medida completa.
Em Êxodo diz que o altar estava localizado no Lugar Santo; mas em Hebreus 9:4 diz que estava localizado no Lugar Santíssimo. O que significa isto? Simplesmente, que o altar do incenso era introduzido do Lugar Santo ao Lugar Santíssimo. Assim também a oração, começa na alma e passa ao espírito.
Este altar tinha também anéis e varas para transportá-lo, o qual nos indica a progressão de nosso serviço espiritual. Temos que avançar sempre um pouco mais, na direção do Senhor.
Cada dia devia ser oferecido incenso, ao mesmo tempo do serviço das lâmpadas. Mas antes de descrever a composição do incenso, descreve-se o azeite da unção. Estas duas coisas vão juntas, mas primeiro vai o azeite da unção, pois vem de cima. O azeite desce da cabeça de Arão até tocar a orla de suas vestimentas (quer dizer, de Cristo para sua igreja), nos trazendo as riquezas de Cristo, no entanto, o incenso sobe para Deus. Tanto o azeite como o incenso eram Santos, e não podiam ser usados para um fim profano. Estas são as coisas santas nas quais desejam atentar os anjos.
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A pia de bronze
A pia era o segundo objeto no átrio do tabernáculo. Estava entre o altar do holocausto e o Lugar Santo.
A diferença dos outros artefatos e móveis do tabernáculo, é que não se especificam suas dimensões. Só diz que era de bronze, e que os sacerdotes deviam lavar suas mãos e pés nela para que não morressem enquanto realizavam seu serviço no tabernáculo.
Em outro lugar diz que foi feito como espelhos das mulheres de Israel (Êx. 38:8). Isto mostra uma ação maravilhosa de generosidade com as mulheres, e uma renúncia importante. Por outro lado, é interessante que um espelho reflete ao que se olha, mas não pode alterar sua figura. Revela a contaminação, mas não pode tirá-la. Assim é também a lei. Sem a graça, o crente fica na metade do caminho.
A fonte estava cheia de água, para que os sacerdotes lavassem as mãos e os pés quando entravam no Lugar Santo para adorar, quando saíam ao altar para servir. Isto nos fala da obra que faz em nós a Palavra e o Espírito de Deus. É cotidiana e absolutamente necessária.
Havia duas classes de lavagem: Primeiro, a que se fazia para consagrar os sacerdotes. Este lavar se fazia uma vez e para sempre (Em Êx. 29:4, refere-se ao lavar de todo o corpo), e corresponde ao "lavar da regeneração" (Tito 3:5) do Espírito, pelo qual nascemos de novo. O segundo, era o lavar constante, porque diariamente eles se sujavam realizando os ofícios de seu ministério.
Nenhum sacerdote podia ministrar sem lavar-se. Isto é uma verdade aplicável não só àqueles no Antigo Pacto, mas também a todos os sacerdotes de Deus, passados e presente. O pó sujava suas mãos e seus pés; da mesma maneira ocorre com os crentes hoje. Para tal caso, Deus tem provido o lavar da água pela Palavra. "Vós estais limpos pela palavra que lhes tenho falado", disse o Senhor a seus discípulos. (João 15:3). "Cristo amou à igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para santificá-la, havendo-a purificado pelo lavar da água pela palavra" (Ef. 5:25-26).
Os sacerdotes tinham o direito de ministrar ao Senhor porque estavam habilitados pelo sangue do sacrifício, mas para poder exercer esse direito precisavam a água do lavar. O sangue de Cristo nos limpa de nossos pecados, no entanto, a água nos limpa do pó do deserto deste mundo.
O cristão tem que caminhar na luz, julgando seus antigos hábitos, e limpando-se de todas as suas obras e caminhos por meio da Palavra de Deus, se é que quer ter comunhão com Deus. A Palavra é o meio pelo qual o Senhor conserva a seu povo limpo, com uma comunhão fresca, pura.
Do lado do Senhor Jesus Cristo na cruz saiu sangue e água, e que reúnem dois aspectos da salvação de Deus. Sangue para a reconciliação com Deus, e a água para limpeza, comunhão e para ministrar diante de Deus.

Casa espiritual e sacerdócio santo

A descrição que se faz em Êxodo do capítulo 25 em diante a respeito das coisas em que os filhos de Israel deviam ocupar-se, pode dividir-se em duas partes, ambas intimamente relacionadas.
Uma é a Casa de Deus, e a outra é o Sacerdócio. Isto pode considerar-se o resumo dos capítulos finais de Êxodo. Embora ambos os temas excedam os limites deste livro, temos aqui uma importante primeira aproximação ao assunto.
O apóstolo Pedro, em sua Primeira Epístola, toca também nestes dois pontos no capítulo 2, referidos precisamente à Casa de Deus. "Achegando-se a ele, pedra viva, desprezada na verdade pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio do Jesus Cristo" (v. 4-5).
O conteúdo e ordem das coisas ditas no Antigo Testamento temos que buscá-lo também no Novo, porque estão intimamente relacionados. O Antigo apontava para o Novo, e o Novo procura no Antigo as bases de sua autenticação. A Casa de Deus está no Antigo, e também está no Novo. No Antigo, como figura e sombra das coisas celestiais; no Novo, como as coisas celestiais mesmas.
As coisas que antes foram escritas, para nosso ensino foram escritas (Rom. 15:4). As coisas do Novo encontram maior beleza e sentido quando as buscamos no Antigo Testamento. É curioso, mas aqui as sombras lançam luz sobre as coisas novas, até as fazer resplandecer. Por isso, o escriba sábio no reino dos céus tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas (Mat. 13:52).
O primeiro, então, é a Casa; em seguida, o sacerdócio. As cortinas e tábuas, os colchetes e os espevitadores pouco sentido teriam para nós - exceto talvez histórico - se não fora porque o Espírito Santo as escreveu e dispôs para nós também, para nosso proveito e ensino. O mesmo podemos dizer em relação ao sacerdócio.
Por que Deus dispôs as coisas com tanto rigor? Por que proibiu a Moisés pôr a mão no desenho das coisas? Por que tudo devia ser conforme o que Moisés tinha visto no monte? Simplesmente, porque tudo aquilo tinha um valor metafórico e figurativo, que teria que conhecer-se depois na perfeição.
A Casa é a Igreja; e o sacerdócio o conformam a todos os crentes no Senhor Jesus Cristo. A metáfora tem uma significação maravilhosa, e nós podemos vê-la agora com todo seu esplendor, o qual não puderam ver os judeus. "Moisés na verdade foi fiel em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho do que se havia de anunciar" (Heb. 3:5). Havia algo que ia ser dito depois, e Moisés pôs as bases simbólicas para aquilo. Se Moisés falhasse, se não fizesse as coisas conforme o modelo, como poderia haver concordância com "o que se havia de anunciar"?
Assim, Pedro interpreta a Moisés, e o livro de Êxodo nos abre generosamente
O tabernáculo
O Evangelho do João usa –no grego– uma palavra muito interessante referente ao Senhor Jesus que não foi devidamente traduzida no espanhol.
Esta palavra está no capítulo 1, versículo 14: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós (e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai), cheio de graça e de verdade". "Habitou" significa aqui "fixou tabernáculo", ou, para usar uma só palavra, "tabernaculizou".
Por que João utiliza esta palavra tão estranha, difícil de traduzir? –De fato nenhum tradutor a utilizou–. A razão é muito simples: João nos está chamando a atenção para o tabernáculo no deserto, pois o Senhor Jesus é o verdadeiro tabernáculo de Deus com os homens. Ele deu cumprimento à figura do tabernáculo levantado por Moisés, de maneira que ao revisar os diferentes aspectos daquele, temos que ter sempre em conta a quem aponta, e de quem nos fala.
Deus disse o Moisés: "Farão um santuário para mim" (Ex. 25:8). Da mesma maneira, Deus demandou a Maria que oferecesse seu ventre para que, dali, pudesse levantar um tabernáculo para Si em Jesus Cristo. Por isso quando o Senhor disse: "Destruam este templo, e em três dias o levantarei" (Jo. 2:19) estava se referindo a esta "construção" feita pelo Espírito Santo no ventre da Maria, quer dizer, o "templo de seu corpo" (V. 21).
A dupla natureza do Senhor Jesus Cristo – divina e humana– está muito bem representada no tabernáculo. Tanto na cor das cortinas: as cortinas azuis, sua divindade; as vermelhas, sua humanidade; as púrpuras, a síntese de sua dupla natureza divina e humana. Do mesmo modo, grande parte do mobiliário tem a dupla natureza implícita na madeira e no ouro. A madeira, a humanidade; o ouro, a divindade. Todo o tabernáculo é um anúncio, não só de sua natureza, mas também de sua obra.
Da mesma maneira como o tabernáculo tinha três ambientes, o Átrio, o Lugar Santo, e o Lugar Santíssimo, assim também a natureza do Senhor – e a de todo cristão– é tripartida: corpo, alma e espírito. No Senhor estava personificado o tabernáculo, com todo seu simbolismo realizado na perfeição.
Deus pediu a Moisés que lhe levantasse um tabernáculo, pois ele quis habitar no meio de seu povo. Desceu de sua excelsa glória, para estar próximo dos homens. Assim também em Cristo, Deus estava salvando a maior distancia –não só física, mas também moral– para vir habitar entre os homens: "Emanuel, Deus conosco". Deus se aproximou do homem, e proveu um meio para que o homem pudesse aproximar-se de Deus (Daí o nome de "tabernáculo de reunião").
Havia ali uma ampla porta para todo aquele que precisasse aproximar-se de Deus.
Quando o tabernáculo esteve em pé, Deus falou ali a Moisés. Antes tinha falado no monte; agora falava no tabernáculo (Lev. 1:1). Que próximo e acessível! Em Cristo, Deus desceu e podemos lhe tocar; Deus veio e podemos lhe ouvir.
Mais adiante acharemos que o tabernáculo também representa à Igreja, mas o ponto primário e principal do que nos fala é de nosso Senhor Jesus Cristo.
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A arca
A primeira coisa do tabernáculo a ser mencionada por Deus é a arca (Ex. 25:10-22). Deus tinha expresso seu desejo de que lhe construíssem uma casa onde habitar; havia dito que deviam reunir os materiais, e sobre tudo, que tudo devia ser feito conforme o modelo que seria mostrado a Moisés no monte.
As instruções agora começam, e a primeira coisa a ser mencionada é a arca. Tem importância a ordem em que os móveis do tabernáculo são mencionados e descritos? Sem dúvida nenhuma, porque o arca tipifica a Cristo. O tabernáculo em seu conjunto representa à igreja (composta por ex-judeus e ex-gentis), e dentro dela o mais importante é o Senhor Jesus Cristo. O centro da atenção de Deus é Jesus Cristo.
Sabemos que a arca devia localizar-se no Lugar Santíssimo, e este , por sua vez, era o lugar mais importante de todo o tabernáculo. Com efeito: O tabernáculo era o ponto central do acampamento no deserto. Dentro do tabernáculo, o lugar principal era o Lugar Santíssimo, e dentro deste Lugar, o centro de toda a atenção era a arca do testemunho. Tudo parte da arca; se a arca estava em seu lugar, todo o resto estava bem.
O fundamento em toda edificação de Deus é Jesus Cristo. O Senhor disse a Pedro: "Sobre esta pedra (a revelação de Cristo) edificarei a minha igreja" (Mt. 16:18). Paulo disse: "Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" (1ª Cor. 3:11). Pedro disse, citando o profeta: "A pedra que os edificadores rejeitaram, veio a ser cabeça de esquina" (1ª Pd. 2:7), e essa pedra é Jesus Cristo.
O arca era de madeira de acácia, recoberta inteiramente de ouro, por dentro e por fora; o qual representa a perfeita humanidade (madeira) do Senhor Jesus Cristo, e também sua perfeita divindade (o ouro). A arca tinha quatro anéis, pelos quais passavam duas varas, para transportá-la. Isto significa que a arca se movia. É a presença de Deus que ia no meio de seu povo, em seu caminhar cotidiano. Assim também, Cristo é transportado por seus sacerdotes, sobre seus ombros, como naquele episódio do passagem do rio Jordão. Cristo não aceita ser levado sobre um veículo, como aquela carreta que usou David, e que Deus reprovou, senão sobre os ombros e o coração dos que lhe amam.
Quando se transportava a arca, ficava sobre ela o véu da tenda e a cobertura de peles de texugos, mas sobre tudo isto ia um pano azul (Núm. 4:5-6). Era o único móvel do tabernáculo que aparecia o azul por fora, tipificando com isto o caráter ressuscitado do Senhor Jesus Cristo, diferente de todo o resto, que levava o pano azul por dentro, porque a vida divina ainda está oculta nos crentes.
Dentro do arca iam três coisas, a maneira de testemunho: as tábuas da lei, uma arca com o maná, e a vara do Arão que reverdeceu. Elas nos mostram três aspectos preciosos de Cristo: Cristo, como expressão do caráter de Deus; como pão da vida; e como a ressurreição. Os que têm a Cristo têm a Deus na plenitude.
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O propiciatório
O propiciatório era coberto de ouro e cobria a arca. Diferente dos outros móveis, o propiciatório não era de madeira recoberta com ouro, mas sim de ouro puro. Isto nos indica de que não há nada de humanidade naquilo que o propiciatório representa. Aqui está o testemunho da obra de Deus em Cristo, feita a favor do homem para reconciliá-lo com Deus. Na obra de redenção, não há participação do homem, exceto para recebê-la, como destinatário e beneficiário dela.
Se a arca não tivesse propiciatório, teria sido perfeita para Deus, mas terrível para nós. O propiciatório é a provisão de Deus, sua graça e sua misericórdia para o homem. A palavra "propiciatório" tem a ver com "propiciar", que é estar a favor de algo ou alguém; o propiciatório está inteiramente a favor do homem. O propiciatório cobria totalmente o arca, o qual significa que seu conteúdo é suficiente para Deus e para nós.
O arca é também o trono de Deus no meio do seu povo, pois através dela Deus governa. E o governo de Deus muitas vezes implica juízo. Entretanto, este trono de governo (e de juízo) tem sua cobertura permanentemente ungida com sangue. É o sangue da expiação, pela qual a justiça de Deus é satisfeita, e os homens são absolvidos e declarados justos.
Isto era o que declarava cada vítima sacrificada, cujo sangue era posto ali uma vez por ano pelo sumo sacerdote. Mas sobretudo, ela anunciava o sangue mais precioso, sem mancha, que o Cordeiro de Deus teria que derramar na cruz do Calvário, não só para cobrir nossos pecados, mas sim para tirá-los de uma vez e para sempre. Porque certamente, aquela sangue tipológico só cobriu temporalmente a multidão de pecados, mas o sangue de Cristo, tirou todos, aqueles do Antigo Pacto, e os atuais, sob o Novo (Heb. 9:15).
A expressão do Paulo em Romanos nos sugere claramente a preciosa obra do sangue de Cristo no propiciatório, não do tabernáculo terrestre, mas sim no celestial: "Sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus pôs como propiciaciação por meio da fé em seu sangue..." (Rom. 3:24-25). Também o diz Hebreus: "Porque se o sangue dos touros e de bodes e as cinzas de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santificam quanto a purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas para servirdes ao Deus vivo?" (9:13-14).
João, no final da era apostólica, recorda-nos isto mesmo ao dizer: "Meus filhinhos, estas coisas lhes escrevo para que não pequem; e se alguém tiver pecado, temos um advogado para com o Pai, a Jesus Cristo o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" (1ª João 2:1-2).
Cristo não é só a verdadeira arca, mas também o verdadeiro propiciatório, provisão constante e preciosa para todo crente.
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A mesa dos pães
O segundo móvel do tabernáculo descrito em Êxodo 25 é a mesa dos pães da preposição. Como dissemos, a seqüência é importante quando se descrevem os móveis do tabernáculo. Primeiro está a arca no Lugar Santíssimo, porque representa a Cristo; em seguida, avançando para fora, no Lugar Santo, há dois, primeiro do lado norte –a mesa– e o outro Ao sul –o castiçal.
A mesa, pois, está em segundo lugar. Ela era feita de madeira de acácia, recoberta de ouro. Tinha uma guarnição de ouro, uma moldura de ouro, quatro anéis, um em cada esquina, e varas para transportá-la. Sobre a mesa deviam ficar semanalmente doze pães, um por cada tribo.
Esses pães da proposição representam ao povo de Deus, e a mesa nos fala de comunhão (Ap. 3:20). Ela é a expressão da comunhão do povo de Deus. Os pães passam por um processo antes de chegar a ser tais. Há trigo moído, amassado e cozido. Da mesma maneira, o povo de Deus não é o conjunto de grãos, quer dizer, não são indivíduos, mas sim homens e mulheres cujo ego foi moído até o pó, para chegar a ser um.
O fogo do forno é parte importante do processo. Submetido a altas temperaturas, o pão chega a estar em condições de ser comido. Como poderia o Filho de Deus comer um pão cru, ou uma "bolo não virado" (Os. 7:8), quer dizer, cozida por um lado mas cru pelo outro? Na mesa do Senhor, na comunhão com Cristo, há pães devidamente amassados e cozidos.
Há quatro coisas que caracterizavam a vida da igreja em Jerusalém, nos tempos dos apóstolos: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão uns com outros, no partir do pão e nas orações" (Atos. 2:42). Estas quatro coisas guardam estreita relação com os principais móveis do tabernáculo, sendo o primeiro deles a arca, "a doutrina dos apóstolos", quer dizer, Cristo. A segunda dessas coisas, quer dizer, "a comunhão uns com os outros" é a mesa dos pães da proposição.
Devemos ter o que oferecer ao Senhor quando vier ter comunhão conosco. Assim como nós comemos do Pão vivo que desceu do céu (pois ele se deu a nós), ele também come de nós, e então temos que estar convenientemente amassados, quer dizer, tendo perdido nossa individualidade, e assados, quer dizer, julgados e despojados de nossa condição natural. Nada do velho deve ficar em nós. Devemos chegar a ser agradáveis ao Senhor, em quem ele possa achar contentamento, porque ele é o Filho sobre sua casa (Heb. 3:6). Podemos oferecer ao Senhor uma comunhão íntima em uma mesa limpa, bem provida de pães assados, da melhor farinha?
A mesa também tem a ver com a comunhão uns com outros. Se tivermos comunhão com Cristo, então é possível a comunhão verdadeira com outros filhos de Deus. "Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com outros" (1ª Jo 1:7).
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O candelabro
O terceiro elemento que se descreve do tabernáculo é o candelabro. Os detalhes de sua construção, e sua simbologia, são muito ricos, e excedem a possibilidade de explicá-los aqui. Entretanto, eis aqui os mais relevantes.
O primeiro é que é de ouro maciço, de uma só peça, lavrado a martelo. Seu peso é de um talento, quer dizer, 34 quilogramas. Há nele uma unidade indivisível, que é a unidade da igreja local. Na visão inicial de Apocalipse, o Senhor Jesus está no meio dos sete candelabros de ouro, os quais são as sete Igrejas (Ap. 1.20). Diferente do tabernáculo, que representa a igreja universal, o castiçal tipifica a igreja local.
É de ouro, porque Deus está nela - mais até, ela participa da natureza divina. É de uma peça, porque a igreja é uma em cada localidade – pelo menos assim a vê Deus, independentemente de como a vemos nós em sua distorção. Está localizada fora do véu que separa o Lugar Santíssimo, pois embora a igreja é para Deus, seu testemunho é para os homens.
O candelabro tem seis braços e uma haste central, e neles há sete lamparinas que iluminam o Lugar Santo. A igreja tem luz, uma luz que não é própria, mas sim a luz de Cristo pelo Espírito - que é o azeite. Ela irradia essa luz para iluminar o ambiente circundante (Mat. 5:14-16).
Nos braços há também flores de amendoeira, com suas taças (corolas), que representam a vida da ressurreição (Núm.17:8). Só aquilo que provém da ressurreição tem lugar na igreja - a ressurreição que é precedida pela cruz de Cristo. A igreja não é uma instituição, nem é tampouco um agrupamento de "gente boa"; é a expressão do divino na terra, é Cristo em outra forma. Tanto a morte como a ressurreição de Cristo constituem a experiência normal de todos os membros dela.
O candelabro tem também maçãs em seus braços. A macieira na Escritura representa a Cristo (Cantar 2:3-5), e as nove maçãs do castiçal (uma em cada braço e três na haste central) são as nove expressões do fruto do Espírito no Gálatas 5:22-23: amor, gozo, paz, paciência, benignidade, bondade, fé, mansidão e moderação. Essas maçãs são as que mantêm unidos os braços do candelabro, assim como o doce caráter de Cristo é o que aglutina a igreja.
Um acessório importante do candelabro eram seus espevitadores e seus pires, também de ouro. Com ela operavam os sacerdotes para manter podadas as lamparinas e viva a luz do castiçal. Assim faz Deus conosco, cortando o que não serve –o pavio que lança fumaça–, e acrescentando azeite para que a luz não se apague. Tirando e adicionando, o Senhor mantém acesa nossa luz. E o que não serve, fica no pires, não se joga, pois Deus tem inclusive cuidado daquilo que excede, para não descobrir nossa nudez.
Finalmente, diremos que no templo de Salomão não havia um só candelabro, mas sim dez, pois é a vontade de Deus que uma igreja do princípio se multiplique por toda a terra: dez é o número da generalidade, da universalidade.
Que Deus tenha efetivamente seu testemunho em cada localidade da terra!
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O tabernáculo (as coberturas)
No capítulo 26 de Êxodo se descreve detalhadamente as particularidades do tabernáculo. O tabernáculo nos fala de Cristo (não esqueçamos que quando ele se fez carne, habitou –ou "tabernaculizou"– entre nós, Jo. 1:14), e também da igreja, que é chamada "tabernáculo de Deus com os homens" (Ap. 21:3). Quer dizer, fala-nos do mistério de Cristo e a Igreja. E há aqui neste capítulo, assinaladas três coisas: as coberturas (vv.1-14), os materiais para sua construção propriamente tal (15-30), e os véus (31-33).
O perímetro do tabernáculo, que incluía o átrio, estava demarcado por dez cortinas. À luz de Cantares 1:5, essas cortinas são os crentes –a sulamita–, "as cortinas de Salomão". O dez representa toda a humanidade; Deus escolheu um povo de toda linhagem, língua, povo e nação (Ap. 5:9). Na cruz de Cristo morreram todas as diferenças (Col. 3:10-11), para criar um só e novo homem – um homem universal, celestial (Ef. 2:15; 1ª Cor. 15:47).
As cortinas conformavam dois grupos de cinco cortinas; unidas com cinqüenta laçadas (número do Pentecostes) com colchetes de ouro, para dar a forma ao único tabernáculo. Assim também, no princípio da igreja, havia duas grandes equipes apostólicas, uma para fazer a obra entre os judeus, e outra entre os gentios. Mas finalmente, eles eram um só, pelo Espírito, para edificar a única igreja de Cristo sobre a terra. Os colchetes de ouro nos falam da vida divina, que faz possível a união dos filhos de Deus.
Hoje Deus segue realizando este trabalho nos que amam a Deus: derrubando as múltiplas barreiras que se levantaram para separar os filhos de Deus, porque a igreja é universal, única, inclusiva.
Em seguida haviam três coberturas que ficavam sobre o tabernáculo. Uma era de pêlo de cabra, também composta por dois grupos de cortinas, uma de cinco e outra de seis. A cortina número 11 ficava ao oriente e se dobrava para cima, no lugar da porta. Essas cortinas estavam unidas por colchetes de bronze, o que representa ao homem exterior que é tratado pela disciplina de Deus, para o quebrantamento da alma e o governo do espírito.
Havia uma segunda cobertura, de peles de carneiros, tingidas de vermelho. O carneiro nos fala de Cristo; o vermelho, do sangue. Isto significa que Deus nos cobre pelo sangue de Cristo ainda em nossos tratamentos, para não sermos condenados com o mundo. Além da disciplina, o sangue nos reclama para Deus, põe-nos o selo de sua proteção, fazendo separação entre nós e o mundo.
Finalmente estava a cobertura de peles de texugos - que eram animais do deserto parecidos com um camundongo. Assim, o aspecto exterior do tabernáculo não era formoso, como tampouco foi o "homem de dores", que não teve "aparência nem formosura". As grandes obras de Deus não são para o mundo, que é incapaz de apreciar as coisas do espírito. O Senhor Jesus Cristo foi, para seus contemporâneos, só um carpinteiro galileu; deste modo a verdadeira igreja, foi historicamente só um punhado insignificante de homens e mulheres.
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O tabernáculo (os materiais)
A partir do versículo 15, até o 30, do capítulo 26 de Êxodo nos fala dos materiais que estava construído o tabernáculo, quer dizer, as tábuas, suas bases, encaixes e barras.
As tábuas eram de madeira de acácia, e deviam ser muito retas. A madeira representa a humanidade, e cada tábua simboliza os cristãos em particular. A acácia não é uma árvore direita, por isso devia ser submetida a algum processo para obter tábuas adequadas. Assim o cristão, precisa de um tratamento do Espírito para ser "endireitado" e edificado na casa espiritual de Deus.
As tábuas tinham uma medida muito especial: eram de um côvado e meio de largura e dez de comprimento. O dez representa a humanidade, e o côvado e médio -um número incompleto- nos mostra a insuficiência de cada tábua na Casa. Cada uma necessita da outra para alcançar a medida de três côvados - e o três é o número de Deus. Um cristão não é a igreja, mas onde há dois ou três reunidos no nome do Senhor, ali ele está no meio. Na casa de Deus, nenhum cristão é auto-suficiente; precisa ao menos de outro para completar a medida.
As tábuas eram de madeira, mas recobertas de ouro, o qual representa a divindade. Assim, o aspecto vil do homem é recoberto pela natureza divina. As pranchas se apoiavam sobre bases de prata, e a prata é, na Escritura, o metal da redenção. As tábuas já não têm raízes na terra -como quando eram árvores-, mas sim se apóiam na obra da cruz.
De ambos os lados das bases saíam encaixes, para unir uma base com a outra, e assim formar uma parede. Os encaixes nos falam do fruto de Cristo - o grão de trigo que caiu em terra. Portanto, é o fruto do Espírito, em suas nove expressões (Gál. 5:22-23), que mantém unidos os filhos na Casa de Deus. A natureza carnal é egocêntrica e divisória; só a vida divina é cristocêntrica e aglutinadora.
Para lhe dar direção e retidão ao conjunto das tábuas, ficavam cinco barras atravessadas, as quais também eram de madeira, recobertas de ouro. A do meio passava pelo meio das tábuas de um extremo ao outro. Essas barras representam os cinco ministérios de Efésios 4:11, que foram providos por Deus para lhe dar forma e direção à Igreja. Dos cinco, o mais importante é o apostolado, que é a barra do meio. As barras são sustentadas por anéis inteiramente de ouro, os quais representam a graça de Deus que os sustenta, para unir a Casa.
A Casa de Deus não pode tomar a forma devida sem esses ministérios providos por Deus. Durante muito tempo a Igreja ignorou isto, pelo qual a edificação se tornou deficiente. A responsabilidade recai normalmente sobre um só homem, que cumpre apenas um dos cinco ministérios.
Esta seção se fecha com as seguintes palavras: "Então levantarás o tabernáculo conforme o modelo que te foi mostrado no monte" (V. 30). Assim também, a edificação da Casa hoje tem que ter em conta o modelo de Deus para sua Igreja. Qual modelo? O modelo que é prefigurado aqui.
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O tabernáculo (os véus)
O tabernáculo tinha três ambientes, separados por dois véus, mais a cortina exterior, à entrada. Em total, três.
O que mais se destaca nesta descrição de Êxodo 26 é o véu interior, que separava o Lugar Santíssimo do Lugar Santo. Este véu representa claramente ao Senhor Jesus Cristo. Era de azul (sua divindade), púrpura (sua realeza), carmesim (sua humanidade) e linho torcido (sua justiça). Era feito de obra primorosa, com querubins. Os querubins eram os guardiões de Deus, representantes da criação angelical.
O Senhor Jesus Cristo em sua dupla natureza divina e humana é mostrado de novo aqui, mais sua condição de Rei Justo.
Este véu se pendurava do alto de quatro colunas de madeira de acácia cobertas de ouro. Entre as quatro colunas ficavam três espaços, correspondentes a três portas. Cada uma delas representava a uma pessoa da Trindade. Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, este véu foi rasgado de cima abaixo. Naturalmente o véu foi rasgado no meio, na seção que representava o Filho de Deus, pois foi ele, e não o Pai ou o Espírito Santo, quem morreu como homem na cruz.
A ruptura do véu é imensamente significativa, pois o Lugar Santíssimo era zelosamente guardado, e ninguém tinha acesso a ele exceto o sumo sacerdote, e isto, só uma vez ao ano. Agora bem, se nem sequer os outros sacerdotes podiam entrar, muito menos poderia fazê-lo o povo. Quanto menos um gentio! Mas a ruptura do véu interior, quer dizer, a morte do Senhor Jesus, foi o fato glorioso que mudou inteiramente as coisas.
Hebreus o diz belamente: "Assim, irmãos, tendo liberdade para entrar no Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus Cristo, pelo caminho vivo e novo que ele nos abriu através do véu, isto é, de sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, nos aproximemos..." (10:19-22 a). Não só estava aberto o caminho a Deus para os judeus, mas também para os gentis.
O que sucedeu depois, também o relata Hebreus. Porque à cena da cruz, seguiu-lhe mais tarde outra cena nos céus. Jesus, como o verdadeiro Sumo Sacerdote entrou no verdadeiro Lugar Santíssimo, por meio do verdadeiro sangue, do verdadeiro sacrifício. "Mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio do maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, e não por sangue de bodes e novilhas, mas sim por seu próprio sangue, entrou uma vez para sempre no Lugar Santíssimo, tendo obtido eterna redenção" (9:11-12).
O melhor e mais formoso véu foi rasgado; assim, o mais formoso dos filhos dos homens foi sacrificado, para que nós alcançássemos salvação. Bendito é Ele!
Também se descreve aqui neste capítulo a cortina exterior, colocada na entrada do átrio. Está pendurada sobre cinco colunas. Não era de feitura tão primorosa como o véu, mas era mais ampla. Para assinalar que haveria uma ampla acolhida para todo aquele que viesse a Cristo, porque ele é a Porta.
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O altar de bronze
Seguindo a ordem do livro de Êxodo (cap. 27), achamos o altar de bronze. É o primeiro que o adorador se encontrava à entrada do tabernáculo. Se conhecia também como o altar dos sacrifícios ou do holocausto. Ali eram recebidas e imoladas as vítimas.
O altar à entrada do tabernáculo fala da cruz de Cristo, pela qual temos acesso a Deus. Nenhuma outra dependência do tabernáculo estava disponível para o adorador se não tivesse ficado solucionado o problema dos pecados, à entrada, no altar. Para nós, a vida cristã está cheia de benções e experiências maravilhosas, mas nenhuma delas seria possível se não tivéssemos passado pela cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, para receber o perdão, a limpeza de todos nossos pecados.
Não só no tabernáculo o altar é o começo; também foi na vida de Abel, de Noé, de Abraão, e de cada servo de Deus, seja no Novo como no Antigo Testamento. O altar nos recorda nossa condição de pecadores, e do que para nos aproximarmos de Deus, os pecados têm que ser tirados do meio. O julgamento de Deus sobre o pecado deve ser executado; só que - na graça de Deus - a vítima não é o pecador, mas sim um substituto, um animal inocente.
Este altar, de madeira de acácia e recoberto de bronze, também nos fala do Senhor Jesus. A madeira nos mostra sua humanidade, e o bronze sua condição de Cordeiro de Deus posto sob o julgamento de Deus, sob a ira de Deus, por causa de nós. Quando João lhe vê em Apocalipse 1 diz que seus pés eram "semelhantes ao bronze polido" (1:15), o qual indica que tinha passado pelo juízo de Deus.
O altar era perfeitamente quadrado; tinha cinco côvados de comprimento e cinco de largura; é a perfeição da salvação de Deus. O 5 é o número da graça, da redenção. Sua altura era de 3 côvados, que é o número de Deus; quer dizer, o altar devia satisfazer a justiça de Deus. O altar tinha também chifres em suas quatro cantos. Quando um pecador estava em grande aflição, e necessitava misericórdia, agarrava-se aos chifres do altar para reclamar perdão. Assim, o altar satisfazia a justiça de Deus e também a necessidade de misericórdia por parte do homem.
O altar tinha vários utensílios, todos de bronze, necessários para que os levitas e os sacerdotes cumprissem seu trabalho. Eram de bronze porque todos participavam do trabalho de juízo sobre o pecado. Com os caldeirões se recolhia a cinza - a cinza, que é o estado último da matéria, indica-nos que todo o associado com o pecado deve desaparecer. Os tigelas eram usadas para receber o sangue, parte da qual se derramava debaixo do altar, e parte se introduzia no Lugar Santíssimo. Os ganchos de ferro se usavam para acomodar o animal sobre o altar, e os braseiros para manter o fogo debaixo do altar.
Tudo isto fala de juízo sobre o pecado, e misericórdia para o pecador. O altar tem, para nós, forma de cruz, e ela tem todos os recursos espirituais necessários para que todo homem, não importa quão pecaminosa seja sua condição, fique perfeitamente em paz com Deus.
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O átrio
A descrição do tabernáculo conclui, nesta porção de Êxodo, com o átrio. Este é o ambiente exterior, e como tal, simboliza o aspecto da igreja que está em contato com o mundo. É a parte que, ao menos parcialmente, é visível de fora. A igreja tem um testemunho diante do mundo.
O perímetro do átrio é retangular, de cem côvados de comprimento por cinqüenta de largura. No comprimento há vinte colunas de bronze, no entanto que na largura, há dez. A soma de todas as colunas é 60, quer dizer, 6 vezes 10. Aqui temos dois números que representam a totalidade da raça humana. O Senhor quer ter em sua casa a homens de todo lugar.
O fato de que as colunas sejam de bronze indica que o mundo é julgado, por isso há uma separação do mundo. Mas as colunas tinham colchetes e faixas de prata, o qual significa que essa separação é produto da redenção. Não nos separamos do mundo porque somos melhores do que eles, mas sim porque fomos comprados por alto preço. É o sangue que nos separa para Deus.
As cortinas que fechavam o perímetro do átrio deviam ser de linho torcido. O linho representa "as ações justas dos Santos" (Ap. 19:8). A Escritura assinala que a igreja é como uma cidade edificada sobre um monte, ou como uma luz posta em um candelabro, muito visível aos olhos dos homens. Quando os homens vêem as boas obras dela, glorificam ao Pai que está nos céus. O mundo não vê mais à frente, no interior do tabernáculo –nem sequer as colunas que sustentam as cortinas–; só vê as cortinas que são as boas obras dos filhos de Deus. Em um aspecto, a igreja está separada do mundo –porque é para Deus–, mas tem uma atitude de misericórdia para o mundo, porque Deus o amou tanto que deu a seu Filho por seu resgate.
A porta do átrio está para o oriente, pois por ali nasce o sol (Cristo é o Sol de Justiça, Mal. 4:2). A luz que ilumina o tabernáculo procede do sol do oriente. Assim também a vida do cristão, e da igreja, é iluminada pelo Senhor Jesus Cristo. A porta tinha quatro colunas e três espaços entre elas. Cada um desses espaços –"portas"– representa a cada uma das pessoas da Trindade. Não obstante, a porta propriamente se localizava no espaço central, porque o Senhor Jesus, o Filho de Deus, é a Porta. (Jo. 10:7).
O átrio com seus três ambientes representam também ao cristão individual, com seu corpo (átrio), alma (Lugar Santo), e espírito (Lugar Santíssimo). O átrio é o corpo, que está em contato com o mundo físico, exterior. A alma é o lugar onde reside a personalidade, com o pensar, o sentir e o querer. E o espírito é esse lugar secreto onde veio fazer morada o Espírito Santo.
A consagração do cristão começa pelo corpo (o átrio), conforme nos assinala o apóstolo Paulo, e depois segue para dentro: "Assim, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rom. 12:1). Seja em forma pessoal, em forma corporativa como igreja, o átrio deve estar separado para Deus.
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As vestimentas sacerdotais
O capítulo 28 de Êxodo está absolutamente dedicado a escrever as vestimentas dos sacerdotes. Para entendê-lo espiritualmente devemos ver que Deus assinala aqui aspectos importantes, referidos, não só ao sacerdócio levítico, mas também, fundamentalmente, ao sacerdócio de Cristo –que é o Sumo Sacerdote "para sempre segundo a ordem do Melquisedeque"– e a de todos os crentes.
Em geral, todas essas vestimentas eram de "obra primorosa" ("para honra e formosura"), e nos falam de Cristo, porque ele é precioso, e dele estamos revestidos (Gál. 3:27). Os ofícios sacerdotais eram de alta significação, e deviam ter uma correspondência em seus trajes. Por isso, igual que em outros materiais do tabernáculo, eram feitos de ouro, azul, púrpura, carmesim e linho torcido. Tudo isto, aludindo ao caráter divino, real e humano do Senhor Jesus Cristo.
Primeiro estava o éfode, com suas ombreiras, com seu cinto (tal como em Apocalipse 1:13), e as duas pedras de ônix que levam gravadas os nomes dos doze filhos do Israel, distribuídos em seis. Estes mesmos nomes também foram gravados em doze pedras diferentes sobre o peitoral. Assim, o Senhor Jesus Cristo (nosso Sumo Sacerdote) leva nossos nomes gravados sobre seus ombros (éfode), e em seu coração (peitoral). (Ver Cantares 8:6), e com eles se apresenta permanentemente diante do Pai para interceder pelos crentes (Heb. 7:22-25).
O fato de levar sobre os ombros os nomes das doze tribos –e seu correspondente no sacerdócio do Novo Testamento– significa a responsabilidade que os pais em Cristo (1ª Cor. 4:15) têm pelas vidas dos mais pequenos diante de Deus. É tão grande, que fazia a Paulo exclamar: "Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me indigne?" (2ª Cor. 11:29). O fato de levá-los sobre o coração, por sua parte, significa o amor que se dá até a morte por outros; é a vida derramada em libação (Fil. 2:17).
Mas o peitoral é chamado também "peitoral do juízo", o qual significa que a graça e a misericórdia de Deus estão equilibrados pelo juízo, pelo qual o Senhor trata com o pecado. O Senhor Jesus se ofereceu a si mesmo na cruz para pagar por nossos pecados (Ver 2ª Cor. 12:20-21). No peitoral ia o Urim e Tumim, que servia para discernir o que era de Deus e o que não era, entre o santo e o profano. No Novo Testamento está o Espírito de Deus no coração de cada crente, para lhe conduzir e para lhe dar testemunho das coisas, mediante a paz (1ª João: 2:27; Col. 3:15).
Todas as vestimentas foram cobertas por um manto de azul (o celestial), adornado com romãs (fecundidade) e campainhas (atividade sacerdotal) em suas bordas. O sacerdote levava também uma mitra em sua cabeça, e nela a frase Santidade a Jeová, o qual significa que os pensamentos do sacerdote deviam ser puros.
Finalmente, as ceroulas deviam cobrir a nudez, e deviam ser de linho para que produzissem suor, que representa o que procede da carne no serviço a Deus. Como vemos, tudo isto tem aplicação aos sacerdotes de todo tempo.
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Consagração dos sacerdotes
A consagração dos sacerdotes era um ritual muito solene, que significava apartar uns homens para o serviço exclusivo de Deus. Cada um dos passos deste ritual de consagração tem, igual a todo o Antigo Testamento, uma significação espiritual para os cristãos do Novo.
Primeiro se lavava e vestia os sacerdotes com seus trajes sacerdotais, à porta do tabernáculo; lhes ungia com o azeite da unção, e em seguida se começava com os sacrifícios. Cada um deles tinha um significado muito importante.
O primeiro era o de um bezerro, que era uma oferta pelo pecado (Êx. 29:14b). Ninguém pode aproximar-se para servir a Deus sem ter este problema resolvido. Não se trata aqui dos pecados, como feitos pecaminosos, mas sim do pecado, como a raiz do problema. Quando Cristo morreu, nós fomos favorecidos com o perdão dos pecados, mas também com a eliminação do "eu" pecador. (Rom. 6). Cristo morreu e atraiu a todos para si mesmo para uma morte inclusiva (Jo. 12:32), que solucionaria o problema tanto dos pecados, como do pecado. Esta é a herança de todo sacerdote de Cristo.
Em seguida, oferecia-se um carneiro como "holocausto de aroma suave", uma "oferta queimada a Jeová" (V. 18). Este sacrifício era inteiramente para Deus, para a satisfação de Deus. Isto significa que primeiro somos libertados do problema do pecado, e em seguida somos entregues como holocaustos para inteira satisfação de Deus, para o serviço de Deus.
Em terceiro lugar se oferecia um segundo carneiro, o da consagração propriamente tal. Do sangue deste carneiro se espargiam as vestimentas, e ficava sobre o lóbulo da orelha direita, sobre o polegar da mão direita e do pé direito de cada sacerdote.
Em seguida se tomava parte do animal, e se balançava diante de Deus, junto com dois bolos e um folhado de casca dos pães sem levedura. Tudo isto posteriormente se queimava no altar. Esta era a "oferta queimada" para Deus (V. 25b).
As demais peças do animal eram para os sacerdotes, que comiam delas. Não só o sangue de Cristo (a preciosa Vítima) opera em nosso favor para solucionar o problema do pecado, mas sim sua carne, quer dizer, sua vida mesma, é o alimento de cada crente (Jo. 6:53-56). Igualmente como o sangue do Cordeiro pascal era posto sobre o umbral da porta, mas a carne devia ser comida dentro da casa. (Ex. 12). Assim, todo Cristo, seu sangue e sua carne, são a perfeita provisão de Deus para o crente.
Tudo isto nos fala do valor que cada cristão tem para Deus, pois tem provido de todos os recursos necessários para que ele seja seu sacerdote. O objetivo final não é só salvá-lo, mas sim aproximá-lo de si, para o seu serviço santo.
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O altar do incenso
No capítulo 30 de Êxodo se descreve o altar do incenso. Este altar é distinto do altar de bronze, que estava localizado no átrio. Este é de ouro, e mais pequeno, e está localizado no Lugar Santo.
Sua localização no Lugar Santo não é casual –como nada o é no tabernáculo–. Para ter acesso a ele é preciso ter passado primeiro pelo altar de bronze, quer dizer, pela cruz de Cristo para o perdão dos pecados. O altar do incenso representa o ministério intercessor de Cristo, e, por extensão, de todo sacerdote.
O altar de bronze é para expiação; o de ouro é para intercessão. Estes são dois dos ofícios do Senhor Jesus Cristo, primeiro como Cordeiro e em seguida como Advogado à mão direita de Deus.
O altar do incenso é o altar da oração. Em Apocalipse 8:1-5, podemos ver o valor das orações dos Santos –que se ajuntam às do Senhor Jesus como Sumo Sacerdote–, pois desencadeiam os juízos de Deus sobre a terra. O céu se move no mesmo instante das orações dos Santos sobre a terra.
Todos os crentes estão permanentemente associados com estes dois altares. Com o de bronze, pois devem ir ao sangue da cruz pelo perdão de seus pecados; e o de ouro para desenvolver seu ministério intercessor a favor dos homens e a adoração. (Estes são os dois altares de que fala o salmista em Salmos 84:3). Agora bem, os ofícios realizados neste segundo altar se apóiam no ocorrido no primeiro. Sem sangue não podemos estar diante de Deus para exercer nosso sacerdócio. Nenhuma oração intercessora seria escutada; não é por nossa justiça, mas sim pela justiça de Cristo.
As medidas deste altar, como outras do tabernáculo, corresponde a números médios; o qual significa que Deus espera o homem para que colabore com ele. Deus e o homem fazem a medida completa.
Em Êxodo diz que o altar estava localizado no Lugar Santo; mas em Hebreus 9:4 diz que estava localizado no Lugar Santíssimo. O que significa isto? Simplesmente, que o altar do incenso era introduzido do Lugar Santo ao Lugar Santíssimo. Assim também a oração, começa na alma e passa ao espírito.
Este altar tinha também anéis e varas para transportá-lo, o qual nos indica a progressão de nosso serviço espiritual. Temos que avançar sempre um pouco mais, na direção do Senhor.
Cada dia devia ser oferecido incenso, ao mesmo tempo do serviço das lâmpadas. Mas antes de descrever a composição do incenso, descreve-se o azeite da unção. Estas duas coisas vão juntas, mas primeiro vai o azeite da unção, pois vem de cima. O azeite desce da cabeça de Arão até tocar a orla de suas vestimentas (quer dizer, de Cristo para sua igreja), nos trazendo as riquezas de Cristo, no entanto, o incenso sobe para Deus. Tanto o azeite como o incenso eram Santos, e não podiam ser usados para um fim profano. Estas são as coisas santas nas quais desejam atentar os anjos.
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A pia de bronze
A pia era o segundo objeto no átrio do tabernáculo. Estava entre o altar do holocausto e o Lugar Santo.
A diferença dos outros artefatos e móveis do tabernáculo, é que não se especificam suas dimensões. Só diz que era de bronze, e que os sacerdotes deviam lavar suas mãos e pés nela para que não morressem enquanto realizavam seu serviço no tabernáculo.
Em outro lugar diz que foi feito como espelhos das mulheres de Israel (Êx. 38:8). Isto mostra uma ação maravilhosa de generosidade com as mulheres, e uma renúncia importante. Por outro lado, é interessante que um espelho reflete ao que se olha, mas não pode alterar sua figura. Revela a contaminação, mas não pode tirá-la. Assim é também a lei. Sem a graça, o crente fica na metade do caminho.
A fonte estava cheia de água, para que os sacerdotes lavassem as mãos e os pés quando entravam no Lugar Santo para adorar, quando saíam ao altar para servir. Isto nos fala da obra que faz em nós a Palavra e o Espírito de Deus. É cotidiana e absolutamente necessária.
Havia duas classes de lavagem: Primeiro, a que se fazia para consagrar os sacerdotes. Este lavar se fazia uma vez e para sempre (Em Êx. 29:4, refere-se ao lavar de todo o corpo), e corresponde ao "lavar da regeneração" (Tito 3:5) do Espírito, pelo qual nascemos de novo. O segundo, era o lavar constante, porque diariamente eles se sujavam realizando os ofícios de seu ministério.
Nenhum sacerdote podia ministrar sem lavar-se. Isto é uma verdade aplicável não só àqueles no Antigo Pacto, mas também a todos os sacerdotes de Deus, passados e presente. O pó sujava suas mãos e seus pés; da mesma maneira ocorre com os crentes hoje. Para tal caso, Deus tem provido o lavar da água pela Palavra. "Vós estais limpos pela palavra que lhes tenho falado", disse o Senhor a seus discípulos. (João 15:3). "Cristo amou à igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para santificá-la, havendo-a purificado pelo lavar da água pela palavra" (Ef. 5:25-26).
Os sacerdotes tinham o direito de ministrar ao Senhor porque estavam habilitados pelo sangue do sacrifício, mas para poder exercer esse direito precisavam a água do lavar. O sangue de Cristo nos limpa de nossos pecados, no entanto, a água nos limpa do pó do deserto deste mundo.
O cristão tem que caminhar na luz, julgando seus antigos hábitos, e limpando-se de todas as suas obras e caminhos por meio da Palavra de Deus, se é que quer ter comunhão com Deus. A Palavra é o meio pelo qual o Senhor conserva a seu povo limpo, com uma comunhão fresca, pura.
Do lado do Senhor Jesus Cristo na cruz saiu sangue e água, e que reúnem dois aspectos da salvação de Deus. Sangue para a reconciliação com Deus, e a água para limpeza, comunhão e para ministrar diante de Deus.